O Governo de Cabo Verde prometeu hoje tomar medidas para resolver os problemas dos Transportes Aéreos de Cabo Verde (TACV), com o acumular de dívidas, cancelamentos e atrasos recorrentes nos voos, informou o Sindicato dos Pilotos. Segundo a mesma fonte, a garantia foi dada pelo primeiro-ministro, José Maria Neves, ao Sindicato dos Pilotos da companhia aérea cabo-verdiana, após um encontro a pedido do chefe do Governo.
“O primeiro-ministro mostrou-se preocupado com a situação e afirmou que nos próximos dias irá tomar medidas (…) e deu a sua palavra que fará tudo para que os TACV continuem a trabalhar e tenham capacidade de futuro para dar aos cabo-verdianos melhores condições de viagem e vender o nosso produto da melhor forma”, disse aos jornalistas Ricardo Abreu, porta-voz do Sindicato dos Pilotos dos TACV. O responsável espera que sejam tomadas medidas para que os pilotos continuem a voar, que passam pela “necessidade imediata” de resolver a equação entre o passivo, que atinge os 10 mil milhões de escudos (cerca de 90 milhões de euros) e os capitais próprios da empresa. “Caso contrário, nenhuma empresa sobrevive”, sublinhou o porta-voz, reafirmando que a situação atual da empresa é fruto do acumular dos problemas ao longo dos últimos anos pelos sucessivos conselhos de administração.
Confrontado com as declarações do primeiro-ministro, que, na quinta-feira passada, usou o exemplo dos TACV para pedir uma mudança de atitude e de comportamentos, Ricardo Abreu disse que José Maria Neves afirmou que a notícia foi “fora do contexto” e que pediu desculpas à classe. Ricardo Abreu disse, ainda, que a anunciada privatização dos TACV “poderá” ajudar a resolver os problemas da companhia aérea, mas sublinhou que isso só será possível se o acionista for forte, com boa política de transporte e disponível a investir na companhia de bandeira cabo-verdiana. “Mas se não chegar ninguém, esperamos que haja uma expansão da empresa, para continuar a andar. Isso é problema da responsabilidade do Governo”, finalizou.
O Governo cabo-verdiano pretendia privatizar os TACV até final deste ano, mas a ministra das Finanças, Cristina Duarte, admitiu na semana passada, no parlamento, as dificuldades no processo de venda da companhia. “Não temos conseguido colocar os TACV no mercado”, disse Cristina Duarte, justificando as dificuldades com o “passivo crónico” de uma companhia que é pequena e tem um reduzido número de aviões e de rotas. A ministra disse, ainda, que está em vigor um programa de avaliação da companhia para a privatização, bem como um trabalho de racionalização das rotas e estruturas de custos.
O próprio presidente do conselho de administração dos TACV, João Pereira Silva, em carta aos trabalhadores, admitiu na semana passada as dificuldades e mostrou-se também preocupado com situação financeira da empresa, mas garantiu que está a fazer tudo para a resolver. Já o Movimento para a Democracia (MpD, oposição) responsabiliza o Governo, único acionista, pela “má gestão” e pela “situação caótica” dos TACV, considerando que a solução passa pela privatização da empresa.
Os TACV, com 57 anos de existência, é a única transportadora inter-ilhas e com monopólio na rota Estados Unidos da América-Cabo Verde.