Raul Martins está atualmente ao leme da Associação dos Hotéis de Portugal (AHP). Numa grande entrevista, o responsável revela como foi crescer com o Grupo Altis e qual o plano para a continuação desta expansão. Ao nível associativo, o entrevistado revela o que está a fazer para ganhar dimensão e assume a posição da AHP relativamente à Confederação do Turismo Português.
Este está a ser o melhor ano de sempre para o Altis?
Sim. Os dois melhores anteriores foram anos que tiveram em Portugal dois grandes eventos, a Expo 98 e o Euro 2004. Mas 2016 é sobejamente melhor, por todas as razões, pela faturação e resultados específicos em si, já batemos os valores relativos desses dois anos.
O grupo está agora preparado para investir fora da cidade de Lisboa?
A nossa experiência adquirida ao longo de 43 anos é uma garantia para investidores que pretendam entregar a exploração a uma cadeia com provas dadas.
Hoje em dia, em termos estratégicos, não é a opção de investimento que nos move, mas de exploração de unidades, e unidades onde possamos ter participações com outros investidores em Portugal.
Qual o atual momento do grupo Altis?
Abrimos os últimos três hotéis praticamente no mesmo período, 2009/2010 ainda para mais no início da recente crise. Houve que saber gerir esse esforço.
Já iniciámos a ampliação do Altis Avenida, as obras terminam em Julho do próximo ano, e ficará com mais 48 quartos. Estamos a estudar em Lisboa outras oportunidades, mas de gestão, ligadas a investidores que precisam de gestão hoteleira . Esta situação também se passa no Porto e no Algarve. A nossa opção hoje é crescer, com a experiência que temos, com outros investidores.
O que espera do grupo daqui a 10 anos?
Espero vê-lo com mais hotéis em Portugal e também fora de Portugal. Temos agora a casa arrumada, passámos esta crise financeira, que nos trouxe problemas, mas estão resolvidos . Daqui para a frente estamos preparados para assumir novos desafios, seja em Portugal ou no estrangeiro.
Qual deve ser o papel da AHP e como pode esta ganhar ainda mais dimensão?
No plano de ação que esta direção está a seguir é do interesse da AHP aumentar a nossa presença em todas as regiões. Quer queiramos quer não uma associação hoteleira de âmbito nacional, mesmo sem querer, poderá ter a vicissitude de se concentrar mais nos problemas da capital. Criei então um representante regional para cada região. O Conselho Geral da AHP tem um representante regional de cada região, que trazem os seus problemas, que têm passado por intervenções nossas, desde as questões relacionadas com a exploração do petróleo do Algarve ou a taxa turística de Vila Real para fazer um pavilhão gimnodesportivo, entre outras. Esta descentralização também é verificável nos congressos anuais, assim como nos almoços mensais que realizamos. Em outubro será na região centro, em fevereiro no Algarve, havemos de ir, neste mandato de três anos, a todas as regiões, estando mais perto da hotelaria dessas regiões.
A AHP, nas últimas eleições da CTP, com outra direção, gostava de ter assumido a presidência da Confederação. Como olha para esta questão? O presidente da CTP deve ser um empresário ou essa é uma questão menor?
O presidente da CTP deve ser um empresário. A estrutura de governação da CTP permite governar sendo o presidente um empresário, tendo uma comissão executiva e um CEO que seja de facto o operacional, a tempo inteiro, que organize com os associados os necessários estudos e intervenções de modo a defender os interesses do setor do turismo. , para que o presidente da CTP seja um chairman com o seu exemplo, tendo uma real visão da atividade. A própria estrutura dos órgãos sociais da CTP permite esse modo de governação. A AHP hoje em dia funciona deste modo, tem um conselho geral onde estão representados diferentes grupos hoteleiros e depois uma direção executiva que tem uma presidente e elementos que estão no terreno. Mas de facto o Conselho Geral é como um Conselho de Administração de uma empresa, assim como a direção executiva.
A AHP vai propor alteração de estatutos à CTP?
A este nível a CTP tem os estatutos de governação adequados. Aquilo que estamos a propor à CTP em termos de alteração de estatutos é a alteração do número de votos de cada associação. Não entendemos que uma Associação de âmbito nacional tenha o mesmo número de votos que uma de âmbito regional. Assim como não entendemos que haja associações que não são hoteleiras, mas sim de outro caráter, comercial ou industrial, que tenham o mesmo número de votos que uma associação regional. Isto é fruto de estatutos demasiado antiquados. Também não entendemos que grandes grupos nacionais, como acontece na hotelaria, tenham menos votos do que uma associação de profissionais. É nesse sentido que entendemos que essas valências devem ser revistas.
Quais as vossas preocupações ao nível legislativo…
A AHP, com o apoio do Turismo de Portugal, encomendou, à Universidade Nova um estudo sobre o alojamento local para se medir e conhecer o fenómeno afim de se poder propor as melhores soluções, para se perceber o que deve ser regulado neste contexto, e como deve ser. Já demos também à Secretaria de Estado do Turismo a nossa visão, mas queremos fundamentá-la. Para nós, a par das virtudes que o Alojamento Local introduz na economia turística e na reabilitação urbana, há um excesso de liberalização na sua prática, confusão entre conceitos e tipos de AL e pouca regulação desta atividade que se volta contra o turismo e pode prejudicar o turista.
Temos a parte da legislação relativa às taxas de atravessamento do subsolo, que varia ao longo do território nacional e que pretendemos uniformizar visto que não só penalizam muito a atividade hoteleira, como introduzem fatores de distorção negativos para o próprio desenvolvimento regional.
Temos condições para termos mais cadeias num processo de internacionalização.
Ao nível da legislação hoteleira, há aspetos relacionados com a regulamentação que precisam de ser concretizados, a própria pontuação que dá acesso à obtenção das estrelas, em que entendemos que há revisões a fazer. Estamos sempre a acompanhar junto à Secretaria de Estado do Turismo essa situação.
Quais os desafios futuros que se colocam aos hoteleiros nacionais?
Há algumas cadeias nacionais que são internacionais com alguma relevância. Portugal, da forma como atua face aos turistas, tem de facto uma capacidade e experiência que lhe permitem levar essa situação a outras partes do mundo. Podemos replicar a nossa forma de bem servir e receber em cadeias em qualquer parte do mundo. Temos condições para termos mais cadeias num processo de internacionalização.
Esta é a 1ª Parte da Grande Entrevista da Edição Nº 294 da Ambitur.