2020 deverá fechar com 3,6 mil milhões de receita perdida na hotelaria

A AHP – Associação da Hotelaria de Portugal apresentou hoje, na sede do Turismo de Portugal, os resultados da Fase IV do Inquérito sobre o “Impacto da Covid-19 na Hotelaria” e estima que, no pior dos cenários e também como já apontado pelo presidente da associação, Raul Martins, o setor deverá fechar o ano com perdas de receita na ordem dos 3,6 mil milhões de euros. Já as dormidas perdidas serão à volta de 40,6 mil milhões, menos 70% do que em 2019. 

Uma primeira projeção da AHP, na presente fase do inquérito realizada entre 21 de setembro e 15 de outubro, aponta para 51,84% de hotéis fechados em junho e para uma descida até 24,65% unidades encerradas em setembro, fruto da abertura de alguns corredores aéreos.

Balanço verão 2020

Já o balanço do verão, entre junho e setembro, revela que no mês mais ‘forte’ de agosto o Alentejo foi a região com maior taxa de ocupação (71%). Em seguida o Algarve (63%), uma queda acentuada na Área Metropolitana de Lisboa a registar 25% e as regiões autónomas da Madeira (28%) e Açores (27%) também com níveis bastante inferiores aos registados o ano passado. No verão de 2019 importa referir que Lisboa chegava a valores na ordem dos 90% de ocupação e a Madeira, por exemplo, aos 80%. Já o preço médio ficou cerca de 25% abaixo do praticado em 2019, no entanto, a presidente executiva da AHP, Cristina Siza Vieira, afirma que “não tivemos saldos” e que os preços “não baixaram tanto como o esperado”, fixando-se nos 123€ no Alentejo acima do valor de 2019.

Quanto aos mercados emissores, 100% dos inquiridos apontam o mercado interno como um dos três principais mercados deste verão. Segue-se Espanha, França e Alemanha, com a ‘novidade’ do Reino Unido não constar no Top 3 de mercados para o Algarve e manter apenas expressão para a Madeira.

Outono 2020

Entre outubro e dezembro, as reservas distribuem-se de forma muito pouco expressiva pelos meses de outono: nos três meses, variam entre os 7% e os 33%. O Norte é a região com mais reservas, 26% em outubro, 20% em novembro e 21% em dezembro. Já o Algarve regista 24% em outubro, 13% em novembro e apenas 9% em dezembro. Lisboa face à queda dos congressos e eventos (ex. Web Summit) regista apenas 7% de reservas para dezembro (15% em outubro e 10% em novembro), assim como os Açores. O Alentejo conta com 12% de reservas para o último mês do ano.

Outro dado curioso é a percentagem total de 78% de reservas ‘refundable(no Alentejo tal valor desce para 60%), ou seja, reembolsáveis. Tal representa, para Cristina Siza Vieira, uma “mudança muito grande de paradigma” assim como uma “tendência para ficar” que, em última instância, “não é dinheiro na caixa”. Também nesta altura do ano, os principais mercados emissores são o mercado nacional, o espanhol, alemão e o francês.

Impacto da Covid-19 na Hotelaria

De um modo geral, as principais condicionantes consideradas pelos hoteleiros à atividade são neste momento o tráfego aéreo (95%), o medo de viajar (85%), a não retoma do segmento MICE (30%) e a não continuidade do lay off simplificado (20%), entre outras menos expressivas.

85,7% dos hoteleiros acham “suficientes” as medidas da Direção-Geral de Saúde (DGS) e 97,9% admitem ser necessárias medidas extraordinárias de apoio ao Turismo por parte do Governo, nomeadamente, o lay off simplificado (48%), novas linhas de apoio (36%) e fundo perdido etc. Em suma, medidas de apoio direto à tesouraria e emprego. O grosso dos hotéis recorreu ao Apoio Extraordinário à Retoma Progressiva, com 32,1% deles a registar uma quebra de faturação acima dos 75%. Questionados sobre a redução de trabalhadores, e tendo em conta que as empresas que aderiram ao lay off não puderam despedir, 11,62% dos hoteleiros reduziu mais de 51% a sua equipa e 23,24% reduziram-na entre 11% a 20%. Nos próximos meses, 51% dos inquiridos não pensam reduzir pessoal, contudo 45% pondera tal medida.

60% dos inquiridos têm uma confiança muito reduzida na normalização do turismo internacional este ano, com 27,11% a apontar que Portugal só retome os níveis de turismo de 2019 no 2.º semestre de 2023. 6% até considera que tal poderá só vir a acontecer em 2024.

Finalmente, o ano passado o país registou 70 milhões de dormidas das quais 58 milhões em hotelaria, o que representou 18.437 milhões de euros. Já o peso da hotelaria foi 24% (4,48 mil milhões de euros). Para 2020, os cenários apontados pela AHP são os seguintes:

Para as dormidas…

  • Cenário A – menos 60% – 34,8 milhões de dormidas perdidas;
  • Cenário B (o mais realista) – menos 70% – 40,6 milhões de dormidas perdidas;
  • Cenário C – menos 80% – 46,4 milhões de dormidas perdidas.

Para as receitas… 

  • Cenário A – menos 70% – 3,2 mil milhões de receita perdida;
  • Cenário B (mais realista) – menos 80% – 3,6 mil milhões de receita perdida.