“2020 está perdido. 2021 será a retoma. 2022 será um ano extraordinário”

“Turismo Inteligente: e depois da pandemia?” foi o tema do Smart Portugal Webinar, promovido pela NOVA Cidade – Urban Analytics Lab. Para debater o estado do turismo em Portugal e a capacidade do setor em utilizar novas tecnologias no processo de recuperação foram convidados Francisco Calheiros, presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP); Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal; e Nuno Ribeiro, presidente executivo da Ubiwhere.

O presidente da CTP começou por classificar os desafios pós-pandemia a curto, médio e longo prazo. “Não fazer grandes prognósticos” é a teoria deste responsável que acredita numa tese: “Vamos viver um dia de cada vez, vamos sobreviver um dia de cada vez, mas sem nunca perder o nosso rumo”.

No curto prazo, Francisco Calheiros colocou como desafios a saúde pública, a manutenção dos postos de trabalho e a viabilização das empresas, além da definição de medidas para a retoma económica. O responsável focou-se, então, na questão do lay-off e no facto deste regime ter sofrido cinco alterações, mas a esperança, agora, é que “seja pago integralmente até ao fim de abril”, lembrando que já “temos um milhão de trabalhadores” neste regime. “Foi uma medida extremamente importante para o turismo e para toda a economia”, precisa. Já sobre as linhas de Linhas de Crédito, o responsável diz que foram definidas, desde o início, linhas específicas para o turismo no valor de 1,7 mil milhões de euros: “900 milhões para o turismo em geral e hotelaria; 600 milhões para a restauração; e 200 milhões para agências de viagens e animação turística”. Defendendo como fundamental “desburocratizar as medidas” de apoio, o presidente da CTP chamou a atenção para o facto de que “não se tem conseguido dar vazão a todos os pedidos que têm entrado”, até porque o tecido empresarial é formado por pequenas empresas e, neste momento, “para uma medida destas, são precisos 17 documentos”. Quanto à linha dos 60 milhões de euros disponibilizados pelo Turismo de Portugal às micro e pequenas empresas, Francisco Calheiros considera-a uma “linha muito simples” que tem levado muitos associados a pedir para que as linhas dos bancos passem para o Turismo de Portugal. “O desafio está feito: a mim compete-me que os 1,7 mil milhões saiam da banca e vão para o Turismo de Portugal”, diz o presidente, saudando esta entidade pela eficácia e rapidez em responder a todo o tecido empresarial.

No médio prazo, Calheiros refere que as medidas para a retoma e início de atividade devem assentar nos critérios de “calma, segurança e criatividade”. A realidade é que, quando a atividade começar a abrir, “vamos ter mais infetados”, garantindo, no entanto, que “estamos dentro daquilo que é o índice tolerável”, refere. A segurança é outro critério fundamental: “É um ativo de curto, médio e longo prazo”, afirma o responsável, destacando que Portugal já é um dos destinos mais seguros do mundo, mas que agora urge ser um “destino extremamente responsável e seguro do ponto de vista sanitário”. Este critério vai ser importante na retoma em que a palavra-chave será confiança: “Temos que incutir em todos e mesmo em nós próprios”. Ainda no médio prazo, o responsável atenta que uma das apostas deve incidir no mercado interno alargado, ou seja, Portugal e Espanha. “É uma grande oportunidade para o nosso mercado interno e para podermos dinamizar o nosso destino: Portugal”, afirma.

No longo prazo, Calheiros é sucinto: “2020 está perdido. 2021 será a retoma. 2022 será um ano extraordinário”. Os dados indicam que, sem a pandemia, o ano 2020 voltaria a ser o “melhor ano de sempre”, diz o responsável, ressaltando que “não há razão nenhuma para que, em 2022, isso não aconteça”. No entanto, o presidente da CTP atenta que “manter a oferta” é fulcral para que seja possível “satisfazer a procura”. Já outras questões como o aeroporto do Montijo, não devem ser esquecidas: “Não é tema, mas iria entupir este ano e tem que voltar a ser uma nova realidade”. Além disso, a “promoção online” é outra questão que vai assumir uma grande relevância no setor até porque o online “coloca-nos em todo o lado”, refere.

Públicos e privados têm de estar na “linha da frente” quando for dado o “tiro de partida”
Já Luís Araújo destacou que o Turismo de Portugal centrou o seu foco prioritário nos “colaboradores e nas empresas”, conseguindo “trazer o máximo de oxigénio” para estas estruturas; nos turistas, que estavam, no início da pandemia, ainda dentro do país, havendo “necessidade de lhes transmitir confiança e informação”; e, por fim, nos cidadãos portugueses, no sentido de mostrar que o “turismo é um movimento por todos”.

A criação da linha de microcrédito é motivo de orgulho para o presidente do Turismo de Portugal: “Foi uma aprendizagem. Montar uma linha operacional que analisa candidaturas, que faz contratos e que distribui dinheiro em menos de uma semana foi um desafio grande, mas conseguido”. Existe a garantia de que o Turismo de Portugal já está a trabalhar para o futuro, com todos os seus desafios e preocupações mas, por enquanto, a mensagem que Luís Araújo quer transmitir é de que a pandemia não afetou nenhum recurso em Portugal e as competências mantêm-se. “É preciso a reconstrução rápida de confiança”, declara o dirigente. Para tal, é fundamental que públicos e privados estejam na “linha da frente” quando for dado o “tiro de partida”. Depois, “temos que estar com o motor a funcionar”, ou seja, “ter a ideia, o foco e a noção de para onde é que vamos”, refere.

No entanto, apesar da garantia de que não foram afetados recursos, Luís Araújo considera a conectividade aérea como uma das áreas com prioridade máxima: “Temos que saber como estão as companhias aéreas, quais são as perspetivas que têm de levantar voo, em que moldes e para que destinos”. Nesta temática, o Turismo de Portugal, acredita que há “oportunidades” e que estão a trabalhar, em conjunto com as regiões e a ANA Aeroportos, formas de “aumentar a conectividade nos aeroportos”, considerando ser uma questão fundamental no pós-Covid-19. O VIP.pt é um exemplo dos programas que pode contribuir para esta questão.

Os mercados fazem, igualmente, parte das prioridades do Turismo de Portugal. Para Luís Araújo, não restam dúvidas de que o mercado interno será dos primeiros a reagir e aqui há uma oportunidade clara: “Só no verão, o mercado interno é responsável em Portugal por 35% das dormidas”, destaca o responsável, acreditando que, “se conseguimos estimular este mercado, vamos conseguir recuperar mais depressa”. Também Espanha é um mercado importante embora condicionado à “questão do levantamento das fronteiras”, diz. Para Luís Araújo, o “long haul” será um mercado que vai demorar e as questões relacionam-se com a velocidade do controle da pandemia. Dentro da Europa, Reino Unido, Alemanha e França serão os mercados que “vamos tentar estimular de uma maneira mais clara”, acrescenta.

Partilhando da mesma visão de Francisco Calheiros, o presidente do Turismo de Portugal é perentório ao afirmar que a confiança é fundamental: “Portugal está a marcar pontos” neste aspeto. No relatório lançado pela OCDE sobre as medidas mais tecnologicamente avançadas e inovadoras no combate à pandemia, “17 são portuguesas” e aqui, denota-se “manifestação e de confiança muito positiva”. O facto de Portugal estar a conseguir controlar a pandemia é um “fator que pode gerar confiança”, realça.

Novos pontos de interesse têm de ser trabalhados
Por seu turno, Nuno Ribeiro, presidente executivo da Ubiwhere, olha para o futuro do setor, havendo uma “desconcentração” dos turistas e a criação de “novos pontos de interesse, algo que tem de ser trabalhado”. O responsável considera ser necessário “recompensar os turistas por não irem aos pontos (de interesse) mais conhecidos”, dando a conhecer outros, ao mesmo tempo que se ajuda o comércio local.

A organização de eventos, no pós-pandemia, também será diferente, havendo a aplicação de “ferramentas e tecnologias de planeamento de medidas de segurança”. A própria planificação “ao longo do ano” também vai mudar: “Os municípios e stakeholders têm que pensar” e “ser proativos”. Já na hotelaria, Nuno Ribeiro deixa o repto para que o setor adote o “check-in” automático, evitando filas para aceder aos quartos. Além disso, sugere a implementação de “assistentes virtuais para ajudar a melhorar a interação e a experiência do visitante” em “apps de promoção do destino, por exemplo”, remata.