No ano em que a Ambitur comemora o seu 32º aniversário, e quando as empresas do setor do turismo conseguiram finalmente “respirar” depois das ondas negras que a pandemia trouxe a nível global, quisemos ouvir os Conselheiros Ambitur, assim como a secretária de Estado do Turismo e o presidente do Turismo de Portugal, sobre o que nos pode esperar nos próximos tempos. Que desafios se levantam na próxima década e que resultados deve o turismo ambicionar, quais os grandes objetivos e estratégias a ter em mente e que temas estruturais importa resolver? Foi a estas questões que procuraram responder. O horizonte não se assemelha tão risonho como as empresas turísticas ou os organismos que tutelam o setor gostariam e muitos são os fatores que provocam incerteza e dúvidas sobre o futuro. Como perspetivam então este novo turismo que temos pela frente? Deixamos aqui hoje a visão de Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal.
Portugal é um destino turístico de excelência, reconhecido internacionalmente, e cujos intervenientes têm feito um trabalho incansável de desenvolvimento, inovação e renovação. Sendo o turismo uma atividade económica transversal, que movimenta inúmeras áreas, impõe-se o foco na coesão territorial, na sustentabilidade e na promoção da atividade nas regiões de baixa densidade populacional. Este é o caminho a trilhar para conseguirmos ter turismo todo o ano, em todo o território.
Uma das vias para enfrentar este desafio é trabalhar a promoção do destino baseando-nos naquilo que de mais autêntico e único a cultura portuguesa oferece. Há que trabalhar na qualificação e na diversificação de oferta: enoturismo, turismo literário, turismo militar, curadoria de experiências artesanais e culturais, são projetos inovadores que divulgam facetas desconhecidas e únicas da cultura nacional. Neste momento, em que há uma apetência generalizada por experiências marcantes, transformadoras, de imersão em culturas e tradições apelativas, sabemos que temos de nos diferenciar dando a conhecer aquilo que de mais autêntico há em Portugal.
Mas sabemos também que o caminho da sustentabilidade não pode ser feito de forma solitária. Como membro das Nações Unidas, temos como enquadramento a persecução dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) e promovemos a sua incorporação em todos os projetos que nos encarregamos de operacionalizar. Neste esforço conjunto a nível internacional, Portugal tem de fazer a sua parte e o Turismo de Portugal tem o objetivo maior de contribuir para um turismo mais responsável, mais resiliente e mais eficiente.
A aposta nas Pessoas e no Talento é uma das prioridades da Estratégia Turismo 2027 que define um conjunto de ações com vista a aumentar os níveis de qualificação no turismo, duplicando o nível de habilitações do ensino secundário e pós-secundário para 60% até 2027. A Formação continua a ser um dos pilares da atuação do Turismo de Portugal que, com a sua rede de 12 Escolas que forma cerca de 3.000 alunos por ano pretende, assim, contribuir para a competitividade e qualidade do serviço prestado pelas empresas e agentes do setor.
O turismo é uma área profissional com futuro, com perspetivas de carreira, com um potencial de desenvolvimento pessoal e profissional únicos. Neste sentido, e concretizando uma das nossas missões mais relevantes – a de criar sinergias colaborativas entre todos os operadores de formação em turismo – estamos a desenvolver um conjunto de projetos colaborativos com outras entidades públicas que trabalham a formação em turismo para que, de forma mais articulada, possamos todos disponibilizar mais cursos e mais formação especializada incrementando, de forma significativa, o número de pessoas a estudar e a fazer formação em turismo.
Paralelamente, estamos a trabalhar em projetos de valorização das profissões do turismo, em cooperação com as entidades de formação, com as associações do setor, e com as empresas, evidenciando o valor social e económico das profissões do turismo.
Os grandes objetivos do turismo
O turismo alavanca o desenvolvimento económico e social português. Mais do que uma âncora da economia nacional, o turismo pode ser o exemplo de atividade económica que promove o desenvolvimento sustentável.
De acordo com aquilo que foi preconizado na Estratégia Turismo 2027, referencial estratégico que ainda nos orienta, a par do plano governamental Reativar o Turismo| Construir o Futuro, o setor do turismo deve ter como grande objetivo continuar a crescer, mas tendo em vista outros indicadores que garantam a sustentabilidade da atividade e a preservação do território nacional.
Há que crescer em valor sem comprometer o ambiente, a natureza e o futuro das pessoas, dando um claro contributo ao combate à desertificação do território. Face ao seu enorme potencial económico, o turismo deve assumir o papel de hub para o desenvolvimento económico, social e ambiental em todo o território, promovendo a sua atividade durante todo o ano e criando as condições necessárias para que os turistas queiram permanecer mais tempo, conheçam mais o território e tenham experiências que os façam regressar, não só para visitar como para viver, estudar, investir e criar empresas.
O que ambicionar a 10 anos?
Portugal ocupa um lugar cimeiro entre os destinos mundiais e nem a pandemia conseguiu abalar a perceção positiva do Destino Portugal nos mercados externos. Podemos e devemos continuar a ser ambiciosos: há que liderar o Turismo do Futuro, apostando na sustentabilidade.
Com esse contexto, o Turismo de Portugal tem procurado abrir caminho para os empresários e empreendedores portugueses através do lançamento de diversas iniciativas como é o caso do Plano Turismo + Sustentável 20-23, um plano ambicioso e largamente consensualizado entre parceiros públicos e privados (foi alvo de consulta pública e contou com mais de 100 contributos) para promover a sustentabilidade do turismo nacional.
O conjunto de iniciativas abrangidas pelo Plano (119!) contribui para promover uma oferta cada vez mais distintiva e para acelerar o crescimento sustentável das empresas turísticas. Embora o Plano tenha o seu horizonte temporal em 2023, tal apenas significa que nessa data as 119 ações já divulgadas deverão estar implementadas. No entanto, o desafio da sustentabilidade continuará a ser uma prioridade para o futuro no turismo. Assim, 2023 não será um fim em si, mas sim uma meta a partir da qual se continuará a trabalhar, recebendo novos contributos visando novas ações a serem desenvolver nos anos seguintes.
A gestão e monitorização das ações a concretizar ao longo do período 20-23 permitirá também proceder a uma necessária reavaliação na perspetiva de garantir a sua continuidade a partir de 2024. Será certamente uma segunda fase do desafio de tornar Portugal um destino turístico cada vez mais sustentável no âmbito das metas previstas na Estratégia Turismo 2027, e em alinhamento com os Objetivos do Desenvolvimento Sustentável das Nações Unidas.
Qual a estratégia?
A sustentabilidade é um denominador comum nas estratégias de desenvolvimento das diversas áreas de atividade económica, será primordial que todos os intervenientes na economia nacional – sejam públicos ou privados – possam interiorizar, assumir e implementar processos e práticas conducentes a uma gestão e a um desenvolvimento do turismo comprometido com os ODS. Os 17 Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas que são um framework de desenvolvimento económico sustentável, estruturados em torno de 5 Princípios: Planeta, Pessoas, Prosperidade, Paz e Parcerias.
O Turismo de Portugal tem este propósito maior sempre presente no desenvolvimento das iniciativas de dinamização do setor. Cremos que a Sustentabilidade, a par das Pessoas e da Inovação, são os eixos de uma atuação concertada que garanta o desenvolvimento da atividade turística nacional de forma responsável e consolide o papel de Portugal enquanto líder do turismo do futuro.
Temos aliás desenvolvido inúmeros projetos nesse sentido. A título de exemplo, destaque-se o Programa Empresas Turismo 360º que pretende acelerar o processo de incorporação dos indicadores ESG (Environmental, Social and Corporate Governance) nas empresas, desafiando-as a, ativamente, reequacionarem as suas práticas ambientais, sociais e de governança. O programa aposta no desenvolvimento de ações que incluem a capacitação das empresas do turismo para a incorporação dos indicadores ESG nos respetivos processos de gestão, a disponibilização de instrumentos de monitorização, de modelos de relatórios de sustentabilidade e inclui a promoção do reconhecimento público das organizações.
Há cinco áreas cruciais para o desenvolvimento sustentado e responsável do setor:
- Energia – definir políticas e apoiar projetos que promovam a transição e a autossuficiência energética, assim como a utilização de energias renováveis
- Água – estimular o investimento e a adoção de práticas na poupança de um bem cada vez mais escasso
- Inovação – incorporar ciência e inovação em todos os processos e níveis relacionados com o turismo, como forma de responder aos desafios e aos problemas que enfrentamos
- Conectividade – promover políticas e estimular práticas de trabalho em rede que permitam ganhos substantivos de valor por parte de todos os agentes da atividade turística.
- Diversidade – promover a diversidade e a inclusão é basilar para a sustentabilidade do setor
O Turismo é uma força para o bem. Criador de riqueza em todo o país (as regiões menos conhecidas são as que estão a crescer mais), tem uma multiplicidade de efeitos positivos indiretos noutras indústrias, contribuindo de forma expressiva para a imagem de Portugal. Além disso, tem a enorme vantagem de que pode ser exercido por qualquer pessoa, tendo uma das maiores taxas de empreendedorismo em Portugal.
É um setor que assume rapidamente a inovação não só de produto e serviço, mas também tecnológica. O Turismo é um setor transparente, em permanente contacto com o consumidor e com a sociedade, que vive do território e da sua autenticidade. Temos evoluído muito na preservação do ambiente, na valorização do que é nosso e no distribuir ainda mais pela sociedade.
Mas há ainda um caminho a percorrer em temas como a paridade de género, a cooperação entre empresas, o trabalho em rede, a redução do desperdício, a valorização do trabalho e tantos outros. Por isso este trabalho de chegar a todas as empresas, a todos os colaboradores, a todos os turistas.
Apelar à responsabilidade de todos e mudar a atitude de como vemos o turismo e de como o praticamos para termos um Turismo ainda melhor. Porque só assim teremos um planeta melhor.