“A AHRESP sempre assumiu um papel interventivo no dia-a-dia das empresas”

A Ambitur entrevistou o Comendador Mário Pereira Gonçalves, presidente da direção da AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, num trabalho especial em que fazemos uma homenagem ao percurso deste profissional, e ouvimos ainda alguns empresários do setor turístico que fizeram questão de também eles lhe prestarem homenagem. Esta é a entrevista que foi publicada na edição 314 da Ambitur.

Distinção de Comendador atribuída pelo Presidente da República, Jorge Sampaio, em 2000

Quais os momentos mais desafiantes à frente da AHRESP?
Os desafios que eu e as equipas com quem tenho trabalhado ao longo destes 40 anos têm sido muitos e quase diários. É difícil escolher os mais marcantes, mas ainda assim gostaria de destacar dois momentos que representam marcos na história desta associação e ao qual me sinto orgulhosamente ligado. Um mais antigo, que tem a ver com a criação do Centro de Formação Profissional para o Setor Alimentar, em 1984. Foi uma grande luta da AHRESP, num período em que era essencial criar uma estrutura que respondesse às necessidades de formação, qualificação e dignificação das profissões do setor da restauração. Não posso deixar de frisar que a formação e qualificação continuam, mais de 30 anos depois, no topo das nossas prioridades porque são uma vertente fundamental para o desenvolvimento da nossa atividade e do Turismo português.

O outro momento marcante que destaco é o da reposição da taxa do IVA nos 13% nos serviços de alimentação em 2016. Esta foi também uma grande vitória do nosso setor, que nos conduziu à recapitalização das empresas e à criação de emprego, sustendo o encerramento dos milhares de empresas e a extinção dos muitos milhares de postos de trabalho, ocorridos entre janeiro de 2012 e junho de 2016.

Como vê o futuro da AHRESP?

O Comendador com Fernando Santos

A AHRESP – Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, Instituição de Utilidade Pública, conta já com 121 anos de existência e experiência, e sempre assumiu um papel interventivo no dia-a-dia das empresas. E é assim que nos queremos manter.

A AHRESP continuará a assumir um papel fundamental no que respeita à representatividade de setores que hoje são os grandes motores da economia nacional, em especial o Canal HORECA que, no total da atividade turística, representa 71,6% do total das empresas, 78,3% dos postos de trabalho e 55,9% do volume de negócios. Mas estes números não refletem a realidade em toda a sua plenitude. Os setores do Alojamento e da Alimentação e Bebidas assumem hoje também uma importante dimensão social, quando pensamos no número de famílias que deles dependem. Serão mais de um milhão de cidadãos, o que corresponderá a cerca de 10% de toda a população portuguesa.

Posta esta realidade, a AHRESP continuará a trabalhar no reforço das suas atividades, defendendo e apoiando as empresas nacionais que atuam nestas áreas económicas e reforçando o seu posicionamento no associativismo empresarial moderno.

Porque é que a restauração é vital para o sucesso do setor turístico?
A elevada taxa de empregabilidade da restauração, como já foi referido anteriormente, demonstra por si só a importância desta atividade para o Turismo e para a economia nacional. Contudo, não podemos deixar de destacar o turismo gastronómico, que assume um papel cada vez mais relevante na experiência de quem nos visita. Há, inclusive, diversos estudos que demonstram que a gastronomia e os vinhos são um dos aspetos mais valorizados pelos turistas. A verdade é que os nossos estabelecimentos de restauração têm sabido adaptar-se muitíssimo bem às novas exigências da procura com uma oferta de grande qualidade e, sobretudo, autenticidade.

Na BTL 2018, com o Primeiro Ministro, Ministro da Economia, Secretária de Estado do Turismo e presidente da Câmara Municipal de Lisboa

Qual deve ser o papel associativo no contexto económico do país?
É através de associações com uma postura de compromisso com os seus associados que é possível contribuir para o crescimento da economia nacional. A AHRESP assume um papel fundamental quer enquanto associação de empregadores (que negoceia contratos coletivos de trabalho e que intervém ativamente na elaboração e alteração da legislação), quer enquanto associação setorial com diversas intervenções junto das entidades nacionais e internacionais, nas mais diversas áreas, de formação, organização de seminários, elaboração de programas de qualificação, entre outros.

Quais as prioridades da AHRESP hoje?
Em abril deste ano, a AHRESP elegeu novos órgãos sociais, para o triénio 2018/2021, e foram definidos três eixos estratégicos, nomeadamente: território, gastronomia e pessoas.

No que respeita ao Território: cada região comporta interesses e necessidades, díspares entre si. Os problemas do litoral não são os mesmos com que se deparam as empresas do interior. Temos de ajustar o nosso apoio às exigências de cada território. Neste sentido, a AHRESP irá prever representação em cada distrito, além das 13 delegações e balcões únicos empresariais já existentes.

No eixo da Gastronomia, a AHRESP irá continuar a apostar na promoção do que de melhor se faz em Portugal. Exemplo desse trabalho é a implementação do Programa “Taste Portugal” que tem vindo a criar uma Rede de Restaurantes Portugueses no Mundo, bem como o Programa Seleção Gastronomia e Vinhos que tem vindo a ser implementado em território nacional com o objetivo de afirmar o nosso Património Gastronómico como produto turístico das regiões.

Na vertente das Pessoas, a AHRESP irá levar a cabo um plano de ação de âmbito nacional para fomento do emprego no setor do Alojamento e da Restauração e Bebidas, e para o aumento das competências e valorização de todas as suas profissões, sem exceção.

Ao nível do país e da atividade económica do turismo, quais os assuntos prioritários?
Desde logo, as questões relacionadas com as relações laborais, em concreto com a legislação laboral e que lutamos sempre para garantir que esta não constitua um entrave ao progresso das nossas atividades económicas, com provas dadas da sua extrema capacidade em criar riqueza e manter postos de trabalho, como nenhuma outra. Estas são atividades que comportam muitas especificidades e em que todos sairíamos a ganhar ao dar resposta às necessidades do setor.

E nesta matéria, a AHRESP dá cartas, ao assumir-se como parceiro socialmente responsável. É na negociação e na contratação coletiva que reside uma das principais e mais nobres missões da nossa Associação, com a consciência de que este é um instrumento essencial para as atividades do Turismo.

Por outro lado, é necessário que se reflita sobre a quantidade de encargos a que estão sujeitas as empresas. Estamos também especialmente atentos à política fiscal. Continuaremos a exigir o cumprimento das obrigações fiscais, combatendo a economia paralela e a concorrência desleal.

Outros dos temas prioritários é a solução para o Aeroporto de Lisboa, que tarda em chegar e que todo o setor continua à espera que surja uma decisão urgente.

Os desafios continuam assim a ser muitos e transversais a todo o nosso tecido empresarial. Desde as micro e PME’s, que constituem 99,9% do total, até às grandes empresas. Sem dúvida, cada uma com as suas particularidades, e necessidades, mas iguais na sua importância e contributo para a economia nacional, como iguais que são no que toca à importância e atenção com que são tratadas no seio da nossa Instituição.

QUEM É?
Mário Pereira Gonçalves nasceu a 6 de agosto de 1939, na aldeia de Porto Castanheiro, concelho de Arganil. O primeiro trabalho foi nos serviços florestais deste concelho, como aguadeiro. E, por volta dos 13/14 anos, veio trabalhar para Lisboa, onde esteve num lugar de frutas durante dois anos. Tinha 18 anos quando foi trabalhar para a Pastelaria Estrela da Manhã e aos 23 iniciou o seu percurso de empresário no Brasil Bar, na Avenida de Roma.

Abriu a Pastelaria Namur, na Avenida Defensor de Chaves, em 1964 e, dois anos depois, a Pastelaria Fóia, no Campo de Santana, seguindo-se a Pastelaria Sol Parque, na Rua da Artilharia 1, e as Estrelas Brilhantes, em Campo de Ourique. Após este período, instalou-se na Pastelaria O Dino, no Conde Redondo, seguindo-se a Pastelaria Bijou, e a Pastelaria Sequeira e Versailles, que ainda hoje mantém.

Este é, em resumo, o percurso do atual Comendador Mário Pereira Gonçalves, distinção que lhe foi atribuída pelo Presidente Jorge Sampaio em 2000. Sendo ainda membro de vários órgãos e instituições, é hoje o presidente da direção da AHRESP desde 1983.

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