“A AHRESP também se reinventou e desenvolveu serviços inovadores que podem contribuir para uma retoma mais rápida e sustentada”

A Ambitur retoma a conversa com as associações nacionais ligadas ao setor do turismo para conhecer melhor o trabalho que estas têm feito durante a pandemia da Covid-19.

Ana Jacinto, secretária geral da Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal (AHRESP), dá conta do período complicado que os estabelecimentos de restauração de alojamento turístico que se encontram a funcionar estão a viver. “As empresas pouco ou nada recuperaram e estão a atravessar momentos extremamente difíceis e complicados, uma vez que a procura, e logo o consumo, está longe do verificado na fase pré-pandemia, sendo que se mantêm muitos dos encargos e compromissos que impendem sobre as empresas”, refere ao Ambitur.pt. A dirigente associativa reconhece que os prejuízos se têm vindo a acumular e não foram “minimamente compensados”.

Ana Jacinto recorda ainda que há atividades, como a restauração e o campismo, que ainda funcionam com restrições quanto à capacidade, por exemplo, estando reduzidas a metade. E outras como a animação noturna cujos estabelecimentos vão já para o oitavo mês de total inatividade e sem perspetivas de reabertura no curto prazo, “situação que está a «matar» este revelante produto turístico que tem um peso significativo no PIB nacional”, alerta. E explica que estas empresas querem poder retomar o seu funcionamento, cumprindo todas as regras e orientações para evitar a propagação da pandemia, e que a AHRESP já propôs ao Governo um Guia de Boas Práticas que permitira que este setor voltasse a abrir em segurança.

Além de tudo isto, a associação relembra que os apoios em vigor atualmente para as empresas “não dão resposta às suas necessidades, o que tem levado a uma preocupante situação de descapitalização, que ameaça a sobrevivencia das mesmas, e que se agrava a cada dia”.

Desde há seis meses que a AHRESP tem levado a cabo inquéritos mensais junto dos seus associados e, no último inquérito respeitante ao mês de agosto de 2020, os resultados foram claros: “continuam a revelar uma situação dramática para as nossas empresas, e prevemos mesmo que se irá agravar significativamente com a diminuição das férias dos portugueses e a menor utilização de esplanadas com o aproximar do outono e da época de Inverno”, refere Ana Jacinto. A responsável diz que o turismo interno que adveio do período de verão “não foi, de todo, suficiente para reforçar a tesouraria das empresas e nem sequer diminuíram as intenções de insolvência que nos foram manifestadas pelos exploradores dos diferentes negócios”.

De acordo com este inquérito, mais de 9% das empresas de restauração e bebidas não conseguiu pagar salários em agosto, e 10% apenas pagou uma parte. Para pagar os salários de julho, cerca de 59% das empresas tiveram que recorrer a financiamento. Além disso, conclui que desde o início do estado de emergência, 14% das empresas já tinha efetuado despedimentos. E 24% das empresas assume que não irá conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do ano.

O inquérito demonstra também que, em setembro, face às estimativas de faturação, 34% das empresas não conseguirá suportar os encargos habituais (pessoal, energia, fornecedores e outros). E mais de 38% das empresas pondera avançar para insolvência, “o que terá um impacto ainda mais brutal no (des)emprego, dando podendo mesmo criar um problema social, a par do problema de saúde pública e do problema económico”, adverte a secretária geral da AHRESP.

Nas empresas do alojamento turístico o cenário é igualmente alarmante. Quase 20% das empresas não conseguiu pagar salários em julho, e 8% apenas pagou uma parte. O número de empresas que tiveram de recorrer a financiamento para conseguir pagar os salários dos seus trabalhadores é ainda pior do que na restauração: 73%. Ainda assim, desde o início do estado de emergência, apenas 10% das empresas efetuou despedimentos. Mas 16% assumiu, no inquérito da associação, que não vai conseguir manter todos os postos de trabalho até ao final do ano.

Apesar de 88% das empresas de alojamento terem faturado em agosto de 2020, 65% destas empresas registaram uma quebra homóloga superior a 40% e 15% registaram uma quebra superior a 90%. E o mês de setembro não será muito melhor: 42% das empresas estimam uma quebra de faturação acima de 75%, comparado com setembro de 2019.

Face às estimativas de faturação, 55% das empresas não irá conseguir suportar os encargos habituais (pessoal, energia, fornecedores e outros) e 16% das empresas ponderam para insolvência, caso não consigam suportar todos os encargos.

Dado o cenário atual nada positivo, Ana Jacinto não tem dúvidas de que é consensual que “não podemos enveredar por uma situação idêntica à situação de confinamento e encerramento de atividades económicas como aquela por que passámos, pelo que, por um lado, temos todos de aprender a viver neste «novo normal», por outro, tem o Estado de criar mecanismos de apoio que se revelem devidamente eficazes e que têm invariavelmente de passar por apoios a fundo perdido, medidas de desagravamento fiscal, como seja a aplicação da taxa reduzida de IVA nos serviços de alimentação e bebidas, e apoios financeiros que incentivem o consumo”. A interlocutora diz mesmo que esta medida podia ser semelhante aquela que foi implementada no Reino Unido, e que consiste num desconto de 50%, até ao limite de 10 euros, por cada refeição consumida nos estabelecimentos de restauração e bebidas.

“Trabalhar para sobreviver” é o que Ana Jacinto reconhece que os associados da AHRESP, e os empresários em geral, do canal Horeca, têm por isso feito, “trabalhando da forma mais eficaz possível, recorrendo a apoios e reinventando diariamente o seu negócio”.

Este reinventar passa muito pela adequação da forma de trabalhar a esta nova realidade, esclarece a secretária geral da associação. Houve, por exemplo, estabelecimentos que investiram no take away e nas entregas ao domicílio mas “não chegam para compensar as quebras”, admite a responsável.

Também a “AHRESP se reinventou e desenvolveu serviços inovadores que, acreditamos, podem contribuir para uma retoma mais rápida e sustentada”, garante Ana Jacinto. Um desses serviços passa pela disponibilização de um Marketplace online, que designámos de Mercado Global Online AHRESP, que facilita o contacto entre fornecedores e clientes em busca de produtos e serviços aos melhores preços e com garantia de qualidade. Além disso, conscientes de que serão muitas as empresas a entrar numa espiral de dificuldades e que irão precisar de alguns “cuidados intensivos”, a associação apresentou-lhes a possibilidade de disporem de um Diagnóstico sério e profissional sobre a situação real, acompanhado de um Plano personalizado de Recuperação económico-financeiro do negócio – trata-se do Plano de Revitalização de Empresas (PRE), desenvolvido em parceria com a Moneris.