“A Bensaude está na génese do turismo nos Açores”

Foi nos Açores em Lisboa, mais concretamente no Hotel Açores Lisboa, que Marta Sousa Pires nos recebeu para uma conversa prolongada sobre a história deste grupo familiar no turismo e de que forma começou a contribuir para este historial. Frisando o papel do Grupo Bensaude na génese do turismo nos Açores, a administradora, que recentemente passou a integrar também a direção executiva da AHP, não hesita em reconhecer que o arquipélago conta já com o mais difícil – uma base diferenciadora e um produto bem dinamizado. Falta agora “saber comunicar e promover”, sublinha. Aqui partilhamos a primeira parte desta entrevista, que pode ser lida na íntegra na Edição 283 da Revista Ambitur.

 

GESTORA MARTA ACORES HOTEL. LX.

Qual a história e filosofia do Grupo?
O Grupo Bensaude tem origem em 1820, como importador de têxteis e exportador de cereais e laranjas. A partir daí foi-se adaptando aos mercados, à procura e às novas tendências da economia. Especificamente na área do turismo, a Bensaude foi uma das pioneiras nos Açores. O meu bisavô, Vasco Bensaude, com outros ilustres empresários açorianos, fundou em 1934 a Sociedade Terra Nostra. Em 1935 a sociedade abre o Hotel Terra Nostra, que foi uma reconversão de uma pensão e junta o jardim centenário adjacente. Sendo que comemoramos este ano os 80 anos da atividade turística do grupo por esse facto. Em 1936 abre o Campo de Golfe das Furnas desenhado por um arquiteto especialista internacional, Mackenzie Ross. Em 1937 a sociedade abre o Casino Terra Nostra, bastante inovador na altura, à frente do tempo… Em 1941 a Sociedade está na fundação da SATA. Após a II Guerra Mundial adquire uma casa senhorial em Ponta Delgada, que transformou no Hotel São Pedro (o qual abre em 1965). O crescimento hoteleiro seguinte deu-se no início do século XXI. O Grupo Bensaude é um pouco a génese do turismo, ao longo dos anos, nos Açores.
Em termos de filosofia, é a de origem: “dar a conhecer os Açores e as suas tradições”. Quando fizemos um levantamento da história da sociedade Terra Nostra, fiquei surpreendida ao verificar que os fundamentos e filosofia são ainda os mesmos dos dias de hoje.

A sua entrada no grupo coincide com o momento em que se cria um conceito hoteleiro para o grupo, agregando a sua oferta hoteleira…
São muito claros os nossos pilares: os Açores, tradição, inovação, no sentido de estarmos sempre à procura de satisfazer os clientes e o seu bem-estar, e a sustentabilidade a médio e longo prazo, em termos ambientais, sociais e económicos… Sim, foi a génese da criação da Bensaude Hotels como grupo hoteleiro. O grande desafio foi dar a conhecer o grupo hoteleiro de uma forma mais uniformizada e coerente.

Como define a Bensaude Hotels, com unidades tão diferentes?
É o que chamamos uma «Coleção de Hotéis». Nesta «Coleção» o que queremos é desenvolver e proporcionar momentos únicos aos nossos hóspedes, para que eles queiram voltar. São muito claros os pilares em que assentamos: os Açores, a tradição, inovação, no sentido de estarmos sempre à procura de satisfazer os clientes e o seu bem-estar, e a sustentabilidade a médio e longo prazo, em termos ambientais. Acima de tudo pretendemos dar um serviço de excelência e estamos sempre muito atentos a como os clientes nos veem.

Que balanço se pode fazer destes 11 anos?
Sempre a pensar no futuro, à procura de melhoria constante, tentando ultrapassar os obstáculos.

GESTORA MARTA ACORES HOTEL. LX.Estamos a viver um momento de crescimento do turismo nacional. Para onde pode ir a Bensaude Hotels?
Neste momento temos um projeto bem definido de consolidação do que é o grupo Bensaude Hotels, e de crescimento. É por aí que queremos ir. Temos objetivos a cinco anos, de crescimento, com ações bem concretas para cada vez mais nos posicionarmos e diferenciarmos no mercado, uma visão bastante concreta: a de nos mantermos como grupo hoteleiro líder e de excelência, nos Açores e no mercado nacional.

A curto prazo portanto é consolidar…
Sim. A médio prazo, eventualmente, novas oportunidades.

Este momento económico poderá acelerar o médio prazo?
A ideia é, com este crescimento, que tem de ser ainda mais consistente (não pode ser um ano ou dois), continuar a crescer em termos de portfólio.

Na atividade de agência de viagens e rent-a-car, a lógica é a mesma?
Na Agência Açoriana de Viagens fazemos incoming, somos especialistas ao nível dos Açores, e trabalhamos já nos vários segmentos: lazer, MI, cruzeiros. No rent-a-car não somos líderes, mas queremos também crescer e consolidar. Neste momento abrimos também um balcão no aeroporto e é um dos sinais que também queremos crescer no mercado e aproveitar o crescimento que se verifica na procura.

Como vê a evolução do turismo nos Açores, o que falta para se ir mais longe?
Na história do turismo dos Açores, o grupo Bensaude foi dinamizador durante muitos anos. O turismo nos Açores em termos políticos só teve uma aposta no início do século XXI, bastante recente. Depois veio a crise, financeira e económica, que também não permitiu o crescimento que se esperava com esta aposta. O que nos vai levar mais longe é o aumento de procura. Temos de ter clientes para desenvolver o turismo nos Açores, esta é a base para o crescimento e desenvolvimento do turismo nos Açores. Temos já – e aqui concordo com esta aposta que se tem feito – um produto turístico bem desenvolvido, uma base diferenciadora nos Açores, um produto bem dinamizado pelas entidades públicas e privadas na sustentabilidade. Temos aqui uma base que tem muito potencial. E isso é o mais difícil de criar. Está lá, tem sido preservada, dinamizada e com projetos inovadores. Neste momento, falta o potenciar esta linha orientadora, melhorar a interligação entre as várias ilhas, continuar a promover esta orientação para a sustentabilidade e para a inovação, e reforçar a qualidade do produto de forma contínua e consistente. E, no final, saber comunicar e promover.

E este é um desafio de todos, públicos e privados…
Tem de haver as duas partes.

GESTORA MARTA ACORES HOTEL. LX.Quais os principais problemas que deteta na atividade hoteleira nacional? Que desafios tem?
O grande desafio foi sempre um aumento da procura, haver a consistência neste crescimento da procura, e aproveitar este crescimento de forma valorizada, no sentido do setor hoteleiro valorizar o que tem. E aí tem muito a ver com saber que temos uma procura e que nos dá valor. Não
podemos subestimar o valor que o setor hoteleiro tem em Portugal. Temos um excelente produto no geral, ao nível do serviço é a simpatia intrínseca dos portugueses, temos de o saber valorizar, este é o grande desafio.

Saber valorizar é subir o preço…
Sim, de forma a dar valor. Não é simplesmente subir preço, é o saber vender a relação para esse valor, o saber dizer que estamos a dar um preço porque damos um valor. Por outro lado, temos de acompanhar mais – e isso tem tudo a ver com a época que passámos – as tendências atuais do turismo, apostar mais nesta área, perceber melhor as expectativas da procura, porque os clientes são mais exigentes, querem ser surpreendidos. Portanto é esse o grande desafio, sabermos valorizar-nos ao mesmo tempo que somos eficientes a nível dos custos operacionais, legais e financeiros.

Que contributos espera trazer à Associação dos Hotéis de Portugal?
A minha entrada na AHP também vai no sentido de dar um contributo sobre os Açores, sobre o que eu conheço do turismo açoriano, uma realidade bastante diferente das restantes regiões turísticas nacionais. E depois espero, com o meu melhor bom senso e o meu melhor profissionalismo e conhecimento em gestão, dar a melhor opinião e contributo sobre as várias questões com que o setor hoteleiro se vai deparando.

É uma tarefa herculeana hoje satisfazer o cliente?
Não, é muito simples (risos). Basta o colaborador sentir que em cada uma das suas tarefas, das suas funções, ele está a vender, e que está a satisfazer a necessidade do cliente, e a sua felicidade. É um exercício coletivo.