“A dimensão da TAP tem que permitir continuar a servir os interesses do país”

A Confederação do Turismo de Portugal (CTP) realizou hoje a 2.ª Web Conference, que antecede a V Cimeira do Turismo Português, no próximo dia 28 de setembro, sobre “Transportes e acessibilidades em tempos de pandemia”, com especial foco no transporte aéreo e na TAP.  

A moderadora da conversa, a jornalista Rosário Lira, começou por recordar em nota introdutória que as previsões da IATA apontam para que o transporte aéreo apenas retome aos níveis anteriores à pandemia em 2024 e que nos primeiros seis meses do ano os aeroportos nacionais registaram uma quebra de 64,5% no movimento de passageiros.

A respeito da TAP, relembra que a 2 de julho o Estado chegou a acordo com os acionistas privados da companhia ficando com 72,5% do capital e injetando 1200 milhões de euros na transportadora. A TAP prepara agora um plano de reestruturação a ser apresentado à Comissão Europeia (CE), depois de ter fechado o ano de 2019 com prejuízos de 106 milhões de euros e de os mesmos terem subido para 395 milhões no 1.º trimestre de 2020. Ainda assim, a companhia aérea nacional emprega 10 mil pessoas, além de criar 100 mil postos de trabalho indiretos, é o maior exportador de bens transacionáveis do país, compra cerca de 1,2 mil milhões de euros a empresas nacionais e paga 300 milhões em impostos e contribuições ao Estado português.

Para Francisco Calheiros, presidente da CTP, a importância da TAP para o turismo é “verdadeiramente determinante”, com 90% dos turistas a chegar a Portugal por via aérea, e sobretudo para Lisboa: “Se hoje em dia temos a quantidade de brasileiros e americanos na cidade de Lisboa e arredores muito se deve à aposta que a gestão da TAP fez”, mantendo-se a esperança de se “voltar a ter uma TAP forte”.

“A procura tarda a chegar a níveis que nos permitam usar mais aviões”

O chairman da TAP, Miguel Castilho, afirma que o turismo é o “setor que foi e vai continuar a ser o mais afetado pela pandemia” visto que “não há nenhum outro setor que tenha experimentado um choque tão grande e profundo”. Prova disso é que “as perspetivas têm sido sistematicamente revistas em baixa” também na aviação. Em maio, a perspetiva da IATA era de que em 2021 a atividade aérea rondasse os 80% face a 2019. Atualmente, é de que se registe 42% da atividade face ao ano passado. Ou seja, “no espaço de quatro meses as expetativas foram praticamente reduzidas para metade”, atenta.

Fruto de uma “conjuntura extraordinariamente incerta” e que “não permite perspetivas animadoras para os próximos meses”, como descreve Miguel Frasquilho, a TAP teve que recorrer ao auxílio do Estado a par de outras companhias como a Lufthansa, Air France, Air Italia ou Iberia, pelo que “não é um problema da TAP, é um problema global”, como argumenta.

Contando com uma frota de 109 aeronaves, a TAP “gostaria de ter neste momento muito mais aviões no ar”. No entanto, o chairman realça que “a procura tarda a chegar a níveis que nos permitam usar mais aviões”. Ainda assim, a transportadora nacional tem vindo a “acrescentar mais destinos e rotas” para “recuperar o mais rapidamente possível”. Em outubro estreia Lisboa-Maceió e no fim do ano Porto-Sal, se tudo correr como planeado. “Não temos nenhuma garantia de que as rotas que estamos a tentar possam ser realizadas”, face às restrições de fronteiras que têm vindo a obrigar a adiar novas rotas.

“Há um nível mínimo a partir do qual a dimensão da frota pode baixar”

Questionado por Francisco Calheiros sobre se a TAP não irá “encolher” na sua reestruturação e se tal não prejudica a política de hub da companhia, Miguel Frasquilho avançou: “Neste momento, a TAP tem um modelo de hub em Lisboa, mas não esquecendo os outros aeroportos do país importantes para nós, mas a verdade é que sabemos que a TAP precisa de uma dimensão maior e nós vamos trabalhar num cenário desses. Não é intenção de ninguém que a TAP vire uma TAPzinha, não serve os interesses do país.”

O chairman voltou a sublinhar depois que “não queremos que essa dimensão seja impeditiva de que a TAP continue a servir os interesses do país. Há um nível mínimo a partir do qual a dimensão da frota não pode baixar”, garante, além de que a companhia pretende “manter a ligação aos Estados Unidos” e também Brasil, contando estabelecer todas as suas rotas para ambos os destinos, mas com menos frequências, em outubro. Miguel Frasquilho adicionou que a TAP terá uma “preocupação muito grande” em salvaguardar postos de trabalho ainda que os “sacrifícios” continuem.