“A influência que Portugal conseguiu ter durante estes seis meses a colocar o turismo no mapa de discussão da UE foi extraordinária”

Luís Araújo, presidente do Turismo de Portugal e da European Travel Comission, esteve ontem presente no IX Congresso da Apecate, em Peniche, no primeiro painel dedicado ao tema “Desafios da Retoma: Resistir, Reposicionar, Reativar, Afimar a nossa Proposta de Valor”, dando conta da estratégia europeia para a retoma do setor do turismo. Dado que termina a 30 de junho a presidência de Portugal na União Europeia, na qual o país está desde 1 de janeiro de 2021, o responsável admite que embora possa parecer pouco, “a influência que durante estes seis meses conseguimos ter a nível de colocar o turismo no mapa de discussão da União Europeia foi extraordinária”, reconhecendo que “é o trabalho de uma enorme equipa, que nos permitiu alguma evolução no afirmar do setor”. No dia 17 de junho realizou-se o quinto grupo de trabalho de turismo numa presidência que contou com uma série de fóruns, webinares e reuniões que tiveram como tema a transição verde, a transformação digital e a questão dos skills. O orador admite que “é difícil conjugar as opiniões dos 27”, ainda por cima com velocidades de evolução diferentes.

Luís Araújo começou por dar conta dos desafios com que o turismo se enfrenta no momento atual, apontando desde logo a livre circulação e o mercado interno como um dos primeiros depois de um ano de “completo isolamento” e de “falta de coordenação”. Por outro lado, temos os altos e baixos da pandemia de Covid-19 que, neste momento, já se confronta com a vacinação e os testes. A mobilidade e os adiamentos de retoma da aviação e dos aeroportos são um terceiro grande desafio. A que se segue a recuperação económica do setor e a confiança dos consumidores. Por fim, o dirigente recordou o Brexit como último desafio já que, no final do ano, “vamos ter regras diferentes”.

O orador garante que estes desafios foram muito debatidos no âmbito da Presidência Portuguesa da UE e, logo desde o início, foram identificadas oportunidades. Em primeiro lugar, saber como colocar Portugal como país-chave no debate do setor. Por outro lado, consolidar o know how adquirido num setor onde Portugal é líder. Por fim, oportunidades como solidificar o papel do turismo na recuperação económica pós-pandémica, valorizar o setor nas instituições europeias e afirmar a presença da temática do turismo no regular agendamento da UE.

A estas oportunidades, Luís Araújo explica que foram associadas então cinco prioridades. Antes de mais, tornar o setor mais resiliente (estabilidade financeira das empresas), mas também mais social, mais verde, mais digital e mais global.

As conclusões para a indústria do turismo apontam para a necessidade de coordenação da resposta da UE às crises, bem como para a valorização do turismo como um dos 14 ecossistemas industriais da UE. Por outro lado, há que assegurar o reforço do turismo, dado o peso e a importância nas cadeias de valor, maximizar o uso inteligente do financiamento europeu e refletir o setor nas políticas públicas da UE.

O presidente do Turismo de Portugal deu exemplos de iniciativas concretas, sendo que duas delas já foram implementadas, nomeadamente o lançamento de um guia sobre financiamento para o turismo na UE, e o certificado digital Covid. Há ainda mais duas, a saber, a necessidade de criar a Agenda da UE para o Turismo 2030/2050, a ser desenhada entre as instituições europeias e os stakeholders, cujo esboço terá que ser apresentado até ao final de 2021. E ainda o UE Tourism Dashboard, uma ferramenta com informação quantitativa para apoio a entidades públicas, empresas e consumidores no processo de tomada de decisão, e também aqui o esboço deverá ser entregue até ao final deste ano.

Por fim, Luís Araújo deixa um retrato da procuta a nível europeu, um cenário já apresentado pela European Travel Comission, que confirma que a vontade dos europeus viajarem disparou face à evolução dos processos de vacinação e à introdução do certificado digital Covid, com 54% a quererem viajar para outro país. “Há aqui uma grande oportunidade de crescimento em relação ao mercado europeu”, frisa. Além disso, dois em cada três europeus sentem-se mais seguros na sua viagem se forem implementadas medidas sanitárias, segundo a ETC, o que confirma que os protocolos sanitários são essenciais para a vontade de viajar. E, em último lugar, a ETC avança que os europeus pensam cada vez mais em sol e praia, e em city breaks, sendo que para estes últimos o fator essencial são as políticas de cancelamento.