“A liderança hoje tem de ser democrática”

Diogo Assis, CEO da events by tlc, esteve à conversa com a Ambitur em mais uma Grande Entrevista. Recordou os momentos que há 15 anos o levaram a criar a sua empresa, sempre com o objetivo de posicionar Portugal como um destino de excelência para receber eventos de forma criativa. Hoje são 150 pessoas, num grupo que fatura cerca de 30 milhões de euros, e conta com uma equipa motivada que tem vindo a crescer não só no país como lá fora, onde já se encontra em Espanha, Brasil e Florida (EUA), e pretende continuar a diversificar no mercado latino-americano, pondo sempre o cliente no centro de tudo o que faz.

Como é que chegou ao setor?
Sou o filho mais velho de três. O meu pai é médico e eu, desde miúdo, que quis seguir as pegadas do meu pai. Típico de um filho que tem orgulho no pai que tem. Mas, o meu pai sempre me disse: “O teu perfil é um pouco diferente. Tu gostas de viajar, comunicar, etcétera, e não te estou a ver num gabinete de medicina dentária a vida toda”. Eu continuei. Fiz dois anos nessa área e ao fim desses dois anos disse que efetivamente tinha razão. Não era aquilo que eu queria fazer. Parei e estudei gestão turística hoteleira e comecei logo nessa fase os meus negócios. Lembro-me que, na altura, tinha uma empresa de catering. Não era uma empresa, mas sim uma iniciativa em que íamos a casa de famílias que se juntavam ao fim de semana e retirávamos aquilo que era a parte chata. A montagem do jantar, a arrumação toda no final e deixávamos o tempo para as pessoas estarem com a sua família. Levávamos chef’s, loiça, fazíamos o setup de tudo, o jantar, no fim arrumávamos tudo e as pessoas ficavam felizes e contentes.

Desde essa altura que me ficou claro que os bons negócios são aqueles que vêem resolver um problema (e quando há alguém disposto a pagar por esse modelo de negócio, caso contrário não serve). O que eu gosto é de estar no negócio e de acrescentar valor.

Segue-se a hotelaria…
Fiz de tudo em hotelaria. Restaurante, bar, alojamento, mas depois fiquei no comercial, que era a minha paixão. Na altura, fui convidado para fazer uma carreira internacional na Hyatt, mas com o feedback que tinha de que Portugal não estava bem posicionado para os eventos internacionais eu fiquei com vontade de fazer alguma coisa pelo país e de trazer o projeto da events by tlc com esta componente criativa. Daí surge a minha iniciativa, mais numa perspetiva empreendedora e comercial do que propriamente numa de experiência em eventos, coisa que eu não tinha. Tinha, mas no âmbito dos hotéis. Mas o que eu vi foi uma oportunidade de negócio, não propriamente uma vontade de fazer eventos. Poderia ter surgido noutra área qualquer. Esse é o meu perfil. Não sou um técnico de evento. O perfil é muito mais de empreendedor e de tentar sempre procurar soluções, iniciativas, projetos que acrescentem valor.

Que aprendizagens é que reteve das suas experiências profissionais na hotelaria?
Trabalhei com pessoas incríveis, aprendi imenso e isso teve uma componente muito importante na minha formação e na confiança para depois poder dar o salto. No fundo, passei a conhecer os canais de comunicação e distribuição do mercado. Nesse sentido, sim. Mas eu sempre me considerei um outsider do turismo, porque eu olho para o setor numa vertente estratégica. Na tlc estamos a combinar duas áreas muito diferentes: turismo e comunicação. Turismo como DMC e comunicação através do brand activation.

Quais são as características que considera imprescindíveis para um bom gestor?
Um líder tem de focar-se na cultura, em primeiro lugar. Isto é, ter uma visão e uma proposta de valor, mas depois focar-se na cultura, que tem de ser muito forte. É muito importante nas organizações. Às vezes, há uma organização muito forte, mas que não tem uma estratégia muito bem desenhada, ela vai chegar mais tarde à estratégia e aos bons resultados. Se tem uma estratégia muito forte, mas tem uma cultura fraca não vai chegar a lado nenhum. Por isso, a cultura para mim é o ponto fundamental de liderança, que, hoje, é diferente do que era antigamente. A liderança hoje tem de ser motivadora, democrática, permitir às pessoas ter uma palavra a dizer.

Sou completamente people driven. Sou apaixonado pelas pessoas e em dar-lhes oportunidades para elas serem felizes cá dentro. As organizações são uma excelente plataforma de felicidade para as pessoas, porque se a pessoa conseguir concretizar aqui os seus sonhos, onde passa a maior parte do seu tempo, também ser feliz em casa. Vai conseguir ter uma vida de satisfação e felicidade. As empresas devem ser um elemento facilitador para isso: para as pessoas atingirem os seus sonhos.

A união entre o desporto e os eventos veio para ficar?
Sim. Não tenho dúvida. Aliás, nós investimos no desporto há uns anos atrás. Fizemos a IMEXrun há quatro anos e essa iniciativa vai tocar nessa questão. Esta vem chamar a atenção sobre um problema que são as longas horas de trabalho, muitas reuniões, eventos sociais e a componente física. O desporto é uma forma de networking que quebra barreiras. Põe um CEO ao lado de um estagiário a falar a mesma língua no mesmo ponto de partida. O desporto é uma ferramenta fortíssima de comunicação. Aliás, hoje em dia chama-se o sweatworking [networking em ambiente de desporto]. Por isso, investimos e temos, hoje, a maior corrida de empresas em Portugal – o B2Run -, onde convidamos as empresas a trazerem os seus colaboradores e em ambiente de teambuilding participarem num evento de desporto.

Onde é que se vê daqui a 10 anos?
Vejo-me a continuar apaixonado por este negócio e a olhar para oportunidades de crescer de forma diferenciadora, juntando tecnologia ao aspeto humano. Hoje já temos uma equipa de sete pessoas a programar na organização – já é uma estrutura grande – com um líder que é um génio [o Gabriel]. Por isso, nós estamos a olhar muito para essa componente. Nós vamos trazer uma série de soluções digitais no futuro, que nos vão ajudar internamente a ser mais eficientes, a automatizar uma série de processos internos, a ter mais tempo para a criatividade e a trazer soluções para clientes na área digital. Em termos de crescimento orgânico ou por via de aquisições, ainda temos muito para fazer na América Latina. Não vou dizer quais os destinos, tão pouco nós temos isso ainda claro, mas estamos numa fase de consolidação para depois voltar a olhar para a América Latina.

 

Esta é a 2ª Parte da Grande Entrevista publicada na Edição 307 da Ambitur.

Leia aqui a 1ª Parte desta Grande Entrevista.