“A Madeira está preparada para retomar a atividade turística”

Eduardo Jesus, secretário regional  de Turismo e Cultura da Madeira, esteve à conversa com a Ambitur numa altura em que se perspetivava o arranque da retoma do setor no país, no contexto da pandemia da Covid-19. Julho era o mês apontado para este processo, já com algumas operações internacionais agendadas. E a animação voltará a fazer parte da agenda turística a partir de setembro. Uma entrevista que poderá ler na íntegra na Edição 329 da Ambitur.

Está hoje a Madeira preparada para receber turistas?
A Madeira está preparada. Ninguém pode afirmar que é conhecedor de todas as condições para uma retoma. Neste enquadramento, a Madeira está preparada para retomar a atividade turística e tem vindo a decidir um conjunto de circunstâncias preparando esse caminho, que desejamos seja já no dia 1 de julho.

Que condições adicionais vão ser implementadas pelo Governo Regional relativamente aos turistas e ao turismo na Madeira?
A Madeira assumiu claramente a lógica de ser um destino seguro. Temos um grande ativo, que é a forma como a Madeira tratou a pandemia, com 90 casos positivos, do qual podemos tirar proveito.
Fomos a primeira região do país a elaborar um manual de boas práticas para o setor, juntando os contributos dados por agências de viagens, animação turística, empresas marítimo-turísticas, alojamento local, hotéis, operadores, DMCs, entre outros.

Na sequência deste trabalho entendemos dar um passo mais ambicioso que tem a ver com a certificação sanitária do destino. Aí recorremos à SGS. Pretendemos criar uma lógica de que o destino turístico se afirma por um padrão que é reconhecido e creditado por alguém credenciado para o efeito.

O quarto passo nesta caminhada tem a ver com o controlo dos turistas à chegada. O que estamos a fazer é construir confiança. O grande desafio que se coloca hoje a cada organização é contribuir para restaurar a confiança, porque a pandemia instalou o receio de viajar.

A ajudar a este processo temos uma aplicação voluntária que fará o tracking da deslocação das pessoas em território regional, acompanhando-as diariamente. Quem responder a três/quatro questões diárias, no seguimento da sua presença na região, será premiado com experiências. Quisemos transformar um compromisso ligado à segurança sanitária numa oferta mais friendly.

Como perspetivam a retoma da atividade turística?
Perspetivamos a retoma da atividade turística a partir de julho. Temos operações para Portugal Continental, que serão reforçadas, e Açores. Temos já diversas operações internacionais contratualizadas, que serão novidades e que nos vão trazer públicos tão distintos quanto os mercados que habitualmente trabalhamos como Alemanha, Inglaterra, Espanha, França e Itália. Nos mercados que tínhamos eleito para diversificação este ano – EUA, Canadá e um reforço significativo do mercado brasileiro – nesses temos que adiar a aposta.

Que desafios que poderão acelerar ou travar a dinâmica da retoma turística?
Todas as medidas que vão permitir criar confiança vão acelerar o processo, todos os incidentes de percurso serão razão para retrocesso. Enquanto existirem restrições mais severas sob o ponto de vista das viagens, como a quarentena que se iniciou em Inglaterra, isso retrai naturalmente aquele mercado para Portugal.

Depois existem oportunidades que temos vindo a tratar junto do Ministério dos Negócios Estrangeiros, os corredores turísticos. A Madeira está em condições de estabelecer corredores turísticos com algumas regiões com o mesmo estado de evolução pandémico. Refiro-me à Dinamarca, com uma operação importante para Porto Santo, e a corredores com a Alemanha, no qual manifestámos interesse. Também lançámos dois reptos específicos: às Canárias, pois entendemos que há condições no sentido de criar aqui um corredor aéreo; e aos Açores.

De que forma a pandemia impactou o tecido empresarial turístico da Madeira?
O impacto foi extraordinariamente relevante, compreendemos isso se atentarmos ao facto de o PIB da região depender em 26% do turismo. Isto significa que cada semana que o setor se mantém inoperacional é mais de 0,25% de todo o PIB regional. Significa isto que, num mês, 2,25% do PIB resulta contraído enquanto o setor estiver fechado. Se temos já março, abril, maio e junho, estamos a falar de uma retração total do PIB de 6,6%, só devido ao turismo. O setor empresarial turístico viu-se perante uma situação nova. Por isso mesmo, entendemos ir muito além dos apoios promovidos pelo Governo Central. Criámos uma Linha de Apoio de 100 milhões de euros, que se transforma em fundo perdido desde que haja uma quebra na faturação superior a 40% e se mantenham os postos de trabalho. Já está a ser montada uma segunda linha de reforço.

O que esperam da TAP e da política de transportes aéreos para a região?
A TAP tem sido um parceiro de longa data da Madeira, que é uma linha lucrativa para a companhia. A Madeira também manifestou que vê com bons olhos a oportunidade de recuperar as ligações diretas que já teve e que perdeu ao longo do tempo. Entendemos que num destino turístico como a Madeira, a TAP poderia estar a prestar esse serviço. Entendemos que há tráfego, que há mercado e que estamos dispostos a investir numa parceria que a TAP pode alargar além daquela que hoje mantém com a região.

Como vai a Madeira apresentar-se nos próximos meses ao turista nacional?
Iniciámos dia 15 de junho uma campanha dirigida ao mercado nacional em que nos apresentamos como o Portugal Tropical. Quisemos marcar alguma diferença porque sabemos que todas as regiões de todo o nosso excecional Portugal têm o mesmo problema: cativar o maior número de pessoas a gozar férias e a permanecerem nestes territórios turísticos o maior número de dias possível. Somos efetivamente o Portugal Tropical e quisemos reforçar nesta mensagem que não é necessário fazer uma viagem longa para sentir o que é a tropicalidade.

É possível ter uma perceção das intenções dos vossos dois maiores mercados, Alemanha e Inglaterra, de viajar para a Madeira a partir de julho?
Temos operações de ambos os países. Toda a situação no Reino Único condiciona muito as operações que dali vêm. Temos operações fechadas com operadores alemães que entenderam a nossa política de controlo sob o ponto de vista de segurança sanitária como uma fortíssima aposta.

Temos muitas operações montadas e muitos aviões que vão chegar à Madeira, a incógnita coloca-se na ocupação de cada um desses aviões. A imprevisibilidade passou a dominar o setor.

O que se pode esperar do programa de atividades de animação e turística da Madeira?
A Madeira é conhecida por estar em festa o ano inteiro. Tivemos que adiar as comemorações da Festa da Flor, cancelámos o Festival do Atlântico. No mês de setembro iremos conjugar a Festa da Flor com a Festa do Vinho. Queremos celebrar a retoma da atividade turística com estas duas festas que vão acontecer em simultâneo. Estamos focados que setembro será o grande momento da animação, e projetamos seguidamente o Festival da Natureza e, depois, as festas do final do ano. Estamos a trabalhar muito forte para o mês de dezembro e queremos conquistar a simpatia das pessoas para vivenciarem essa experiência ao longo do mês. Estamos também a preparar a festa do final do ano onde a oferta do fogo-de-artifício também terá um conjunto de novidades. E olhamos para a frente com naturalidade, a animação faz parte da nossa forma de estar, são âncoras no que diz respeito a um calendário turístico. Correndo tudo bem, para o ano será um calendário completo.