No seguimento da questão do novo aeroporto surge, como não poderia deixar de ser, a situação da TAP e a sua importância para o futuro do turismo em Portugal – durante o debate promovido pela Iniciativa Liberal.
No papel de moderador, Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com, contextualiza a entrada de capital do Estado português na TAP e recorda palavras do presidente da IATA que dizia ser “muito provável que muitas companhias aéreas, entre as quais inclusive as que tiveram injeção de capital de governos, venham a falir no curto prazo” além de apontar a “tendência de redução da dimensão das companhias aéreas e o crescimento das, financeiramente, mais fortes”, nomeadamente, não as transportadoras de ‘bandeira’ mas as low cost.
O antigo secretário de Estado do Turismo, Adolfo Mesquita Nunes, critica dizendo que nos “foram vendidas apenas duas hipóteses” para a companhia aérea nacional: “Ou a TAP é nacionalizada, salvamos empregos e continuamos a ter ligações aéreas ou o contrário”; e, na sua opinião, o que hoje se prova é que tal “dicotomia é falsa” na medida em que “a nacionalização da empresa não garante a sobrevivência dos postos de trabalho nem a manutenção do número de rotas”. O responsável assegura que “havia todo um conjunto de hipóteses que foi absolutamente descartado”, como o caso do “Estado acorrer transitoriamente para depois dispersar o capital em bolsa” ou “fechar a empresa e abrir uma nova”.
O seu receio é que “o tempo que estamos a discutir a nacionalização versus privatização impediu-nos de olhar com maior frieza para a situação” para perceber “como é que esta empresa pode ser viável” e “procurar uma melhor solução” do que a encontrada. Para si, era “evidente que 1,2 mil milhões de euros era insuficiente para uma empresa que já vinha com prejuízo” além de que o Orçamento do Estado para 2021 contempla 900 milhões de euros para “proteger o emprego e reforçar o SNS” e “para a TAP já foram 1200 milhões, mais 500 milhões que vêm aí como garantia, com a afirmação de que isto nem sequer é o pior cenário e que o mais certo é que ainda tenha de ir mais”, alerta. Por fim, Adolfo Mesquita Nunes atenta que: “Continuamos a perceber que as companhias aéreas, mesmo com estes apoios todos, têm a sua vida muito complicada.”
“A TAP tem sido muito maltratada e é bom que comecemos a tratar bem dela”
Discordando do “pessimismo” do último, Francisco Calheiros revela “conhecer profundamente a TAP” e confia que esta “deve ser das companhias de que mais os portugueses se orgulham, não por vê-la em todo o mundo mas porque tem aguentado tudo”. É assim uma “grande companhia” aérea, apesar de que “tem sido muito maltratada e é bom que comecemos a tratar bem dela”, sustenta. Exemplo disso são os hubs que a transportadora conseguiu construir no Brasil e Estados Unidos: “Turistas que não se viam há muito tempo e que nos interessam imenso com maior pernoita e gasto por dia.”
No seu entender, o preocupante é que “andamos à procura de uma equipa há três meses e a TAP não pode ser gerida desta maneira”. O presidente da Confederação do Turismo de Portugal (CTP) admite que a companhia “pode fechar ou desaparecer”, e outra ocupar o seu espaço, mas que isso “não é de um dia para o outro”, pois estamos a falar de milhares de voos.
“Todas as companhias aéreas, de uma forma ou outra, já foram ajudadas”
Bernardo Trindade, enquanto vogal do conselho de administração da TAP, afirma que este tema não é “isolado” e que “há hoje sobre o transporte aéreo uma crise absolutamente acentuada” por depender, em primeira estância, da liberdade de circulação. O responsável sublinha que “todas as companhias aéreas, de uma forma ou outra, já foram ajudadas” e que “o tema dos auxílios de Estado voltou” depois de ser “relativamente banido”, de acordo com as orientações de diversas instituições públicas. E avança que “muito provavelmente esta primeira leva de ajudas não será suficiente e, eventualmente, estaremos aqui a prazo a discutir uma segunda onda de ajuda”.
Relembra ainda que a transportadora, com 75 anos, envolve 1.200 milhões de euros de compras feitas a 1.300 fornecedores portugueses, representa 32% de quota nos aeroportos nacionais, transportando 16 milhões de passageiros e 3.5 milhões de turistas para Portugal e que emprega, direta e indiretamente, 100 mil postos de trabalho.