“A verdadeira essência da hotelaria é a arte de bem receber”

De passagem por Lisboa, Rodrigo Machaz,director geral da Memmo Hotels, levou-nos numa viagem pelo projecto da sua vida,aquele que admite ser o realizar de um sonho e que, mais do que uma cadeia de hotéis, pretende ser uma selecção de hotéis, onde a arte de bem receber se torna a missão principal. De Sagres a Alfama, e mais tarde ao Príncipe Real, o conceito Memmo impõe-se assim sem pressas, mas com as certezas de um grupo que sabe muito bem o que quer.

O Memmo é um projecto hoteleiro ou um projecto de vida?

memmo baleiraO Memmo é um projecto hoteleiro porque acima de tudo é um projecto de várias pessoas. Sou, se calhar, a sua face mais visível, o que normalmente acontece nestas situações, mas como em tudo na vida o projecto não vive de uma pessoa. Somos vários sócios e uma equipa que trabalha todos os dias.Mas sendo um projecto hoteleiro, é claramente o projecto da minha vida. É como percorrer um percurso e chegarmos a uma determinada localização e sabermos que é ali que queremos estar. É o projecto da minha vida porque chego a ele na altura em que me sentia preparado para lá estar. Sempre trabalhei na área da hotelaria e sempre o fiz com o sonho de um dia ter o meu projecto. O Memmo é um realizar de um sonho e o início de um projecto. Este está na sua fase de crescimento, tendo passado pelo seu arranque, que incidiu no lançamento de uma marca e de um conceito. A fase decrescimento é um desafio enorme. Estamos com «as dores de crescimento», pois saber crescer não é fácil. O Memmo é o que for, na certeza que queremos que seja o melhor possível, sem estarmos a pensar quantos hotéis queremos daqui a 10 anos. Temos a certeza que queremos crescer com segurança, o crescimento éfundamental, quando não crescemos estagnamos. Queremos dar os passos certos e isso demora. Vamos abrir agora o Memmo Alfama, cinco anos depois de termos aberto o Memmo Baleeira, ao qual se seguirá o Memmo Príncipe Real. Somos muito selectivos a escolher os projectos, primeiro porque não temos pressa, segundo porque queremos ter a certeza que aquele é seguramente o projecto que faz sentido para a nossa selecção. Costumo dizer que não procuramos uma cadeia de hotéis, mas sim uma selecção de hotéis.

Um conceito, uma imagem e um produto foi o que apresentaram ainda antes da abertura do Memmo Baleeira. Não era habitual esta preocupação nos hotéis que abriam no país. É fundamental a estratégia assentar nestes pontos?

A minha família esteve desde sempre ligada à hotelaria. Desde o primeiro dia que nos preocupámos ao nível do investimento do projecto na marca. Tínhamos um hotel para recuperar, não fazíamos ideia do que queríamos ali fazer, fomos então na altura (seis anos) ter com a Brandia, que nos ajudou a trabalhar o conceito. Este passo foi muito importante para clarificar o posicionamento do hotel. Quando soubemos qual era a nossa marca, o que ela prometia, qual a sua missão, o seu cliente target, entre outros, facilitou tudo o resto. Tudo é muito mais fácil quando sabemos o que queremos. Hoje, quando procuramos um hotel Memmo, temos a noção se determinado edifício o pode ser ou não. Entrámos num conceito de hotelaria, que é o que eu gosto, que consiste mais em vender sonhos do que sono. Não estamos num conceito fechado. Pretendemos dar mais que uma boa cama ou uma boa refeição,queremos vender uma emoção, permitindo descobrir o destino onde o hotel está inserido.

Memmo Alfama

Qual o lugar do hotel que vão abrir em Lisboa, no posicionamento que estamos a falar?

O lugar do novo hotel de Lisboa é “quase” como o de um segundo filho numa família. Vai ganhar o seu espaço. Abrimos o primeiro projecto em Sagres, sendo que o nosso desafio foi vender o destino e sempre ambicionámos desde o primeiro dia vir para Lisboa. Aqui queremos encontrar, mais uma vez, uma maneira diferente de estar na cidade. Não pretendíamos estar nas avenidas principais, mas que numa Lisboa autêntica, procurando esse lado das emoções.Costumamos dizer que para nós as cidades são os novos países e os bairros as novas cidades. Alfama aparece espontaneamente porque não tem nenhum hotel, é um lado diferente da cidade, talvez como Sagres, em que muita gente lá vai, mas não fica lá. É um local em que vale a pena a vivência, sendo um dos mais típicos de Lisboa. O Memmo do Príncipe Real vai ser um terceiro filho dentro desta sequência. A nossa ambição como projecto hoteleiro é vender sítios inesquecíveis em Portugal. A missão é dizermos que há um produto Portugal que vale a pena descobrir. Não posso deixar de dizer que olhamos para o Porto como um destino natural onde gostaríamos de estar, porque tem várias variantes e um lado autêntico de Portugal.

O novo Memmo Alfama é muito diferente do hotel de Sagres?

O ponto comum das unidades é dar um lado diferente e inesquecível dos destinos onde se inserem. Pretendemos ver os hotéis não como pontos de chegada, mas sim de partida. Ao nível do produto este diferencia-se em tudo do Memmo Baleeira. Um tem 144 quartos o outro tem 42, um é um hotel em cima do mar o outro sob o casario de Alfama. Há um lado intimista que queremos ter em Alfama. Vamos promover ao máximo os vários produtos nacionais de qualidade, desde os refrigerantes aos vinhos. Pretendemos assim que a pessoa conheça mais da identidade do nosso país, queremos que o nosso hotel seja a porta de entrada e descoberta do melhor que Portugal tem para oferecer. Queremos também, avançar com um conceito de late check-in, em que a pessoa chega mas não precisa imediatamente de fazer o seu check-in. Queremos que a preocupação do cliente ao chegar ao hotel seja a de ser bem acolhido. Vamos promover passeios por Alfama, o Memmo Walking Tours, num bairro que é labiríntico porque queremos que a primeira descoberta de Alfama seja feita connosco, com o staff do que decidiu fazer um hotel em Sagres.Ficámos com o hotel em 2006 e foi totalmente renovado para abrir no Verão de2007.

Leia a entrevista na íntegra na edição n.º 259 da Ambitur.