Aciso: “É fundamental a existência de boas campanhas que garantam grande capacidade de captação dos primeiros fluxos turísticos”

Tentar perceber a realidade das empresas do turismo através das associações que as representam é o objetivo da Ambitur.pt. Purificação Pereira Reis, presidente da direção da Aciso – Associação Empresarial Ourém-Fátima, revela que perante a imprevisibilidade da atual pandemia de Covid-19, o governo foi “reagindo e não agindo”, desenhando os apoios às empresas em reação às situações mais urgentes para tentar salvar o tecido económico. “Esta forma de atuação conduz a um maior hiato de tempo entre a existência do problema por solucionar, o lançamento da medida e a chegada efetiva do apoio às empresas, o que, em algumas situações, leva a que o apoio chegue demasiado tarde”, esclarece. E admite que “a esta distância é fácil perceber que teria sido mais eficaz um plano estruturado com as linhas de apoio, antecipando os efeitos da crise, e não um avulso de medidas para minimizar os efeitos da crise, mas todos sabemos da facilidade de efetuar prognósticos depois do jogo”. Por essa razão, não hesita em afirmar que os apoios, embora diversos e bem-vindos, “continuam insuficientes e não cobrem as necessidades das empresas nem abarcam todas as empresas que deles necessitariam”.

Quanto aos apoios recentemente anunciados, “é fundamental que cheguem rapidamente às empresas, sem entraves legislativos e procedimentais, de forma a que as empresas possam manter a sua atividade e continuar a lutar contra as inúmeras dificuldades com que ainda se deparam e, infelizmente, vão continuar a deparar”, defende. Concretamente, a Aciso apoia a extensão das moratórias até à retoma e a criação de linhas de financiamento “verdadeiramente de longo prazo”. “Esperamos que Fátima seja tida em consideração, nas suas características e especificidades, que infelizmente, a tornam um destino muito mais vulnerável aos efeitos negativos da pandemia”, reivindca.

Hoje, um ano após a pandemia se ter iniciado, a verdade é que as empresas turísticas continuam a lutar diariamente para sobreviver, lembra a dirigente associativa, e isto sem saberem quando poderão voltar a contar com clientes.

Remetendo para a situação concreta das empresas associadas da Aciso, Purificação Pereira Reis recorda que Fátima é um destino que depende maioritariamente do turista internacional e da tour operação, caracterizando-se por uma grande concentração de oferta hoteleira. Esta situação, aliada à “total ausência de clientes, originou grandes dificuldades e algum pessimismo quanto ao futuro”, indica. E avança que “há fortes sinais de que nem todas as unidades conseguirão ultrapassar esta crise”. A época baixa prolongou-se desde o início da pandemia até aos dias de hoje e deverá continuar durante o ano corrente, alega. “Fátima está dependente da retoma da operação aérea e do facto dos grupos de peregrinos poderem voltar a viajar. O contexto Internacional está demasiado instável e não dá a segurança nem a confiança necessária a perspetivas mais otimistas”, diz.

E o desconfinamento não ajudará para já pois, por si só, não traz os turistas. Até porque situando-se no centro do país, os visitantes nacionais que visitam Fátima têm tendência a regressar a suas casas no próprio dia, explica a responsável. “Será uma grande oportunidade de inverter essa tendência, uma oportunidade para o turista nacional escolher este destino, permitindo-se uma experiência diferente e autêntica, celebrando a vida e explorando as fantásticas ofertas turísticas desta região”, sublinha. Até porque este destino goza de uma grande oferta hoteleira, pronta para receber todos os turistas, já que todos os empresários implementaram, de forma imediata, várias medidas que garantem a reabertura dos estabelecimentos em condições de segurança. Todos os hotéis da região aderiram ao Selo Clean & Safe, assim como a generalidade dos estabelecimentos de restauração e similares do concelho de Ourém. Mas Purificação Pereira Reis teme que “sem a abertura de fronteiras e sem a recuperação das viagens internacionais será difícil que o turismo religioso atinja números com alguma expressão”.

A presidente da direção da Aciso acredita que um plano europeu conjunta que permitisse uma reabertura concertada, pelo menos no espaço europeu, seria uma forte ajuda à retoma do setor. Mas reconhece que mesmo que haja regras conjuntas no espaço europeu que permitam alguma retoma, no caso do segmento do turismo religioso existe sempre o problema da ausência de turistas de mercados essenciais como os países da América do Sul e alguns países asiáticos. “A retoma será certamente mais lenta e dolorosa para este segmento”, prevê.

No que diz respeito a uma estratégia nacional para a retoma do turismo, Purificação Pereira Reis é apologista de que os empresários necessitam hoje, sobretudo, “de uma estabilização de regras que lhes permita olhar o futuro próximo e planificar e organizar o trabalho, mesmo com todas as condicionantes e indefinições externas”. Ou seja, “precisam de olhar para um plano de desconfinamento com a confiança de que ele se vai concretizar”, sentindo confiança no avanço rápido do processo de vacinação e precisando de condições para a recuperação de rotas aéreas internacionais. Por outro lado, afiança, os empresários precisam “que haja uma aposta forte na promoção turística direcionada para os primeiros países a conseguirem as necessárias condições para viajar”, sabendo que haverá uma grande competição entre os destinos turísticos e que é “fundamental a existência de boas campanhas que garantam grande capacidade de captação dos primeiros fluxos turísticos”.