Açores: “2022 poderá ser o ano em que se consolida a capacidade do setor”

Ambitur abordou as várias regiões do país de forma a saber que prioridades e desafios apontam para o desenvolvimento do turismo e quais as expectativas em relação aos próximos tempos.

Mário Mota Borges, secretário regional dos Transportes, Turismo e Energia do Governo dos Açores, admite que 2021 pode ser descrito como “uma montanha-russa de emoções e acontecimentos”. Se os primeiros cinco meses foram “devastadores”, houve depois seis meses de “franca recuperação, que nos demonstrou a importância do mercado interno e de proximidade”. Já no final do verão, diz o responsável, “havia mesmo um grande otimismo para 2022 e a perceção de que se estaria a virar a página da pandemia, mas o final do ano, com o surgimento da nova variante Ómicron e os subsequentes cancelamentos de reservas trouxe, novamente, um abalo anímico ao setor”. O governante reconhece que não é possível afirmar que 2021 foi um ano negativo, pois houve seis meses em que todas as expectativas foram superadas, mas alerta que “temos que perceber que mesmo o «sucesso» do verão não foi o suficiente para suprir as perdas que já vinham acumuladas e que foram agravadas no último mês do ano”. E é neste contexto que Mário Mota Borges se mostra dividido quanto a encarar este novo ano entre algum otimismo e “outros argumentos que nos prendem ao pragmatismo e a alguma cautela”.

O entrevistado explica à Ambitur.pt que o empresariado da região se mantém cauteloso relativamente a algumas temáticas, sobretudo as conjunturais”. A verdade é que a pandemia teve e tem efeitos pesados nas empresas e o final de 2021, com novas medidas de contenção e os resultantes cancelamentos e diminuição de reservas foram “claramente penalizadores para empresas e negócios que já estacam debilitados”. Mas embora partilhe destas preocupações, o secretário regional de Turismo dos Açores também identifica sinais positivos nas empresas do setor que estão a preparar a época alta de uma forma diferente daquele que se verificou no ano passado, até porque o mercado já deu sinais positivos, explica. E o surgimento de novas companhias aéreas interessadas em voar para os Açores reforça esses sinais. Assim, “perspetiva-se um aumento do investimento e um reforço da capacidade de resposta em comparação com 2021. Não existindo nenhum acontecimento inesperado, 2022 poderá ser o ano em que se consolida a capacidade do setor”.

Prioridades e desafios para a região

Num momento em que, segundo Mário Mota Borges, “não há escassez de desafios no turismo”, sendo alguns transversais a todas as regiões e países, o responsável aponta ainda assim alguns dos que considera mais prioritários nos Açores. E começa desde logo pela necessidade de se continuar a apoiar as empresas para se manter a capacidade produtiva e os níveis de emprego. Recorda que a nova variante Ómicron trouxe um “grande revés” ao setor, intensificando a incerteza, e continuará a ter “profundos impactos”, pelo menos no decorrer do primeiro trimestre de 2022. Tendo em conta das dificuldades dos últimos dois anos, “temos que ter a consciência de que muitas empresas do setor estão no limiar da sobrevivência“, alerta o interlocutor.

Outro desafio identificado que emergiu com a pandemia foi a falta de mão-de-obra no setor, mesmo na época baixa, mas particularmente crítico na época alta, e isso “induz a uma necessidade de qualificação e requalificação de pessoas e à procura da atração de talento”, esclarece. Ora “para uma região que se está a desenvolver e apresenta ainda grande potencial de crescimento, esta é uma dificuldade acrescida e é necessariamente uma prioridade”, confirma Mário Mota Borges.

Também a incerteza internacional é um dos grandes desafios da atualidade, algo que ficou bem patente no final de 2021. E associada a esta incerteza está o desafio da confiança e da promoção, aponta o secretário regional de Turismo dos Açores, “que está e vai dominar o espectro competitivo a curto e médio prazo”.

A nível estrutural, “é prioridade também do Governo dos Açores a aprovação e implementação da revisão do Plano Estratégico e de Marketing do Turismo dos Açores (PEMTA) e do Programa de Ordenamento Turístico da Região Autónoma dos Açores (POTRAA) que, em conjunto, definem o modelo de desenvolvimento turístico da região, o qual requer uma particular atenção nesta conjuntura e já preparando as linhas de evolução que vão emergindo das orientações e prioridades da União Europeia“, sublinha o responsável.

Neste contexto, a transição digital e energética serão temas igualmente desafiantes para o setor, acredita Mário Mota Borges, nomeadamente pelas características das empresas e entidades que o compõem, mas também pelo posicionamento como destino sustentável que os Açores têm conquistado. “Como prioridade, a sustentabilidade em si mesma é um grande desafio, pois é também preciso saber crescer e perceber as limitações do destino e da sua proposta de valor”, diz.

Há ainda o desafio de continuar a trabalhar a compreensão e a perceção desta indústria como criadora e distribuidora de valor para sociedade e elevação da qualidade de vida na região. “Na prática, estamos a falar de muitos desafios de âmbito conjuntural e estrutural, mas onde a pandemia tem uma influência muito vincada”, resume o responsável.

Assumindo todos estes desafios e prioridades, o secretário regional de Turismo dos Açores reconhece que “temos que ter alguma precaução nas previsões, pois a incerteza é significativa”. No entanto, “há boas expectativas sobretudo para a época de verão”. E aponta que há nos Açores uma diversidade inédita de companhias aéreas, algumas delas estreantes, que ligarão o destino à América do Norte e Europa. o arquipélago terá assim, pela primeira vez, a United Ailines, a British Airways e a Transavia, que se juntam à Lufthansa, Swiss e Iberia, que iniciaram operações o ano passado, além da Ryanair, TAP e Azores Airlines. Há ainda as operações mais pontuais, como a da TUI.

“Temos, naturalmente, uma perspetiva positiva, mas reconhecemos que o primeiro trimestre do ano pode ser muito difícil, quase em linha do que aconteceu em 2021. E há sempre a esperança que não surja mais uma variante ou mais uma evolução negativa da pandemia”, conclui Mário Mota Borges.