A Ambitur retoma a conversa com as várias associações nacionais ligadas ao setor do turismo para conhecer melhor a realidade dos seus associados e do trabalho que estas têm feito durante a pandemia.
Elidérico Viegas, presidente da AHETA – Associação de Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve, acredita que as medidas anunciadas pelo Governo de apoio à retoma progressiva “não se enquadram nas necessidades do setor empresarial do turismo, estando desajustadas das empresas hoteleiras e turísticas nacionais e regionais”. Para o dirigente associativo, numa primeira fase, no início da pandemia, o Governo tomou medidas que respondiam às necessidades empresariais da altura, tais como o lay-off simplificado, moratórias ou linhas de crédito. “Mas não soube responder, adequadamente, ao acentuar da crise”, diz. O que significa que as medidas iniciais foram tomadas no pressuposto de que a crise estaria resolvida até ao final do mês de junho, o que não se verificou de todo e até se agravou ainda mais, acrescenta o responsável.
A AHETA considera pois que “esta realidade justificaria, só por si, a prorrogação dessas medidas, assim como a necessidade de as reajustar e adaptar às novas realidades decorrentes do acentuar da crise”. No atual contexto, diz Elidérico Viegas, “os custos sociais e económicos para o nosso país vão ser enormes, e consubstanciam-se num aumento exponencial do desemprego e no número de insolvências”.
Na associação existe hoje uma perceção mais precisa da dimensão da crise e das suas consequências no tecido empresarial e económico, quer do Algarve, quer do país. “O regresso a alguma normalidade só irá verificar-se a partir da Páscoa do próximo ano, embora estejamos conscientes que a retoma dos fluxos turísticos será lenta, progressiva e muito prolongada, estendendo-se por vários anos”, esclarece o responsável.
Pelo que Elidérico Viegas não tem dúvidas em alertar que “torna-se necessária e urgente a aprovação de medidas que visem apoiar a operação e a tesouraria das empresas”, tais como o prolongamento do lay-off simplificado, apoio ao emprego, linhas de crédito excecionais, prolongamento das moratórias bancárias e fiscais, entre várias outras.
No que diz respeito ao contacto com a tutela, o presidente da AHETA reconhece que o Governo tem privilegiado o diálogo com os parceiros sociais, enquanto estruturas de cúpula, em detrimento das estruturas associativas regionais. E diz que “no caso do turismo, sendo o Algarve a maior e mais importante região turística portuguesa, esta postura é lesiva do interesse público regional e nacional”.
A associação já apresentou, por escrito, ao Governo – Primeiro Ministro, ministro da Economia e secretária de Estado do Turismo – um memorando com propostas concretas que visam responder às especificidades da oferta turística regional. Mas admite que “embora tenha havido algum diálogo com o Governo, temos de assumir que o mesmo tem sido insuficiente e ficado muito aquém do que seria necessário e desejável”. Elidérico Viegas estranha mesmo que, face à dimensão da crise que afeta o turismo e o Algarve, o Governo ainda não tenha visitado, formal e oficialmente, a região.
O dirigente associativo lembra que o ministro de Estado, Economia e Transição Digital anunciou na Assembleia da República, e o Primeiro Ministro corroborou, a aprovação de um Plano Específico para Recuperar o Turismo do Algarve. “Este plano, contudo, permanece na gaveta do esquecimento – uma prática portuguesa que teima em manter-se, mesmo em períodos de crise grave e acentuada como aquela que o país vive intensamente”, critica.
Para Elidérico Viegas, o facto de o turismo ser o maior exportador nacional exige a implementação de um Plano Estratégico destinado a relançar uma atividade económica prioritária para a economia nacional. “É hoje consensual que o estímulo da economia regional e nacional passa pela concretização de investimento público em infraestruturas e equipamentos que ainda não temos, nomeadamente no Algarve, assim como medidas de curto prazo para apoiar a operação e a tesouraria das empresas, apoio ao emprego, prolongamento das moratórias, linhas de crédito bonificadas, recapitalização de empresas viáveis, incluindo a criação de uma Sociedade de Capital de Risco e a atribuição de subvenções a fundo perdido, para além de medidas fiscais, sem esquecer a promoção turística”. E avisa: “Este plano era para ontem e não pode resultar dos calendários políticos e partidário”.