AHETA: “É urgente dirigir uma atenção especial à região” do Algarve

A Ambitur falou com várias associações do setor do turismo para perceber como sentem o atual momento que se vive em Portugal, o que esperam do próximo Governo e que desafios terão de enfrentar as empresas que representam nos próximos tempos.

Elidérico Viegas, presidente da Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve (AHETA), confirma que “o setor encontra-se descapitalizado” e “muito vulnerável”, estando “incapaz de responder aos desafios competitivos na fase de retoma”. Por esta razão, o responsável defende que o próximo governo que sair das eleições legislativas marcadas para 30 de janeiro “deve atender às especificidades da maior e mais importante região turística portuguesa, dando cumprimento ao anunciado na Assembleia da República, designadamente no que se refere à aprovação de um Plano Específico para Recuperar o Turismo do Algarve, dispondo de meios financeiros próprios e gestão autónoma, desenvolvida em parceria com o setor privado”. Plano este que deve, segundo o próprio, contemplar subvenções a fundo perdido e apoios à operação e tesouraria das empresas.

Por outro lado, continua o dirigente associativo, deve ser implementado um Plano de Formação de Ativos nas empresas durante a estação baixa, em parceria com o setor privado, com vista a fixar trabalhadores ao turismo e às empresas, bem como melhorar os níveis de produtividade e reforçar a competitividade através da melhoria dos serviços prestados.

Elidérico Viegas aborda ainda a questão da fiscalidade cuja redução, no seu entender, e no atual contexto, “assume um papel decisivo e muito importante no combate competitivo entre destinos turísticos”.

Olhando para mais longe, a médio e longo prazo, o entrevistado acredita que o novo governo deve implementar medidas que “tendo sido anunciadas ainda não saíram da gaveta”, nomeadamente no que se refere ao reforço das linhas de crédito. Isto porque, recorda, a situação económica e financeira das empresas hoteleiras e turísticas do Algarve está sustentada na concretização de investimentos em capital intensivo, com recurso a capitais alheiros e, em particular, em soluções de financiamento de médio e longo prazo, e de operação apoiada pelo crédito bancário a curto prazo.

Além disso, a forte dependência da região em relação ao transporte aéreo, aliada ao facto de a TAP “nunca ter tido uma estratégia vocacionada para o turismo do Algarve”, aponta Elidérico Viegas, justifica um programa de apoio às companhias aéreas que operam no aeroporto de Faro, já que “os elevados prejuízos da TAP não podem ser imputados à região e ao seu turismo”.

Acresce ainda, continua, que o acentuar da concorrência numa fase de retoma implica um reforço das verbas alocadas à promoção turística externa.

Por outro lado, e prosseguindo com um pensamento a médio e longo prazo, o presidente da AHETA considera que deve ser criado um Plano de Incentivos à Transição Energética, apoiando os investimentos em energias renováveis, sendo esta a “melhor forma de responder, eficazmente, ao aumento exponencial dos custos de eletricidade, o segundo custo de exploração a seguir ao pessoal”.

Em suma, “é urgente dirigir uma atenção especial à região”, afirma o responsável à Ambitur.pt, frisando que “só a definição de um conjunto de medidas excecionais pode contribuir para preservar postos de trabalho e permitir às empresas garantir a sua sobrevivência económica e financeira”. O estímulo da economia regional do turismo passa assim, na sua opinião, pela concretização de investimento público em infraestruturas e equipamentos não existentes, “atendendo ao ancestral tratamento de desfavor dado ao Algarve pelos sucessivos governos nesta matéria, quer ao nível da valorização e requalificação da chamada envolvente, quer no que se refere ao assumir de promessas não cumpridas, como a construção de um novo Hospital Central”, acusa.

Quanto à atividade turística das empresas, Elidérico Viegas admite que o negócio vai depender da evolução da pandemia, a nível europeu e mundial, mas reconhece que “a recuperação será lenta, gradual e progressiva”. Para o dirigente associativo, o turismo não pode suportar-se somente no mercado interno, apesar da sua importância “estratégica e prioritária”. E esclarece que os mercados externos representam, em média, mais de 65% do negócio das empresas hoteleiras e turísticas do Algarve. “Se tudo correr bem, como esperamos, iremos assistir a um aumento da procura externa a partir da Páscoa, embora muito aquém da pré-pandemia”. Mas se a pandemia continuar a evoluir negativamente, o ano turístico “será mais ou menos idêntico ao verificado em 2021”, ou seja, refere, “mercado interno nos meses de verão e procura externa residual”. Conclui dizendo que “é isso que queremos evitar a todo o custo”.

Neste momento é pois necessário “esperar o melhor e prepararmo-nos para o pior”, sublinha o representante da AHETA, que recorda que, sem apoios financeiros consistentes, muitas empresas não vão resistir. Desde outubro de 2019 que o Algarve enfrenta “a maior estação baixa da sua história”, sustenta, defendendo que “os poderes públicos, nomeadamente o governo, não podem continuar a ignorar as realidades da oferta turística do Algarve, fazendo como o cavalo do inglês – «quando se habituou a não comer, morreu»”.