A Ambitur.pt está a auscultar as várias associações do país no sentido de que partilhem com os nossos leitores a sua visão, 15 dias depois da declaração do Estado de Emergência.
Elidérico Viegas, presidente da AHETA (Associação dos Hotéis e Empreendimentos Turísticos do Algarve), deixa-nos a sua visão.
Como caracteriza a AHETA, depois de 15 dias da ativação do Estado de Emergência, o estado das empresas vossas associadas?
A situação é clara. Os hotéis e empreendimentos turísticos do Algarve ou já se encontram encerrados, total ou parcialmente, ou preparam-se para o fazer no curto prazo. A melhor forma de ilustrar a situação atual é reconhecer que o negócio está reduzido a zero. Acresce que os empreendimentos encerrados parcialmente também não têm hóspedes.
Existe alguma previsão de curto prazo relativamente ao futuro da atividade das mesmas?
No atual contexto, infelizmente, não conseguimos ser optimistas. É nossa convicção que a recuperação só irá iniciar-se a partir da Páscoa do próximo ano e, mesmo assim, de forma muita lenta e progressiva.
E isto porque vai ser preciso restabelecer a confiança nos novos circuitos comerciais que, fatalmente, vão emergir desta crise e sem os quais o negócio não funciona.
Quer queiramos quer não, o turismo está suspenso por tempo indeterminado e sem fim à vista. O mundo, aliás, está suspenso e vai demorar a retomar o seu funcionamento normal.
O que preocupa mais a associação neste atual momento de gestão de crise?
A insuficiência das medidas anunciadas para esbater com sucesso a tragédia causada por esta crise cruel, sem fim à vista e de consequências desastrosas para as empresas, para o turismo e para a economia em geral.
As medidas aprovadas até agora, apesar de irem na direção correta, ficam muito aquém do que é necessário e desejável.
O governo tem de ser mais ousado e audaz nas medidas que tem vindo a tomar, nomeadamente no que se refere à injeção de liquidez nas empresas, caso contrário iremos a assistir à extinção de postos de trabalho e a despedimentos coletivos em massa.
As nossas preocupações centram-se, precisamente, no facto do nosso principal fornecedor de turistas, o Reino Unido, ir enfrentar uma pandemia à dimensão do próprio País e, portanto, muito elevada e cujas consequências e impactos são difíceis de avaliar com rigor, designadamente ao nível do poder de compra dos britânicos e da viabilidade económica de Operadores Turísticos, Companhias Aéreas, etc. assim como à estabilidade dos actuais circuitos comerciais, ou seja, canais de comercialização e distribuição, transportadores, fornecedores de serviços, etc.
Temos de deixar de fazer o possível para passar a fazer o que é preciso. E isso até hoje ainda não foi feito.
Têm sido auscultados pelo Governo e participado no desenhar de soluções já aplicadas?
As nossas posições e propostas têm sido veiculadas através da Confederação do Turismo de Portugal, enquanto estrutura de cúpula do setor a nível nacional e da qual somos vice-presidentes.
Porém, embora até ao momento, o governo tenha privilegiado as negociações e conversações com os chamados parceiros sociais, incluindo a CTP, a verdade é que, mais tarde ou mais cedo, vai ter de descer à realidade das empresas, ou seja, vir para o terreno e ouvir os atores principais – os empresários e as suas estruturas representativas.
A crise é demasiado séria e profunda para ser tratada apenas nos corredores do poder central e por estruturas centralizadas. Os consensos aí gerados correm o risco de ser mais aparentes que reais e nem sempre retratam os verdadeiros problemas da economia real.
As atuais soluções precisarão de ser reforçadas, e em que altura, se for mantido o Estado de Emergência?
A altura é agora. Com ou sem Estado de Emergência, todos já percebemos que as soluções têm de ser substancialmente reforçadas e os prazos para o cumprimento de obrigações fiscais, amortização de créditos e outras alargados, diria mesmo, muito alargados.
Há números de que se possam falar ao nível do emprego destruído até agora, e naquele que poderá ser o curto prazo?
Todos estamos de acordo que é preciso esbater a catástrofe do desemprego, mas não restam dúvidas que isso não vai ser possível, sobretudo se as medidas que estão em vigor não forem reforçadas e melhoradas, designadamente ao nível do lay-off, acesso às linhas de crédito, isenção de alguns impostos, etc.
A situação só não é mais visível porque as empresas optaram por atribuir férias antecipadas e recuperações, mas a situação vai alterar-se rapidamente à medida que estas vão terminando.
É verdade que muitas empresas, perante a expectativa de alguma retoma a partir dos meses de junho/julho, recorreram ao lay-off simplificado, mas isso será, obviamente, temporário, face à dimensão da crise.
O lay-off deve ser sempre entendido como uma medida de curto prazo.