AHP: “A taxa de ocupação da hotelaria nacional até final do ano não ultrapassará os 30%”

A Associação da Hotelaria de Portugal (AHP) apresentou, hoje, os resultados da 3.ª fase do Inquérito “Impacto da Covid-19 na Hotelaria”, realizado junto dos seus associados, entre 15 e 29 de maio. 

90% das empresas do setor recorreu a lay off

40% das empresas admite ter recorrido às linhas de financiamento disponíveis, apresentando o pedido de apoio sobretudo em abril (70%). Cristina Siza Vieira, CEO da AHP, comenta assim que esta “não foi a primeira opção das empresas”, na medida em que “ainda havia tesouraria em muitos bons anos para trás onde, efetivamente, a hotelaria estava mais capitalizada e tinha solvido dívida”. A Linha de Apoio à Economia foi a mais concorrida (88,14%) seguida do Apoio à Tesouraria das Microempresas (7,73%).

O primeiro custo fixo das empresas é “o pagamento aos trabalhadores” e, desta forma, cerca de 90% das empresas do setor recorreu ao lay off e pelo período mais alargado de três meses (64,50%). Ainda 75,22% admite alterar o regime dos trabalhadores em lay off, no sentido de passar da suspensão do contrato de trabalho para a redução horária.  Mais de metade das empresas (55,35%) suspendeu o contrato de trabalho a cerca de 80-99% dos trabalhadores mas cerca de 60% manteve menos 5% dos colaboradores em trabalho regular. Já 33,3% foram as empresas que não mantiveram qualquer colaborador em trabalho regular. O regime de lay off não permite despedimentos mas das 9,73% empresas que não recorreram ao mecanismo 99% não despediu qualquer trabalhador.

Resumindo:

  • 12% das empresas colocaram todos os trabalhadores em suspensão de contrato de trabalho;
  • 95% das empresas colocaram pelo menos 50% dos colaboradores em suspensão do contrato de trabalho;
  • 63% das empresas colocaram até 30% dos trabalhadores em redução do período normal de trabalho;
  • 99% das empresas não despediu nenhum colaborador;
  • 25% das empresas dispensaram colaboradores em regime experimental (até 5% dos trabalhadores);
  • 36% das empresas não renovaram contratos a termo (até 5% dos trabalhadores).

“A taxa de ocupação da hotelaria nacional não irá ultrapassar os 30%”

A AHP quis também saber qual foi a opção dos clientes em relação ao cancelamento das reservas e Cristina Siza Vieira recorda que a lei dos vouchers data 23 de abril. Os resultados mostram que “o grosso dos clientes optou por reagendar a estada (33,99%) ou pela emissão de um voucher (19,60%)”, o que “é sinal de confiança”. No entanto, 46,40% quis a devolução.

Em abril, 80% das unidades estavam encerradas, valor que em maio desceu para 72%. Nos meses seguintes as unidades perspetivam abrir portas, contudo cresce a percentagem daquelas cuja capacidade e serviços vão estar reduzidos até 50% (38,35%) ou até 80% (17,48%), em junho. “A percentagem daqueles que estão abertos com o total da sua capacidade é residual”, conclui a CEO da AHP. Já no último trimestre do ano, “há uma expetativa muito positiva, mais de 80% estimam já funcionar a total capacidade”, acrescenta.

Cerca de 90% dos hoteleiros previa até 20% de ocupação em reservas e 10% entre 20-40% para o mês de maio. Aliás, a ocupação em reservas para os próximos meses, até outubro, mantém-se entre 20-40%. Ou seja, “a média é 30% de ocupação, o máximo esperado até ao final do ano”. Cristina Siza Vieira é peremptória: “A taxa de ocupação da hotelaria nacional até ao final do ano não irá ultrapassar os 30%”.

Quanto aos principais mercados, as reservas estão a ser feitas pelo mercado nacional (34,7%), Espanha (20,7%) e Reino Unido (16,8% )além de França e Alemanha. A responsável nota um interesse “tímido” da Bélgica, Suíça e Itália em viajar para Portugal. Os principais canais de distribuição continuam a ser a Booking (40,18%) mas a CEO da AHP atenta que “o website próprio tem ganho, neste período, particular relevância” com 36,36% do total de reservas.

Em relação aos preços, Cristina Siza Vieira tranquiliza que “não vai haver saldos na hotelaria” visto que o preço praticado será idêntico ou inferior até 20%. Existe uma intenção de 40% no ajuste de preço, com promoções e campanhas, no fundo “ferramentas saudáveis para lidar com o mercado que está também comprimido”. Ainda assim, maio foi o período que registou “maiores saldos” com 40% em algumas ofertas. Há que ter em conta que os custos vão crescer, com a AHP a estimar ainda que o investimento mensal na implementação de medidas de higiene e segurança seja à volta de 3818,04 euros por hotel e 40 euros por quarto “aberto”, frisando que “há ainda uma redução da capacidade”.

Depois, 98% das empresas defende a necessidade de apoios específicos para o setor após a reabertura, entre as quais, em primeiro lugar a continuação do lay off, seguida por medidas de apoio fiscal, apoio para aquisição de Equipamento de Proteção Individual (EPI) e ainda financiamentos a fundo perdido.

Os hoteleiros julgam que as principais condicionantes à operação são, principalmente, o tráfego aéreo (28,36%) e o medo de viajar (23,76%). A inexistência dos tais apoios financeiros e a impossibilidade de lay off é a 3.ª maior condicionante a apontar (14,10%). O grau de confiança da hotelaria portuguesa na normalização do Turismo, em 2020, entre 1 e 5 encontra-se no nível 2 (43,88%) e 1 (37,23%), logo, nos níveis mais baixos.

Os cenários da queda da ocupação e receita 

As previsões para a queda da taxa de ocupação no 1.º trimestre do ano eram, na 1.ª fase do inquérito em março, eram maioritariamente de 10% e até 50%. Já na atual e última fase de inquérito, as previsões apontam para uma queda entre 80-89% na taxa de ocupação. Os mesmos valores são apontados, nas duas fases, para a queda de receita. A quebra de receita para o ano todo de 2020 situa-se entre 60-69%.

A AHP recorda que foram registadas 58 milhões de dormidas na hotelaria e um total de 70 milhões de dormidas em 2019 no País, e avança dois cenários de redução de dormidas para este ano:

  • Menos 60% – 34,8 milhões de dormidas perdidas;
  • Menos 80% – 46,4 milhões de dormidas perdidas;

As receitas turísticas em 2019 totalizaram 18.437 milhões de euros, com um peso da hotelaria de 24%. As receitas previstas para a hotelaria são agora 4,48 mil milhões de euros. Os dois cenários previstos:

  • Menos 70% – 3,2 mil milhões de receita perdida;
  • Menos 80% – 3,6 mil milhões de receita perdida.