AHP: Mais de 300 mil noites canceladas devido ao COVID-19

346 497 dormidas foram já canceladas devido ao COVID-19. O número faz parte dos resultados de um inquérito, apresentado esta quinta-feira em Lisboa, realizado pela Associação de Hotelaria de Portugal (AHP) sobre os efeitos do novo coronavírus no setor. 

Os efeitos do vírus mostram-se de forma “crescente consoante o tempo vai passando”, indicou Cristina Siza Vieira, vice-presidente executiva da AHP. Quando questionados, 71% dos associados dizem que a taxa de cancelamentos tem sido superior a períodos homólogos: “90% dos inquiridos em Lisboa diz que a taxa de cancelamento tem sido superior ao normal”, especifica a responsável, indicando que os hoteleiros do Norte (65%), Alentejo (57%) e os Açores (54%) também registam valores anormais de cancelamento. Já na Madeira e no Algarve, a grande maioria dos hoteleiros (78% e 61%, respetivamente) não reportavam valores anormais. “Estavam imunes aos cancelamentos”, indica. 

A onda de cancelamentos foi extremamente rápida: a 3 de março, 38% dos hoteleiros inquiridos indicavam que o novo coronavírus não era um motivo com “significado expressivo” no número de anulações de reservas. No entanto, a 9 de março, este número tinha caído para os 17%. A esta data, 44% dos hoteleiros já indicavam que o COVID-19 era o motivo de mais de 10% dos cancelamentos registados. Lisboa e Norte foram as regiões mais afetadas com o ritmo de reservas futuras a abrandar: 46,7% dos hoteleiros da região de Lisboa e 46,8% dos hoteleiros da região Norte registam quebras de “mais de 10%”.

A nível nacional, 46% dos hoteleiros acreditam que a Taxa de Ocupação (TO) das suas unidades registará uma quebra de até 5%. No entanto, 20,3% prevê que a quebra de TO será de até 10% e 9,8% estimam mesmo que a quebra será superior a 30%. A receita dos hotéis também foi algo averiguado pela AHP neste inquérito: em termos percentagem, mais de 21,3% dos hoteleiros prevêem uma queda de 30% na receita. Por seu turno, 25,9% dos hoteleiros são mais positivos, prevendo uma queda na receita do hotel de até 5%. Cristina Siza Vieira refere que este item de análise advém de muitos fatores: “Cada vez mais, as receitas totais da hotelaria vêm muito mais do que de vender camas”, sublinha, sustentando que a “descida abrupta de reuniões, congressos ou almoços é muito mais impactante na estimativa de perda de receita do que na estimativa de perda da TO”.  

O inquérito foi realizado entre os dias 2 e 9 de março aos cerca de 400 associados da AHP, envolvendo 10 perguntas. A taxa de amostragem é de cerca de 53%. 

Perdas na hotelaria podem ir até aos 800 milhões de euros

Depois do inquérito feito aos hoteleiros, o cenário projetado pela AHP não é positivo. As previsões da Organização Mundial do Turismo (OM) de 4% de crescimento, no início do ano, inverteram-se para crescimento negativos de -1% a -3%. A OCDE também “reviu em baixa o crescimento da economia”, afirma Siza Vieira, destacando que a Zona Euro está “fortemente impactada. Não há dúvidas de que estamos perante uma pandemia económica”. A responsável recordou que, em 2009, “atingimos o pico da crise económica”, onde o turismo teve uma “queda de -4% de crescimento”, destacando que a estimativa anda “nos -3%”.

Usando os dados de 2019 do Instituto Nacional de Estatística (INE) e do Turismo de Portugal, em que, entre 1 de março e 30 de junho, registaram-se 14,6 milhões de dormidas. A partir destes números, a AHP chegou a dois cenários: um “mais conservador” que prevê a perda de até 30% nas dormidas neste período. “Estamos a falar de 4,4 room nights perdidas. Se tivermos um cenário B de menos de 50% das dormidas, estamos a falar de uma perda na hotelaria direta de 7.3 milhões de dormidas”, avisa Cristina Siza Vieira. Quanto às perdas de receita, a projeção é enorme: “Se tivermos uma perda na ordem dos 30% nas receita turísticas internacionais, temos uma perda direta na hotelaria de 500 milhões de euros de receitas perdidas; se tivemos menos 50% da receita no mesmo período, temos uma estimativa de perda de 800 milhões de euros”. 

A conferência de imprensa serviu ainda para Cristina Siza Vieira anunciar que a AHP lançou recentemente um guia de recomendações que inclui informações úteis e medidas preventivas. Trata-se de um conjunto de boas práticas e orientações para a população em geral”, reunidas a partir do estudo cuidado das recomendações mais atuais dos organismos competentes, tanto a nível nacional como internacional.

Taxa de Ocupação pode andar abaixo dos 50%

Aos jornalistas, o presidente da AHP, Raúl Martins, perspectivou que, até ao final de 2020, as empresas hoteleiras registem uma queda de 20% nas receitas. Olhando para Madrid que está, atualmente, com uma “taxa de ocupação de 15%”, o empresário acredita que, nos meses de abril e maio, o cenário em Portugal será de “menos 50% na taxa de ocupação. Chegaremos ao fim do ano com menos 20% das receitas”, assume o gestor. A somar a isto, está a “crise de tesouraria” que se avizinha na hotelaria, designadamente em “garantir aos empregados as remunerações que lhes são devidas”. Nesta matéria, Raúl Martins falou sobre as medidas que o governo colocou à disposição e que podem ser utilizadas pelos hoteleiros. “Mas as primeiras formas de ultrapassar a situação são a recuperação de horas e férias e podermos passar a ter crédito de horas sobre o trabalhador”.