AHP: “Vamos ter um prejuízo gravíssimo nesta época alta”

A AHP – Associação da Hotelaria de Portugal apresentou hoje o seu inquérito “Perspetivas de verão 2021”, realizado entre 7 e 25 de junho e ainda com um cenário “razoavelmente otimista”, frisa Cristina Siza Vieira, presidente executiva da AHP, já que não contemplava a quarentena obrigatória imposta aos turistas britânicos na chegada a Portugal desde 28 de junho, ou a inclusão de Portugal na lista vermelha da Alemanha a 29 de junho. E a responsável não tem dúvidas de que isso levou a um agravamento que não está refletido neste inquérito, apontando para que “vamos ter um prejuízo gravíssimo nesta época alta”.

Começando por analisar as intenções de encerramento por parte dos associados da AHP, verifica-se que entre junho e outubro houve uma diminuição na intenção de encerramento na hotelaria. Os valores máximos de aberturas verificam-se em setembro e outubro. Cristina Siza Vieira recorda que em junho de 2020 havia ainda 52% das unidades encerradas e, este ano, apenas 17%, com tendência para diminuir: 11% afirmam que estarão fechados em julho, diminuindo para 9% em agosto e para 7% tanto em setembro como em outubro. “Há uma clara intenção de abertura”, confirma a responsável. E esta tendência é consistente em todas as regiões, com a taxa de encerramentos a diminuir de 17% para 7%, apesar de ser Lisboa que regista a taxa de encerramento mais elevada entre junho e outubro. Pelo contrário, nas regiões do Algarve e do Centro não há intenções de fechar hotéis até outubro, mês em que essa tendência regressa.

1ª quinzena de junho: Algarve e Alentejo com ocupação superior a 60%

Com a inclusão de Portugal na lista verde do Reino Unido, verificou-se um boom enorme de reservas por parte deste mercado mas depressa o país colocou Portugal no amarelo, a 3 de junho, obrigando a quarentena. A taxa de ocupação média, a nível nacional, nestas duas primeiras semanas, foi de 48%, sendo que Lisboa apresentou o pior registo (32% apenas) e o Alentejo a melhor taxa (61%).

A nível de preço médio, a AHP fala em 93,57 euros, muito abaixo do preço médio conseguido em Lisboa, por exemplo, que se ficou pelos 79,51 euros. Por outro lado, o Norte (127,91€), Algarve (120,78€) e Alentejo (109,74€) estiveram acima da média nacional.

No que se refere à estada média na primeira quinzena do mês de junho, verifica-se que permanece baixa, com a média nacional a situar-se entre uma e três noites. Cristina Siza Vieira fala de algum registo nas ilhas superior a cinco noites, mas admite ser residual.

Comparando com igual período de 2020, a taxa de ocupação é avaliada por 70% dos inquiridos como estando “Melhor” e “Muito Melhor”. Já o preço médio por quarto, apenas 17% dos associados da AHP salientam que esteve “Muito Melhor”, com a maioria a considerar que esteve “Melhor”.

O que esperar das reservas este verão?

Analisando as estimativas de reservas entre junho e outubro deste ano, os valores não são animadores, não se conseguindo fazer uma previsão para além dos dois a três meses, reconhece a presidente executiva da AHP. No Algarve, o mês de agosto apresenta neste inquérito o pico das reservas, mas cai em setembro. Tal como acontece na Madeira, com picos de ocupação em agosto. Já em Lisboa, verifica-se o pior registo de intenções de reserva no verão, diz Cristina Siza Vieira, com previsão de crescimento a partir de outubro. A média nacional das reservas é de 43% para junho e julho, 46% para o mês de agosto, voltando a cair em setembro para os 37% e aumentando em outubro para 50%.

A AHP quis saber qual a percentagem de reservas reembolsáveis e 54,4% dos inquiridos aponta entre 80% a 100%. Cerca de 67% do parque hoteleiro inquirido estima uma percentagem de reservas reembolsáveis entre 60% e 100%, verificando-se assim um aumento neste parâmetro.

Por outro lado, na estimativa da percentagem de cancelamentos, 54% dos inquiridos prevê uma taxa de entre 10% e 30%, e 30% apontam para uma taxa superior a 30%. “Acompanhando a baixa taxa de reservas, reservas last minute é o que se está a viver por parte da procura, por isso não constam como reservas, concretizam-se quase no imediato, e há assim uma baixa taxa de cancelamentos”, explica a responsável.

Outro elemento importante é perceber o peso das reservas de grupo, aqui medidas como sendo de mais de 10 quartos. “É esmagador, não há reservas de grupo”, alerta Cristina Siza Vieira. 71% dos inquiridos afirmam ter menos de 20% de reservas de grupo. E apenas 2,4% apontam para reservas entre 60% e 79%. “Há de facto uma tour operação muito reduzida para este período, com dependência das reservas individuais”, esclarece.

Verifica-se igualmente uma baixa utilização de vouchers, com 79% dos associados a indicarem ter menos de 20% das reservas provenientes de vouchers, o que significa que em 2020 já houve reembolsos.

Por mercados, verifica-se uma clara prevalência do turismo interno. 88% dos inquiridos incluem Portugal no TOP 3. O Reino Unido sai do TOP 3, com apenas 30% dos associados a indicarem-no como principal mercado. Além de Portugal, constam no TOP Espanha (69%) e França (50%). E Cristina Siza Vieira lembra que no que se refere aos mercados britânico e alemão, “as expectativas são muito baixas para o que se segue”.

Entre os principais constrangimentos às viagens apontados no inquérito, 40% indicam restrição de voos e limitação de mobilidade, com 26% a indicar o medo de ser infetado com Covid-19, e 25% a referir a incerteza e desconhecimento das regras no local de destino. Apenas 8% menciona a diminuição do orçamento para viagens.

Perspetivas de operação

Comparando com 2020 e 2019, a AHP quis saber quais as estimativas da taxa de ocupação, do preço médio quarto e da estada média para este verão. No que se refere à taxa de ocupação, mais de 60% dos inquiridos afirmam ter uma taxa de ocupação melhor ou muito melhor do que em 2020, e mais de 80% indicam uma taxa de ocupação pior ou muito pior do que em 2019.

A respeito do preço médio quarto, 70% indicam um preço médio igual ou melhor que em 2020, e perto de 75% apontam para um preço médio quarto pior ou muito pior que em 2019.

Por fim, na estada média, mais de 60% dos associados acreditam que seja igual a 2020, e cerca de 48% apontam uma estada média pior do que em 2019.

Analisando a questão da contratação sazonal, os associados da AHP foram questionados sobre se pretendem reforçar as equipas, e 68% responderam que têm intenção de reforça-las através da contratação em regime temporário. Mas destes 68%, 64% admitem estar com muitas dificuldades nesta contratação para este período, algo particularmente difícil na região do Algarve, Centro e algumas sub-regiões do Alentejo.

Mudou a forma como se faz turismo?

A AHP decidiu ainda analisar as tendências do turismo e obteve a confirmação de que 62% dos inquiridos acreditam que mudou definitivamente a forma como se faz turismo, com apenas 38% a acreditar que estas mudanças são temporárias. Mas há tendências que afirmam irão manter-se, nomeadamente maior peso do online/digital (21%), maior preocupação com higiene e segurança (21%), maior procura do turismo de natureza e turismo sustentável (16%), aumento das reservas last minute (15%), entre outras tendências.

Para quando a retoma?

36% dos inquiridos consideram que já poderão retomar as operações ao nível de 2019 no segundo semestre de 2022. Cristina Siza Vieira recorda que no inquérito anterior apontavam para o segundo semestre de 2024 como ano da retoma. Neste inquérito, a maioria aponta o período entre o segundo semestre de 2022 e o segundo semestre de 2023.35