AHRESP: É urgente “que todos estes novos apoios cheguem às empresas, de forma ampla, imediata e descomplicada”

Num esforço para compreender o impacto que a atual pandemia da Covid-19 está a ter sobre o turismo, a Ambitur.pt tem estado a ouvir as principais associações do setor. Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP- Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal, reconhece que “estamos a atravessar uma fase extremamente desafiante e exigente” e que o trabalho do Governo neste momento é “difícil”. Mas não hesita em afirmar que “frequentemente esse esforço fica aquém do necessário quando falamos nas necessidades mínimas de apoio às empresas”. Para a dirigente associativa, as empresas e os trabalhadores têm de ser compensados financeiramente pelos encerramentos e pela redução da atividade económica “sob pena de desaparecerem, e com elas os seus postos de trabalho”. Por isso defende “apoios globais, robustos, de fácil acesso e, preferencialmente, a fundo perdido”, algo que não tem acontecido. “Os apoios não são suficientes e alguns, que até já foram anunciados há meses, não chegaram efetivamente às empresas”, diz.

A AHRESP garante que tem vindo a monitorizar a situação das empresas suas associadas e a confirmar a sua “cada vez maior propensão para o agravar da sua condição financeira, obrigando-as a recorrer muitas vezes ao encerramento dos estabelecimentos e mesmo insolvência da empresa”, uma tendência que a associação diz ser fundamental contrariar. E explica que no quadro do Protocolo celebrado entre Autoridade Tributária (AT) e o INE, em que a AT transmite informação mensal àquela entidade obtida através do sistema E-fatura, conseguiu-se perceber que entre março e dezembro de 2020 houve uma quebra de 66,55% nas Atividades de Alojamento e de 43% na Restauração e Similares. Segundo o INE e o Banco de Portugal, num inquérito realizado às empresas e divulgado em março, os Setores do Alojamento e da Restauração concentraram a maior percentagem de empresas a assinalar uma redução no volume de negócios (96%). Complementarmente, no total da economia, 68% das empresas estimavam, segundo esse inquérito, conseguir permanecer em atividade por um período superior a seis meses, e nos setores do Alojamento e da Restauração apenas 26% das empresas afirmam conseguir subsistir por um período superior a seis meses. Nestes setores, 77% das empresas referiram ter reduzido o pessoal ao serviço, sendo essa redução superior a 75% do pessoal em 25% das empresas.

O último Inquérito da AHRESP relativo a fevereiro demonstra dados semelhantes: na Restauração e Similares 52% das empresas indicam estar com a atividade totalmente encerrada; 34% das empresas ponderam avançar para insolvência, dado que as receitas realizadas e previstas não permitirão suportar todos os encargos que decorrem do normal funcionamento da sua atividade; e que a quebra de faturação do mês de fevereiro para 83% das empresas foi de mais de 60%.

No Alojamento Turístico o cenário não é melhor: 27% das empresas indicam estar com a atividade suspensa; em fevereiro, 56% não registou qualquer ocupação. 16% das empresas ponderam avançar para insolvência por não conseguirem suportar todos os normais encargos da sua atividade. Para as empresas inquiridas, a quebra de faturação do mês de fevereiro foi devastadora: 57% das empresas registaram perdas acima dos 90%. Temos assim que todos os indicadores, venham de onde vierem, confirmam a situação preocupante das nossas empresas e da nossa economia.

“Se os apoios não forem suficientes, e rápidos, corre-se o risco da maioria das empresas não aguentarem até que se comece a sentir algum tipo de retoma, o que fará com que, quando os turistas regressarem – e estamos certos de que vão regressar – podemos ter muito menos empresas e muito menos gente qualificada para os receber, com quebra da qualidade do nosso produto turístico”, critica Ana Jacinto.

A responsável admite estar “prudente” quanto a uma retoma da atividade a nível europeu. Embora saiba que os clientes têm “muita vontade” de regressar à normalidade total, de poder ir a um restaurante ou passar um fim-de-semana ou férias num hotel ou alojamento local, a secretária-geral da AHRESP adianta que a verdade é que o controlo da pandemia tem tido altos e baixos e que “quanto mais realistas formos, menos desiludidos ficaremos com o que aí vier”. E sublinha que “há um caminho que tem de ser percorrido com muita competência, muita responsabilidade, muita sensatez, e com a maior previsibilidade possível, porque os negócios não se compadecem com alterações constantes e com tanta incerteza quanto ao seu funcionamento”. Para a responsável, a estratégia de desconfinamento apresentada aponta apenas traços gerais já que as regras concretas só serão conhecidas com a publicação dos diplomas.

No que se refere à procura, a associação espera poder contar já com alguma retoma este verão, talvez mais sustentada nos turistas internos, pois o turismo internacional está ainda muito dependente da evolução de novas variantes, das vacinas, do passaporte digital e do levantamento das restrições às viagens.

Para a AHRESP, as novas medidas de apoio às empresas, anunciadas na sequência da realização do Conselho de Ministros do passado dia 11 de março, são “positivas” e acolhem algumas das medidas propostas pela associação. Mas reitera que mais importante do que anunciar estes novos apoios é “fazer com que cheguem efetivamente a todas as empresas”. Ana Jacinto lembra que um ano após o início da pandemia, as empresas de restauração, similares e do alojamento turístico “atravessam o seu período mais crítico, sendo por isso da maior urgência que todos estes novos apoios cheguem às empresas, de forma ampla, imediata e descomplicada”. Recorda ainda que os “múltiplos formulários” e diferentes condições de acesso “são um enorme constrangimento para que as microempresas e as PME’s consigam aceder aos mesmos, “a que acresce a complexidade e a burocracia associada a cada uma das candidaturas”.

“Tal como temos vindo desde sempre a referir, é fundamental e urgente apoiar as 120.000 empresas da restauração, similares e alojamento turístico, e os 400.000 postos de trabalho diretos que têm a seu cargo, para além dos muitos milhares de empresas e de postos de trabalho que dependem de nós, e da nossa existência enquanto atividade económica”, frisa Ana Jacinto, que admite recear que estes apoios “não cheguem de forma atempada e generalizada”.

A AHRESP tem vindo a defender a necessidade do Governo e dos organismos associativos empresariais começarem já a trabalhar em conjunto para a definição de estratégias de recuperação da atividade turística. E considera que o Plano de Recuperação e Resiliência acabou por “menosprezar a importância do turismo para a economia nacional”. A associação, diz a responsável, enviou aliás, no âmbito da consulta pública, um documento que sugere a forma como o turismo podia ser essencial na Recuperação e na Resiliência do país. “Esperemos que as nossas propostas sejam atendidas, e que o Governo tenha em boa conta os projetos que beneficiam o setor turístico nacional”, resume.