AHRESP: “O novo Governo terá de olhar a atividade do Turismo com uma nova abordagem, mais global e integrada”

A Ambitur está a falar com várias associações do setor do turismo para perceber como sentem o atual momento que se vive em Portugal, o que esperam do próximo Governo e que desafios terão de enfrentar as empresas que representam nos próximos tempos.

Ana Jacinto, secretária geral da AHRESP, não hesita em afirmar que o grande desafio que o negócio turístico tem neste momento pela frente é a sobrevivência dos negócios e é nisso que a Associação da Hotelaria, Restauração e Similares de Portugal está concentrada. A responsável considera essencial manter a confiança dos consumidores e estar atento às suas necessidades e exigências que também mudaram com a pandemia. Por outro lado, reconhece que há um outro desafio que vai continuar a estar no topo das preocupações e que poderá mesmo comprometer a recuperação do setor: a falta de trabalhadores. “Há que encarar este problema com a seriedade que merece, tomar medidas concretas com vista à sua solução, que a AHRESP aliás já apresentou, e levar a cabo uma campanha de dignificação de todas as profissões destes setores, porque ao dignificarmos também lhes conferimos atratividade”, frisa.

Relativamente a prioridades para o próximo Governo que sair das eleições legislativas de 30 de janeiro, Ana Jacinto lembra que o turismo, a restauração e o alojamento turístico foram das atividades que mais acusaram os efeitos da pandemia e que, por isso mesmo, “as medidas que consideramos prioritárias têm forçosamente que se destinar a compensar este efeito negativo”. A necessidade de imposição de medidas sanitárias e restrições para combater a propagação da Covid-19 deve, segundo a AHRESP, ser acompanhada pelos apoios adequados, os quais devem chegar “de forma ágil e célere às empresas”.

Assim, no curto prazo, a dirigente associativa aponta que a prioridade do Governo deve passar por “garantir a sobrevivência das empresas”. E foi nessa medida que a AHRESP elaborou já um documento que prevê 20 medidas em cinco áreas fundamentais, “que são determinantes para as empresas e para os seus negócios”. Concretamente o incentivo ao consumo, fiscalidade, capitalização e financiamento das empresas, mercado de trabalho e legislação laboral/contratação coletiva. “Estamos agora a apresentá-lo aos vários partidos políticos, por forma a sensibilizá-los para estas matérias, e para que ouçam quem representa os agentes económicos que são quem está no terreno e quem luta todos os dias contra as adversidades, que são muitas”, esclarece a responsável. Entre as medidas defendidas pela associação está o prolongamento do Programa IVAucher, a baixa temporária do IVA nos serviços de alimentação e bebidas, o fim do pagamento especial por conta e a manutenção dos mecanismos que ainda permitem alguma flexibilidade laboral. “Esperamos que algumas destas medidas estejam em cima da mesa e possam integrar o próximo Orçamento do Estado”, alerta Ana Jacinto.

Apesar do curto prazo ser, para já, prioritário para a AHRESP, a secretária geral da associação reconhece que há também medidas estruturais que “não podem ser esquecidas”. É o caso “dos demasiados custos de contexto, financeiros e mesmo burocráticos, da pesada carga fiscal e dos custos do trabalho, da legislação laboral e da contratação coletiva, e um problema que existia na pré-pandemia mas que, contrariamente ao que esperávamos, se agravou, e que diz respeito à falta de trabalhadores, especialmente trabalhadores qualificados”. E frisa que “para que possamos efetivamente atingir objetivos que são comuns, o novo Governo terá de olhar a atividade do Turismo – que tanto contribui para a nossa economia – com uma nova abordagem, mais global e integrada, atacando os entraves nas mais diversas áreas”.

Quanto a expectativas para este ano, Ana Jacinto começa por referir que “desde o início da pandemia que monitorizamos a situação vivida pelas empresas dos nossos setores e, aqui chegados, sabemos que enfrentamos quebras nunca antes registadas, mesmo face a 2020, que foi o primeiro ano da pandemia”. E explica que as contínuas restrições ao funcionamento dos negócios, as limitações no acesso aos estabelecimentos, o teletrabalho, a falta de respostas eficazes ao nível dos apoios financeiros às empresas e, recentemente, os cancelamentos com que as empresas foram confrontadas no Natal e Ano Novo, contribuíram para perdas, agravamento do sobre-endividamento e algum desânimo. Perante este cenário, as estimativas da AHRESP apontam para um primeiro trimestre muito difícil. “Esperamos estar a caminhar a passos largos para o fim da pandemia, ou a sua transição para uma endemia, que nos deixe viver a nossa vida com mais normalidade, permitindo dessa forma uma recuperação e uma retoma, a partir do segundo trimestre deste ano”, indica. Mas, complementa, “quando isso acontecer é preciso que haja empresas e emprego, e que estejamos em condições para responder com qualidade e corresponder às expectativas dos nossos clientes, e isso só se consegue com uma política forte de apoio a estes negócios”.