Alentejo: As conchas dos Descobrimentos que deram nome a um Jardim em Alcáçovas
O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.

Continuamos em Alcáçovas, vila alentejana do concelho de Viana do Alentejo que, em outros tempos, foi palco de alguns momentos históricos carregados de simbolismo. Mesmo ao lado do Paço dos Henriques, onde se assinou o Tratado de Alcáçovas há vários séculos atrás, existe um pequeno jardim privado, desconhecido por muitos mas motivo de orgulho para os residentes. A verdade é que quem por lá passa não consegue ficar indiferente ao peculiarmente designado Jardim das Conchas, separado do edifício histórico pela Rua do Paço.
À primeira vista, o facto de entrarmos num espaço inteiramente decorado por conchas, búzios, caracóis e alguns elementos cerâmicos causa estranheza. Mas o “encantamento” surte efeito e em breve queremos perceber como foi que nasceu todo este espaço.
Joana Galvão, que também nos deu a conhecer o Paço dos Henriques, esclarece: “Está muito relacionado com os Descobrimentos Marítimos, com aquela potência que Portugal foi por via marítima. Mas também remete um pouco para a orientalidade”.
O espaço terá sido construído no século XVII, quando a arte dos embrechados estava na moda em Portugal. A verdade é que a explicação não se deverá apenas ao facto ser o gosto dessa época mas também pela simples razão de que era mais fácil e barato aceder a este tipo de materiais que vinham nas carracas, as embarcações marítimas de então.
Ao todo podemos encontrar 28 espécies de conchas, mas também faiança portuguesa, vidro de Murano e fragmentos de porcelana kraak que eram então incrustados nas superfícies a decorar e que dão origem uma espécie de puzzles que não nos cansamos de admirar.
Elementos que encontramos nas paredes e tetos exteriores e interiores da Capela de Nossa Senhora da Conceição, onde também é possível ver um pequeno oratório e onde anteriormente se encontrava a imagem de Nossa Senhora da Conceição que hoje está no Paço dos Henriques. Mas também na fonte, no tanque e nos muros que delimitam este jardim encantado, que nos transporta a outras eras e para momentos de serenidade e reflexão para o qual contribuem as árvores que por lá ainda fazem sombra ao sol e calor tipicamente alentejanos. Destas só as oliveiras são originais, mas atualmente aqui se encontram laranjeiras, loureiros, limoeiro, que se espalham numa espécie de labirinto onde os visitantes podem percorrer caminhos estreitos e explorar recantos.
Neste jardim não falta também um sistema hidráulico que transportava a água noutros tempos. E, em jeito de curiosidade, a sua própria Torre de Pisa, um antigo pombal totalmente destruído mas cujas paredes sobreviventes nos evocam este monumento tão fotografado em Itália pela sua estrutura inclinada que ainda hoje resiste.
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