O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região do baixo, norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.

É na capital do Alentejo que estamos hoje. Évora, também conhecida como “Cidade-Museu” pelo facto de o seu centro histórico ter sido classificado como Património Mundial da UNESCO em 1986 e pela sua história e arquitetura tão ricas, merece ser explorada com tempo e conhecimento. E nada melhor do que começar esta viagem de descoberta pelo Centro Interpretativo da Cidade de Évora, que promete ser o ponto de partida perfeito para melhor conhecer esta cidade do Alto Alentejo.
Assim, com a ajuda de Gustavo Val-Flores, técnico superior de História do município, fazemos uma visita guiada a este espaço, localizado no Palácio D. Manuel e que está de portas abertas desde 2021, depois de uma intervenção que veio requalificar este monumento nacional. Localizado no Jardim Público de Évora, o palácio é o que resta do grande conjunto palaciano de S. Francisco, já que foi a partir do Convento de S. Francisco que nasceu o novo Paço Real de Évora, onde a corte ficou alojada e onde se realizou o casamento do Infante D. Afonso, filho de D. João II, com a Infanta Isabel de Castela, em 1490. Coube ao rei D. Manuel I, que subiu ao trono em 1495, dotar este monumento de toda a sua grandiosidade e beleza arquitetónica.
Em 1865, o Palácio D. Manuel foi cedido à Câmara Municipal de Évora e utilizado desde então como Museu Arqueológico, teatro e espaço de exposições, até que, em 1881, o desmoronamento lhe destruiu as coberturas. Após obras de reabilitação, foi adaptado a casa de espetáculos públicos, tendo-lhe sido acrescentado um segundo piso com armação metálica. Novamente destruído em 1916, desta feita à conta de um incêndio, assim ficou até 1943, quando foi recuperado pelos Monumentos Nacionais.
E é com a missão de adaptar o espaço térreo do Palácio D. Manuel a um local que permita aos visitantes terem uma primeira ideia do percurso e história da “Cidade-Museu” que nasce o Centro Interpretativo, para funcionar como “charneira e ponto de partida para os turistas poderem começar a conhecer a cidade”, aponta o nosso guia. No fundo, detalha, é esta estrutura que o acolhe que está o que sobreviveu do Palácio de outros tempos, um lugar que também fez sempre parte da história da cidade.
E aqui encontramos uma demarcação daqueles que são os principais momentos cronológicos da cidade de Évora, aqueles que a historiografia definiu como essenciais para que hoje seja reconhecida como Património Mundial da Humanidade. Ou seja, ao longo da visita é possível explorar os 20 séculos de história que fizeram desta cidade aquilo que é hoje.
Sem recurso a audioguias, o espaço conta com painéis bilingues (Português e Inglês), para que o visitante possa deambular ao seu próprio ritmo, seguindo um percurso previamente delimitado cronologicamente que poderá durar entre 20 a 40 minutos.
Os painéis digitais ajudam a que a experiência seja mais imersiva e interativa. Mas se preferir o apoio de um guia para uma melhor orientação, também é possível.
A interatividade foi, aliás, um dos objetivos iniciais, com painéis táteis que permitem descobrir os vários períodos da história da cidade. Por outro lado, houve também um esforço grande a nível da ilustração: “achámos que, do ponto de vista visual, o analógico ainda seria a pedra de toque desta exposição”, explica-nos Gustavo Val-Flores, que como elemento de destaque neste centro opta mesmo pela “qualidade das ilustrações feitas em determinados momentos e estruturas da cidade”. Assim, é possível encontrar ilustrações que, de forma mais artística, representam momentos históricos específicos, de certa forma momentos decisivos para a cidade.
Apesar de não ser um espaço muito grande, a sensação é de que todos os elementos expostos têm espaço para respirar e brilhar à sua maneira, conduzindo o visitante numa viagem pela cidade através de recursos visuais e ilustrativos, bem como de apoio a nível de textos.
Gustavo admite gostar de dois elementos em particular neste Centro Interpretativo da Cidade de Évora: o primeiro é uma ilustração geral da história do Palácio D. Manuel e o outro a placa e as chaves do aqueduto, que estavam há muito guardadas no cofre do município, simbolizando os anéis de água do aqueduto da cidade, que é considerado uma das maiores obras de engenharia do século XVI. Estas peças estão perfeitamente conservadas e merece um olhar mais atento, até porque, ao simbolizar a quantidade de água de cada um dos conventos, estabelece uma hierarquia da importância dos conventos no contexto de Évora no século XVII, ou seja, quanto mais água levavam, mais importantes eram no contexto da vivência e do quotidiano da cidade.
Mas estes são apenas alguns dos motivos para não perder esta visita, até porque, admite Gustavo, apesar de Évora ser Património Mundial da Humanidade, a verdade é que existe alguma deficiência em passer informação para os turistas, sobretudo no que diz respeito à história. “Muita gente foca-se naquilo que vê hoje em dia na cidade de Évora, mas Évora esconde muita coisa”, sublinha o responsável. Por isso, não deixe de passar pelo Centro interpretativo da Cidade de Évora e fique com uma visão mais enriquecedora do percurso que pode fazer pela cidade. Em breve poderá também contar com um conjunto de folhetos que o vão ajudar a ter uma experiência mais completa. E se já conhece o espaço, fique a saber que esta exposição permanente não se esgota numa só visita, e o objetivo é que vá sendo atualizada com novas informações à medida que estas vão sendo descobertas.