O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região do baixo, norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.

Em Elvas encontramos um extenso sistema de fortificações que cobre uma área de cerca de 300 hectares, com um perímetro de aproximadamente 10 Km. Não admira pois que, tanto o conjunto de fortificações aqui existentes, como o centro histórico, tenham sido reconhecidos pela UNESCO como Património Mundial em 2012. Nesta que é uma das maiores cidades fortificadas a nível mundial, viemos visitar o Forte de Santa Luzia, construído num outeiro, a algumas centenas de metros das muralhas seiscentistas, entre 1641 e 1648, durante as Guerras da Restauração.
Disso mesmo nos dá conta Vera Guelha, historiadora e responsável técnica do Forte de Santa Luzia, que nos guia por um dos monumentos militares mais importantes daquele período e um dos exemplos mais genuínos da arte de fortificar europeia, assumindo um enorme valor estratégico para a cidade.
Foram necessários sete anos para que este forte fosse erguido, um projeto do jesuíta holandês João Cosmander e do engenheiro francês Jean Gilot, que introduziram características inovadoras na sua construção. Logo no início serviu de reduto que podia albergar até 300 homens e, pouco depois, foi redesenhado, com planta em estrela, por Sebastião Frias e, mais tarde, uma vez mais alterado para ser um forte real, com projeto do engenheiro Rozett. Foi o rei, em 1643, que devido ao desacordo entre engenheiros, decidiu formar uma junta onde constava Cosmander, tendo este e Gilot poder de decisão.
Opta-se assim por uma fortificação externa, com vista a defender a frente sul, mais vulnerável a um ataque inimigo, com os ângulos de flanco obtusos e a linha de defesa rasante, fazendo um ângulo de 90º com os flancos dos baluartes e sem flancos secundários, nem canhoneiras nas cortinas. O objetivo era proteger a cidade face aos espanhóis que, mais tarde, acabam por fazer o cerco a Elvas. E o Forte acabou por ser fundamental durante a Batalha das Linhas de Elvas, travada em janeiro de 1659, permitindo aos portugueses ganhá-la. Elvas era a cidade mais cobiçada do reino, explica a historiadora, “pois quem conseguisse tomar a cidade de Elvas, mais depressa chegava à capital”. No século XIX, a sua defesa foi ainda mais reforçada, no âmbito das invasões francesas, com várias obras interiores e exteriores.
Na verdade foram três as guerras a que o Forte de Santa Luzia assistiu: a Guerra da Restauração, a Guerra da Sucessão Espanhola e depois as guerras peninsulares. Mas a verdade, diz-nos a responsável, nunca foi conquistado. Foi sim tomado pelas tropas franco-espanholas, na altura das guerras peninsulares, porque as tropas portugueses optaram por abandoná-lo na altura. Na verdade, diz-nos Vera Guelha, “nós nunca tivemos a ambição de sermos nós a conquistar o território espanhol, era só mesmo para nos defendermos”.
Explorando um pouco mais do interior da estrutura fortificada, ficamos a saber que o Forte de Santa Luzia tem várias galerias, e Vera Guelha leva-nos a percorrer parte de uma delas. Do lado esquerdo, existe um caminho mais comprido que nos poderia levar até à entrada da cidade; e aquela que atravessamos permitia aos soldados renderem-se ou trocarem armamento.
O forte é formado por quatro baluartes com um reduto quadrangular ao centro, onde se encontram a casa do governador, a igreja e uma casa abobadada à prova de bomba. A sul, encontramos a antiga capela de Santa Luzia, já existente antes da construção do forte mas que foi conservada, com a sua nave e capela-mor. A poente do pátio ficavam as instalações dos soldados, com duas naves e cozinha, e a nascente a zona dos oficiais, antigo paiol e as comunas. É nesta frente que encontramos um túnel de acesso ao terraço do reduto, com plano inclinado para conduzir as águas pluviais para as caleiras, para abastecer as duas cisternas ali existentes.
Hoje é possível visitar o Forte de Santa Luzia e conhecer toda a história militar da cidade, bem como alguns artefactos de guerra que marcaram as diferentes épocas desde que, entre 1999 e 2000, o espaço foi adaptado a Museu Militar.
Horários
Verão: maio a setembro – terça-feira a domingo, das 10h00 às 18h00
Inverno: outubro a abril – terça-feira a domingo, das 10h00 às 17h00