O Alentejo é o destino do mês de junho na Ambitur.pt. Num roteiro de cinco dias pela região do baixo, norte e centro deste vasto território, pudemos conhecer melhor as histórias e “estórias” de projetos, imóveis, centros interpretativos, lugares de “culto” aos vinhos e à boa gastronomia alentejanos, sempre contadas pelos próprios, por quem ali vive e melhor do que ninguém sabe do que está a falar.
A história não podia ser mais simples. Dois jovens alentejanos conhecem-se, apaixonam-se e decidem trabalhar juntos. E esta história até tem direito a um final feliz. Mas não é a simplicidade que faz com que tenha menos valor ou encanto. E, para isso, basta conhecer os dois protagonistas, Carolina Bravo e João Lombardo, hoje casados e com filhos, empresários de sucesso em Évora que foram atrás de um sonho e contribuíram para que a sua região fosse hoje um pouco mais rica.
Num pequeno restaurante localizado no centro histórico da capital do Alentejo, fomos encontrar a concretização de um desejo há muito mantido por João, tornado possível pela parceria de anos com Carolina. Os dois conheceram-se ainda estudantes, na EPRAL – Escola Profissional da Região Alentejo, onde se formaram em “Hotelaria, Restauração, Organização e Controlo”, em 2003. Quis o destino que voltassem a encontrar-se mais tarde, num estágio profissional no Convento do Espinheiro. Carolina aí permaneceu durante 12 anos, tendo depois trabalhado no então Ecorkhotel, e João optou por seguir outros caminhos, que o levaram a um restaurante no centro da cidade de Évora. Antes da pandemia, Carolina é convidada a integrar esse projeto mas a Covid-19 não foi “amiga” e o restaurante acaba por fechar, ficando ambos desempregados. Nessa altura, recorda Carolina, foram tempos complicados, até porque já se encontrava grávida e tudo parecia ser mais difícil.
Mas prometi um final feliz e eis que surge essa janela: em tempos de crise, há oportunidades que devem ser agarradas e Carolina e João optaram por arriscar, até porque sempre tinham havido a vontade de terem um negócio próprio. João, de poucas palavras, admite que é um processo que não é fácil mas “a paixão pelo que fazemos foi o que nos moveu sempre”. Na verdade, já havia conhecimento técnico, não tão aprofundado como atualmente, e houve a necessidade de ir aprendendo com o tempo, sem margem para muitos erros. “Corrigir os erros, é isso que leva à aprendizagem também”, aponta o chef de cozinha.
E lá nasceu o Restaurante Lombardo, o nome desta simpática família alentejana. O objetivo foi sempre ter um espaço no centro da cidade, que não fosse muito grande, até porque, ao início, e durante um ano, eram apenas os dois. Mas dão o mérito a quem o tem e agradecem o facto de a família sempre os ter ajudado. O dia começava muito cedo, com as compras necessárias para abrir o restaurante todos os dias, e era ali que ambos ficavam muitas horas, por vezes até às quatro da manhã, ainda com crianças pequenas, a Esperança que hoje tem 11 anos, e o Tomás com quatro. Por isso Carolina lembra que o apoio dos pais foi fundamental pois permitiu-lhes dedicarem-se ao seu sonho sabendo que os filhos estavam bem entregues.
Mas um ano depois tudo começa a ficar mais leve e conseguem contratar alguém para ajudar o João na cozinha, mantendo-se Carolina sozinha na sala do restaurante, com capacidade para receber 20 pessoas. A clientela foi aumentando, algo para o qual até o vizinho do lado, também um restaurante, contribuiu ao reencaminhar clientes para o Lombardo quando a sua casa já estava cheia. O facto é que quem ia, saía satisfeito, e assim se começou a compor a casa Lombardo, feita de turistas, sim, mas também de gentes locais.
Quisemos saber qual o segredo deste sucesso? Para João o segredo está nas compras, no preço e na qualidade. Houve sempre a opção de escolher produtores locais e a preocupação em garantir a assiduidade e pontualidade dos fornecedores. Uma estratégia que deu resultado e hoje o chef garante que a maior parte dos seus fornecedores são seus amigos.
No Lombardo a gastronomia é, naturalmente, alentejana, mas João desde sempre soube que não queria apostar numa comida tradicional, até por respeito aos clientes locais que, quando vão almoçar ou jantar fora, não querem comer o que já comem em casa. Ou seja, explica Carolina, pretendia-se uma “lufada de ar fresco”. A verdade, explica João, é que “a cozinha alentejana tem alguns pratos que são tecnicamente complicados, mas a maioria não são desafiantes, são simples”. Ora, acrescenta, “fomos procurar coisas que nos desse trabalho”, e por isso vão variando sazonalmente a ementa, apesar de haver já alguns pratos, como o Lombo de Garoupa sobre Arroz de Camarão, o Bife de Atum com Sementes de Sésamo sobre Puré de Batata-doce ou o Cachaço de Porco Preto que têm de ser permanentes, por pedido dos clientes. Também a carta de vinhos é maioritariamente alentejana, com oferta igualmente de opções da região dos vinhos verdes.
“A maior parte dos nossos produtores são de pequena dimensão e, maioritariamente, esses pequenos produtores têm uma qualidade um pouco acima daquela que encontramos no mercado, por isso achamos que devem ser cada vez mais ajudados e impulsionados”, defende João, acrescentando que é essa a filosofia do Lombardo.
E planos para o futuro, haverá? Há pois. João e Carolina já se lançaram num novo projeto, também em Évora, mas com um conceito diferenciado. Trata-se de um brunch, e aqui sim a aposta passa pela gastronomia tradicional alentejana. Vai chamar-se “Bravo by Lombardo”, em homenagem a Carolina, e deverá abrir antes do final do verão.
Mais um passo dado na construção desta história de final feliz que, garantem os dois, valeu muito a pena. Para isso, e em jeito de conselho a quem queira seguir-lhe os passos, sobretudo aos jovens da região, afirmam que é fundamental “trabalhar com paixão”, mesmo com algumas derrotas pelo meio e muitos sacrifícios. No final, garantem é compensador despedirem-se de um cliente que garante voltar pela experiência genuína e memorável que ali viveu.
Horários: de 2ª a domingo (exceto quarta-feira, que está encerrado) do 12H30 às 15H30 e das 19H30 às 22H30.