Alexandre Relvas: “Recuperação do setor será afetada pela evolução do desemprego”

A Escola Superior de Hotelaria e Turismo do Estoril (ESHTE) debateu, esta terça-feira, “Covid-19 e Turismo: e daqui em diante?”, contando como convidado a atual secretária de Estado e um conjunto de anteriores SET, entre os quais Alexandre Relvas, secretário de Estado do Turismo entre 1991 e 1995. 

Algo consensual é que “2020 é um ano perdido”, tendo a crise afetado “mais de 90% das empresas do setor”. Para o antigo governante, o “horizonte de esperança” poderá estar no ano 2021 mas tudo dependerá da “recuperação dos próximos meses”, nomeadamente no “controlo da pandemia” e na “capacidade de comunicar Portugal como um destino seguro”, um desafio quer para as autoridades públicas quer para o setor privado. Algo que deve ser tido em “linha de conta” é que a “recuperação do setor” será “afetada pela evolução do desemprego”, sublinha o responsável.

E para que esta recuperação comece a dar sinais de arranque, o mercado interno é a prioridade: “Este ano, pode vir a representar 50 a 60% da ocupação”, diz o responsável, elogiando a campanha que tem vindo a ser desenvolvida pelas autoridades públicas mas que, mesmo assim, não será suficiente, sendo fundamental o “setor privado desenvolver produtos adaptados  ao mercado interno”. Ainda na dinamização de mercados, interno e internacional, o responsável não tem dúvidas que “implicará protocolos e procedimentos globais para ter bons selos de certificação”. Além destes novos procedimentos, a “formação vai ser decisiva”, sendo fundamental “adaptar a “capacidade dos trabalhadores ao novo ambiente e às novas exigências dos consumidores”. Algo que também não deve ser descurada são as novas tecnologias: “Devemos estar atentos às oportunidades e adaptar todas as novas tecnologias que também vão ao encontro dos desejos dos consumidores”.

No que diz respeito a políticas públicas, Alexandre Relvas considera que “todos os investimentos que o Estado faça para o controlo da pandemia são de importância decisiva”, até porque a “imagem de destino seguro” deve ser mesmo uma prioridade, assim como a “definição e cooperação entre setor público e privado de normas de segurança” que vão sendo adotadas pela generalidade das empresas. 

Os apoios financeiros e em termos de lay-off devem ser assegurados: “Portugal tem uma fortíssima capacidade instalada no setor do turismo que não pode ser perdida”, diz o responsável, sublinhando que a crise não resultou da “incapacidade do setor”, havendo uma responsabilidade dos poderes públicos em “manter esta capacidade produtiva”. Paralelamente a estas preocupações, o responsável considera que tão importante é também “prestar apoio a empresas estruturais, como a TAP”.

Quanto às mudanças estruturais no setor, a especulação feita pelo antigo secretário de Estado é de que surgirão dois novos domínios de investimento: a digitalização, em termos de atividade comercial e em termos de operações, e a área de saúde e segurança. “Nestas duas áreas, serão necessários novos investimentos e novos procedimentos”, vinca o responsável. Já as empresas, terão uma nova preocupação: a resiliência. “É importante reduzir custos de estrutura porque isso aumenta a capacidade de responder a situações de crise”, considera Alexandre Relvas, sublinhando a “diversidade de mercados”, dando um “novo valor” aos “de proximidade”.

No âmbito desta crise, despertaram-se novas consciências e as questões ambientais estão hoje, mais do que nunca, intrínsecas na política empresarial: “As empresas devem preparar-se para investir mais nesta área. Tudo o que seja economia circular vai ser uma área de prioridade”, remata.

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