Algarve: Castelo abre portas ao património arqueológico de Alcoutim
O Algarve é o destino do mês de novembro da Ambitur. Num roteiro de cinco dias elaborado pelo Turismo do Algarve, percorremos a região de lés a lés, passando pelos 16 concelhos deste vasto território. De Alcoutim ou Vila Real de Santo António até Vila do Bispo ou Aljezur, atravessámos o litoral e o interior, e conhecemos iniciativas e projetos turísticos que contribuem para que o Algarve continue a ser hoje um destino que merece ser visitado ao longo de todo o ano.
Hoje continuamos por Alcoutim, onde nos propomos conhecer melhor o Museu Municipal desta região do nordeste algarvio, localizada entre planaltos, serras de xisto e o rio Guadiana. Depois de visitarmos o núcleo do Museu do Rio, avançámos alguns quilómetros até chegar à vila, mais concretamente ao Castelo de Alcoutim, que se ergue sobre uma colina a sul da povoação e está, desde 1993, classificado como Imóvel de Interesse Público. É no seu interior que encontramos um Segundo núcleo do Museu de Alcoutim: o chamado Núcleo Museológico de Arqueologia.

Acompanhados pela nossa anfitriã, Manuela Teixeira, diretora do Museu Municipal, caminhamos pelo castelo dentro e é-nos contada a história deste imóvel, cuja construção arrancou no reinado de D. Dinis. Recuamos pois ao século XIV, onde o rei decidiu deixar para trás o antigo castelo, localizado a cerca de um quilómetro do novo, e apostar num edificado que defendesse a fronteira e controlasse o comércio no rio Guadiana. A verdade é que a sua função militar assim se manteve até 1878, altura em que, ainda sob a alçada do ministério de guerra, o espaço amuralhado passa a funcionar como “açougue”.
Este será um dos expoentes máximos da herança histórica da vila de Alcoutim, que testemunhou séculos de proteção da fronteira, de controlo de tráfico fluvial e de lutas com Castela. Foi aqui que, muito provavelmente, se assinou o Tratado de Alcoutim a 31 de março de 1371, entre os reis D. Fernando e D. Henrique II de Castela, encerrando assim a primeira guerra fernandina. Sob os reinados de D. Joáo II e de D. Manuel, o castelo foi restaurado e as suas características modernizadas para um gótico manuelino. O terramoto de 1 de novembro de 1755 apenas gerou “rachaduras” nas muralhas. Na segunda metade do século XX, e entre as décadas de 60 e 80, o monumento foi alvo de restauro e melhoramentos, tendo sido demolidas algumas edificações adossadas no exterior e reconstruídas algumas ameias.
Neste Núcleo Museológico de Arqueologia podemos então ter acesso a duas exposições de longa duração. A primeira delas é, como é natural, sobre o património arqueológico de Alcoutim. Aqui podemos entrar numa galeria onde se encontram objetos quer do Castelo Velho, sobretudo de uso comum como lamparinas, alfinetes, cabos de faca e outros elementos do dia-a-dia; quer do atual castelo, aqui recordando-nos da sua missão militar. As escavações revelam ainda partes da calçada seiscentista.
Esta exposição foi inaugurada em 2000 e, desde essa data, já sofreu três remodelações. O percurso histórico que somos levados a percorrer transporta-nos desde os tempos do Neolítico (entre 5000 a 3000 a.C.) e termina no século XX. E assim podemos ter acesso ao espólio arqueológico que o município tem vindo a recolher e a investigar.
Além desta exposição, é também no interior do Castelo de Alcoutim que podemos explorar uma coleção de jogos intemporais, com tabuleiros e pedras de jogo do Castelo Velho. Nesta sala conhecemos jogos descobertos nas escavações arqueológicas, na verdade, um total de 39 tabuleiros, completos e fragmentados, e 18 pequenas pedras de jogo. Gravados em lajes de xisto, estes tabuleiros pertencem a seis tipologias diferentes: Alquerque, Tábula, Moinho ou Trilha, Tapatan ou Galo, Mancala e Jogo do Soldado.
Do pátio do Castelo, e debruçados sobre as muralhas, podemos avistar o centro histórico da vila, com o rio Guadiana, e a vizinha Sanlucar de Guadiana, bem como alguns dos edifícios mais emblemáticos do património edificado desta região. Conhecemos de perto a Ermida de Nossa Senhora da Conceição, um templo de nave única que foi reformulado pelos engenheiros militares nos finais do século XVII e inícios do século XVIII, com o intuito de o ligar à vila. Não faltam outras igrejas, como a Igreja da Misericórdia, construída no século XVI, ou a Igreja Matriz S. Salvador, que data do século XIV mas foi, na segunda metade do século XVI, reconstruída sob o patrocínio dos Condes de Alcoutim, e é hoje um dos melhores exemplares do Primeiro Renascimento no Algarve.
Manuela Teixeira chama a atenção dos nossos olhos ainda para a Casa Baluarte, cujas paredes abaluartadas indicam que poderia tratar-se do antigo Corpo de Guarda de Alcoutim, possivelmente remodelado pelos engenheiros militares. E também para a Casa dos Condes, um edifício medieval de arquitetura simples e que serviu de residência aos antigos condes da vila.
Merece igualmente a nossa atenção o edifício da Antiga Alfândega, com fachada lateral paralela ao rio Guadiana e que, no século XX, serviu de Posto da Guarda-fiscal, mas que hoje acolhe o Serviço de Finanças de Alcoutim.
Não faltam pois motivos para descobrir esta vila algarvia, as suas histórias e vestígios arqueológicos.
O bilhete custa 2.50€ e permite visitar, além do Núcleo Museológico de Arte Sacra, o Museu do Rio (Guerreiros do Rio), o Castelo da Vila (Alcoutim), a Exposição no Paiol (interior do Castelo da Vila), o Núcleo de Arqueologia (interior do Castelo da Vila), o Núcleo Museológico “Escola Primária” (Santa Justa), o Núcleo Museológico Dr. João Dias (Alcoutim) e o Núcleo Museológico “Casa do Ferreiro” (Pereiro).
O Castelo da Vila está aberto das 8H30 às 13H00 e das 14H00 às 16H30, nos dias úteis, fins-de-semana e feriados.
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