Algarve: Eurocidade do Guadiana, quando um rio internacional serve de ponte a três territórios
O Algarve é o destino do mês de novembro da Ambitur. Num roteiro de cinco dias elaborado pelo Turismo do Algarve, percorremos a região de lés a lés, passando pelos 16 concelhos deste vasto território. De Alcoutim ou Vila Real de Santo António até Vila do Bispo ou Aljezur, atravessámos o litoral e o interior, e conhecemos iniciativas e projetos turísticos que contribuem para que o Algarve continue a ser hoje um destino que merece ser visitado ao longo de todo o ano.

Uma fronteira líquida que em vez de separar une. Neste caso, o rio Guadiana pretende juntar os territórios do Algarve, Alentejo e a Andaluzia, através de uma estrutura de cooperação transfronteiriça luso-espanhola em três municípios: Vila Real de Santo António, Ayamonte e Castro Marim. Um projeto que arrancou em 2013, mas que em 2018 foi formalizado como um Agrupamento Europeu de Cooperação Territorial (AECT). Álvaro Araújo, presidente do Município de Vila Real de Santo António, recebeu a Ambitur e deu conta de como o projeto tem vindo a envolver as populações e como pretende ir mais adiante. “O que nós pretendemos, acima de tudo, e este é o grande objetivo, é ter escala. Uma coisa é nós divulgarmos Vila Real de Santo António só por si, outra coisa é divulgarmos um território que tem quase 500 quilómetros quadrados de área. Onde o património histórico, onde a natureza, onde a cultura se cruzam e se complementam”, refere o entrevistado.
Entre os objetivos do projeto estão a otimização e utilização de recursos existentes, promoção do turismo e o comércio na região; desenvolvimento do tecido empresarial local; proteção e promoção do património natural e cultural comum e a melhoria da qualidade de vida dos cidadãos através da cooperação transfronteiriça. Exemplifica o autarca que, ao nível da promoção, aquilo que se pretende é que seja um território com uma única imagem em mercados internacionais. Por outro lado, visa que os cidadãos dos três municípios e dos dois países possam circular livremente, sem restrições absolutamente nenhumas, neste território. Ou mesmo a candidatura conjunta a projetos a nível europeu, porque há financiamentos próprios para este tipo de territórios. Indica Álvaro Araújo que “temos projetos que pretendemos criar em termos de mobilidade, mobilidade sustentável entre os dois lados da fronteira. Outra coisa, por exemplo, que queremos é poder desfrutar da noite de ambos os lados da fronteira e não se faz porque o barco tem um horário limitado. Ou seja, a ideia é muito esta, é de criarmos uma rede de transportes entre os três municípios, basicamente a ideia da Eurocidade foi esta e tem sido concretizada”.
Em outra valência, refere o autarca que Ayamonte criou agora um centro de congressos. “Se Vila Real de Santo António quiser fazer aqui um grande espetáculo na sua cidade não tem estas condições, mas no âmbito da Eurocidade já existirão, usufruindo do território de Ayamonte”. Mas, também pode acontecer o inverso, se Ayamonte tem uma proposta de uma federação espanhola para fazer um grande evento de desportivo poderá contar com o centro de alto rendimento de Vila Real de Santo António. Este tem condições para isso. “É aproveitarmos aquilo que cada um dos municípios tem, as suas especificidades, e pô-las ao serviço de uma entidade única que é a Eurocidade do Guadiana” enfatiza o autarca.

Em outra vertente, mas neste contexto, conseguiu-se construir conjuntamente uma Agenda de Eventos Anual de Património Religioso, com o apoio da CCDR Algarve e da Região de Turismo do Algarve, não só em época alta, mas também nos meses de menor expressão turística. Sendo assim, existe uma programação cultural e de festividades religiosas que une os três territórios, o que permite ter um calendário de eventos que qualquer pessoa, a qualquer altura do ano, pode nos aceder.
Indica Álvaro Araújo que já fomos, em alguns casos, criando tradição, por exemplo, “fazemos a inauguração da Vila Natal, que é no início de dezembro, e vai uma comitiva de barco a Ayamonte, levando o Pai Natal às crianças espanholas. Depois, quando chega o Dia de Reis, vêm os reis magos de Ayamonte a Vila Real de Santo António”. Realça o entrevistado “que isto só existe porque há esta relação de proximidade entre estes três municípios. E quando falo em Vila Real é o mesmo que estar a falar de Castro Marim. É a mesma coisa. Há esta ligação natural.”
Indica, por seu lado, Sílvia Madeira, diretora-executiva da Eurocidade, “que a nível do turismo foi feito um plano estratégico de turismo com um quadro temporal e com base nesse plano temos vindo a trabalhar em diferentes ações. Ações essas que têm levado, por exemplo, a uma recente parceria de termos submetido uma candidatura POCTEP, a um projeto para a promoção e o trabalho do turismo conjunto com as duas agências de turismo, a Região de Turismo do Algarve e a Agência Destino Huelva, para o destino Eurocidade do Guadiana”.
Acrescenta a responsável que, entre outros projetos já desenvolvidos, encontra-se o projeto “Sabor Sur” que pretendeu alavancar a região ao nível gastronómico, entre outras pequenas colaborações ao nível desta temática. Também se avançou na promoção do turismo, na construção da imagem comum através da fronteira líquida e na construção do território-museu, que é um museu ao ar livre. “Aqui feito um plano museológico de identificar no território dos três municípios os pontos de interesse ao nível das diferentes temáticas. Daí saíram oito rotas temáticas e um projeto de sinalética e informação turística com uma página web, com a agenda de eventos que podem ser percorridos. São rotas de promoção turística do património e portanto esse projeto teve um impacto grande”, complementa a diretora-executiva.
Ao nível da promoção turística este contexto permitiu não só a esta região algarvia ganhar escala fazendo a promoção em conjunto, como também ter uma presença mais efetiva como destino em nichos como o turismo desportivo, turismo cultural, patrimonial e ambiental. Refere Sílvia Madeira que “no turismo ambiental, porque nós estamos aqui numa zona de reserva natural e temos aqui um conjunto de turistas que nos procura por um turismo de experiência já mais ecológico”.
Os recursos que um não tem, um outro acaba por ter, são complementares. Este é o âmago deste projeto, que torna os seus destinos ao mesmo tempo tão diferentes e únicos, para além de uma posição geográfica no centro de dois aeroportos internacionais, Faro e Sevilha. Refere o presidente da autarquia de Vila Real de Santo António que “temos à nossa volta cerca de três milhões de pessoas, em 100 quilómetros. Faz diferença. Não é por acaso que estamos sempre cheios de gente aqui no nosso território. Somos periféricos relativamente a Portugal e relativamente à Península Ibérica, mas aqui relativamente à Andaluzia, somos centrais, por incrível que pareça. Isto torna-nos únicos”. Aí a ambição ser crescente, “queremos muito ser a capital das Eurocidades. Andamos a lutar para ter aqui outra notoriedade”. Destaca ainda o entrevistado que é em 2021 que o projeto fica com outra dinâmica, “houve um reativar e foi esta energia nova, com a experiência da Sílvia, que vinha da Odiana, que lhe deu este novo impulso”.
O grande desafio futuro deste projeto e destes municípios passará pela mobilidade, mais local e mais abrangente. Se os responsáveis ambicionam uma ligação férria de Faro a Sevilha, a prazo, por outro lado trabalham para a criação de via ciclopedonais entre os municípios, assim como atentam a soluções mais eficazes para a mobilidade dos residentes e turistas
Este é um território transfronteiriço, onde se consegue, numa semana, ter as várias experiências. “E, além disso, uma das coisas que temos vindo a detetar com os vários trabalhos que temos vindo a fazer, cada vez mais, quem procura o produto de destino transfronteiriço, procura, num curto espaço de tempo, conseguir ver várias coisas. E isso no nosso território é possível. Aqui consegue-se desfrutar do turismo mais de interior e também mais de litoral”, conclui Sílvia Madeira.
Leia também…
Algarve reforça liderança no turismo sustentável com o projeto “Save Water”