Algarve: Museu do Rio preserva a memória e os ofícios ligados ao rio Guadiana

O Algarve é o destino do mês de novembro da Ambitur. Num roteiro de cinco dias elaborado pelo Turismo do Algarve, percorremos a região de lés a lés, passando pelos 16 concelhos deste vasto território. De Alcoutim ou Vila Real de Santo António até Vila do Bispo ou Aljezur, atravessámos o litoral e o interior, e conhecemos iniciativas e projetos turísticos que contribuem para que o Algarve continue a ser hoje um destino que merece ser visitado ao longo de todo o ano.

Manuela Teixeira

A nossa viagem pelo Algarve arranca em Alcoutim que, com os seus 576 Km2 é o concelho mais a nordeste desta região portuguesa. Aqui é Manuela Teixeira, diretora do Museu de Alcoutim, que faz as honras da casa e nos abre as portas deste espaço museológico polinuclear. Desde logo ficamos a saber que são vários os núcleos que se distribuem pelo território: desde a Casa do Ferreiro, na aldeia do Pereiro, ao Núcleo Museológico de Arte Sacra, na Ermida de Nossa Senhora da Conceição, em Alcoutim, ou ainda o Núcleo Dr. João Dias, no antigo Hospital da vila, são muitas as propostas de visitação. A nós, nesta visita, cabe-nos explorar o Museu do Rio e, mais tarde, o interior do Castelo de Alcoutim que alberga o Núcleo Museológico de Arqueologia.

Estamos pois em Guerreiros do Rio, em frente ao rio Guadiana, no Museu do Rio, um dos primeiros núcleos a ser inaugurado, em 1995. O objetivo foi preservar a memória e os ofícios das populações desta zona ribeirinha, mostrando aos visitantes como se vivia em outros tempos, incluindo um olhar sobre a pesca, a navegação e as embarcações tradicionais.

Foi em 1994 que se iniciaram os trabalhos de uma equipa liderada pela museóloga Luísa Rogado, à data Diretora do Museu Regional do Algarve, em conjunto com a Associação Alcance, a associação de desenvolvimento de Alcoutim. Na altura ainda existia uma comunidade de pescadores que também contribuiu com o seu olhar para a abertura deste espaço, e assim nasceu a primeira exposição do Museu do Rio, na antiga escola primária de Guerreiros do Rio, inaugurada oficialmente em janeiro de 1995.

No ano de 2003, o museu fechou portas para uma renovação e ampliação profundas, voltando a abrir três anos depois com um auditório, uma sala de exposições de longa duração e as duas salas já existentes ganharam uma nova imagem, passando assim o museu a oferecer uma receção e uma sala de exposições temporárias. Assim, em 2006, o Museu do Rio reabre com a exposição de longa duração “Olhar o Guadiana por dentro” e a exposição temporária “A memória do rio”.

Um protocolo com José Murta Pereira e a família, que ainda se encontra em vigor, permitiu que a sala de exposições temporárias do museu acolhesse a sua coleção de réplicas de barcos, que não estão à escala, que navegaram pelo Guadiana entre os anos 40 e 60 do século 20.

A nossa anfitriã recorda que, nestes tempos, a região era muito pobre e, a partir da década de 60, já sem os pescadores de outrora, os mais jovens preferiram sair de Guerreiros do Rio em busca de uma vida melhor, uns para Lisboa, outros para fora do país, sobretudo França, Alemanha e Suíça. O que significa que a população hoje é muito envelhecida, embora tenha ganho algum “sangue novo” com a chegada de estrangeiros que aqui decidiram fixar-se, a maioria acima dos 50 anos. Mas, garante Manuela Teixeira, “dão muito à comunidade” e a grande maioria estão perfeitamente integrados, dando vida a grupos musicais e a iniciativas culturais, e dinamizando assim o território.

E lembra que foi em 1996 que ela própria começou a trabalhar na região. Filha de pais que emigraram para a Alemanha e que acabaram por voltar quando Manuela era ainda pequena, à volta dos oito anos, acabaram por se estabelecer em Faro e a viagem até Guerreiros do Rio fazia-se sobretudo nas férias escolares, quando a atual diretora do Museu vinha visitar os avós. Mas o destino reservava-lhe a surpresa de ser convidada para trabalhar neste Museu Municipal de Alcoutim, algo que se materializou em 2014.

Apaixonada pelo que faz, com muitas histórias para contar e muitos projetos para pôr em prática, Manuela Teixeira detalha que os visitantes, na sua maioria portugueses mas também estrangeiros, podem começar por conhecer a exposição dos barcos tradicionais do Guadiana e a exposição “Olhar o Guadiana por dentro – A história de um rio” que, a partir das memórias de gentes que ficaram eternizadas em imagens nas paredes da sala da receção, ajudaram a perceber melhor como se vivia naqueles tempos. A ideia, explica a responsável, é sempre recorrer a pouco texto para que o visitante possa depois, se quiser obter mais informação, pesquisar por si.

O contrabando, uma realidade que fazia parte do dia-a-dia de outros tempos nestas regiões ribeirinhas que acompanhavam o Guadiana, é retratado neste Museu do Rio, com direito a um jogo interativo. Manuela frisa que ao longo de todo o Guadiana, mesmo na fronteira seca, no Alto Alentejo, havia muito contrabando, que podemos descrever como sendo de subsistência, e que fazia parte da história das famílias numerosas, nas quais chegava mesmo a haver um guarda-fiscal e um contrabandista, convivendo em necessária harmonia. Neste jogo o visitante pode conhecer melhor quais os produtos contrabandeados na altura e como se tornavam as pessoas contrabandistas. Não é, aliás, por acaso, que Alcoutim tem direito a ter um Festival do Contrabando, que se realiza em abril não só em Alcoutim mas também do outro lado do rio, em Sanlúcar de Guadiana (Espanha). Aqui é possível viajar no tempo e conviver com o ambiente recriado dos anos 30 e 40, com personagens da época, artes performativas, animação de rua e um mercado tradicional. E, durante três dias, uma ponte pedonal flutuante liga Portugal e Espanha, celebrando a união e a partilha entre os dois povos.

No auditório do Museu do Rio, os visitantes podem também assistir a alguns vídeos sobre o rio, nomeadamente sobre a arte da pesca ou o contrabando.

Na sala que se segue ao auditório é possível visualizar alguns dos instrumentos de pesca mais utilizados na altura e ficar a par do tipo de pesca e do que pescavam nesses tempos. Sempre privilegiando o olhar em detrimento do texto informativo, para que as pessoas possam de uma forma mais leve sair deste espaço com o conhecimento necessário para, se assim quiserem, explorar mais noutra altura.

Para visitar, não é preciso fazer marcação. O Museu do Rio está aberto de terça a sábado, entre as 09H00 e as 13H00 e as 14H00 e as 17H00, no horário de inverno (no verão o horário muda das 10H00 às 13H00 e das 14H00 às 18H00). Disponível para acompanhar a visita está sempre uma funcionária, que pode dar as informações todas necessárias, mas quem preferir pode explorar o espaço individualmente.

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