Algarve: “Temos de recuperar a perceção de destino seguro nos mercados externos e comunicar as condições para acolher turistas”

Ambitur continua a ouvir as várias regiões do país sobre os principais desafios que se colocam perante a previsibilidade de uma retoma do turismo. João Fernandes, presidente da Região de Turismo do Algarve (RTA), acredita que, segundo as últimas informações, apenas após a Páscoa será possível equacionar a atividade turística. E, sendo o Algarve “a região de Portugal continental que tem apresentado os melhores indicadores epidemiológicos, tem condições para, tão breve quanto possível, receber turistas de diferentes origens”.

O responsável não descura que “é necessário garantir a sobrevivência das empresas e dos postos de trabalho, sem os quais não há capacidade para abraçar a retoma”. E lembra que “o desgaste acumulado coloca o tecido empresarial a lutar pela sobrevivência, uma realidade que o Turismo do Algarve tem acompanhado de perto, garante, nos mais de 17 mil atendimentos que assegurou até à data no Gabinete de Apoio ao Empresário, criado em meados de março de 2020.

Para João Fernandes, o mercado interno alargado (Portugal e regiões fronteiriças de Espanha) deverá ser, numa primeira fase, a origem da maioria dos visitantes. Mas admite que a região tem recebido sinais de reservas de voos de diferentes origens na Europa “sempre que há um vislumbre de oportunidade, embora ainda muito tímido”, o que revela “a vontade de alguns europeus em rumarem a sul”.

Por isso mesmo, o presidente da RTA sublinha que “temos de recuperar a perceção de destino seguro nos mercados externos, assegurar ligações aéreas e comunicar a disponibilidade e as condições para acolher turistas”. Uma vez garantido que o destino é seguro, frisa ser importante comunicar essa realidade e gerar motivos de interesse para a visita. E é neste sentido que a realização de três grandes eventos entre meados de abril e início de maio, como o MotoGP, a Fórmula 1 ou o Portugal Masters em Golfe, “são excelentes oportunidades para comunicarmos ao mundo um destino seguro e pronto a receber”.

João Fernandes adianta ainda à Ambitur.pt que o Algarve já antecipou, com as principais companhias aéreas que servem a região, a realização de campanhas conjuntas de destino. E explica que o facto de se ter conseguido manter a base da Ryanair em Faro e de se ter assegurado uma nova base da easyJet, que deverá abrir ainda em março, sendo estas as companhias mais representativas para o Algarve com mais de 60% dos passageiros desembarcados no aeroporto, “dá-nos uma vantagem fundamental, numa altura em que todas as companhias aéreas estão a reduzir frotas e tripulações, com as expectáveis consequências ao nível das rotas a estabelecer”.

Não deixa ainda de lembrar que os estudos de tendência apontam para a preferência dos europeus para procurarem destinos de lazer, sobretudo destinos de praia, no período pós-confinamento. O facto de o Algarve ter sido sido distinguido como “Melhor Destino de Praia do Mundo em 2020” nos World Travel Awards e de ter sido vários vezes eleito também como “Melhor Destino de Golfe do Mundo”, são elementos que jogam a seu favor.

Neste momento, o Turismo do Algarve está a rever o seu Plano de Marketing Estratégico, que teria sido apresentado em março de 2020 já com atualizações face ao Brexit mas, com a pandemia, houve necessidade de nova revisão, que se encontra já na sua fase final.

Retoma a partir do 2º trimestre
João Fernandes aponta para um reinício da atividade turística a partir do segundo trimestre deste ano, com a procura a poder ter um comportamento progressivo até ao verão. Espera que o segundo semestre possa já revelar uma procura mais expressiva do que o período igual de 2020. “À partida, as questões dos corredores aéreos britânicos e da abertura da fronteira com Espanha não serão este ano uma condicionante, o que pode impactar positivamente na procura externa para o Algarve”, remete.

Mas claro que existe um “desgaste acumulado de «três épocas baixas seguidas»” no que diz respeito às empresas da região, o que se tem aumentado o nível de do desemprego e o risco de falência das mesmas.

João Fernandes defende que numa estratégia nacional para a retoma, “o turismo disponha dos instrumentos necessários para uma rápida reação” e que estes instrumentos de financiamento comunitário “possam estimular o único setor com dimensão e competitividade internacional para nos fazer sair desta crise”. O representante da RTA é apologista de que a União Europeia “reconhecesse a capacidade, o contributo e a especificidade do Turismo e que tivesse criado um programa destinado exclusivamente ao setor”, mas como não foi o que aconteceu, “temos de intervir ao nível dos programas em curso. E esclarece que daí o contributo da entidade para a discussão pública do Plano de Recuperação e Resiliência ter ido no sentido da “necessária inclusão do setor do turismo nos diferentes eixos deste plano, com projetos e investimentos concretos para o Algarve, por exemplo ao nível da ferrovia (melhoria da ligação Faro-Lisboa, criação de ligação Aeroporto-Faro e projeto para futura ligação Faro-Sevilha), ou da capitalização das empresas do setor, que deverá ser reforçada e agilizada, por forma a garantir maior rapidez na chegada dos apoios à economia, maior componente não reembolsável (fundo perdido) e com adiantamento de verbas na fase inicial do financiamento”.