“Amigas do Trade”: um grupo informal que dá voz à Mulher Hoteleira

De dois em dois meses, elas juntam-se à mesa para discutir “desde os temas mais quentes à simples partilha de ideias ou, até mesmo, à entreajuda”. Há 10 anos, quando surgiu o grupo, eram apenas quatro hoteleiras. Hoje, as “Amigas do Trade” são 26 mulheres com uma “voz feminina ativa” no setor hoteleiro. E, no mês em que se assinalou o Dia Internacional da Mulher, a Ambitur.pt foi a convidada especial no almoço do grupo que aconteceu, na passada segunda-feira, no Tabik Restaurante, no BessaHotel Liberdade, em Lisboa. 

Mas, afinal, quem são as “Amigas do Trade”? 

Estávamos em 2008 quando a ideia começou a surgir apenas como grupo informal. “Era difícil comunicar e projetar o destino Portugal no estrangeiro”, recorda Sofia Brandão, diretora de operações do AlmaLusa Hotels. Nas “viagens de vendas” que fazia na altura aos Estados Unidos da América ou a Londres, Portugal era apenas “Lisboa, Algarve e Madeira. O restante era paisagem”, afirma. Foi então que, através de uma iniciativa entre várias hoteleiras envolvidas, apostaram na criação de um programa especial que fizesse a promoção no estrangeiro de Portugal como um todo: assim nasce o “Portuguese Hideaways”. É neste contexto que nasce o grupo (aqui ainda) informal: para dar suporte e “operacionalizar” o programa,  quatro hoteleiras (Hotéis Heritage, Memmo Hotels, Quinta das Lágrimas, Aquapura Hotels) e um veículo de comercialização (ARTEH – Hotels & Resorts) juntam-se e criam o “Amigas do Trade”. “Começámos por promover almoços para operacionalizar esta ideia”, conta Sofia Brandão que, na altura, estava no Aquapura Hotels, realçando a “sinergia” que ia surgindo nos almoços. “Percebemos que, realmente, havia uma partilha de opiniões, discussão de ideias e um aconselhamento entre pares, fazendo todo o sentido tornar estes encontros mais regulares ”, destaca.

Com a função de comercializar o “Portuguese Hideaways”, Sofia de Almeida que, na altura, assumia o cargo de diretora de marketing da ARTEH – Hotels & Resorts, conta que o programa integrava um “circuito de nove noites” onde as “pessoas podiam experimentar Portugal de Norte a Sul”, ficando com uma “experiência nos hotéis boutique”. O programa veio assim responder às dificuldades que existiam: “Arranjar formas para que as pessoas viajassem ao nosso destino mas que experimentassem outras coisas”, avança a agora professora e investigadora na Universidade Europeia.

Entre mulheres “ligadas à operação, direção, investigação ou recrutamento”, 99% das mulheres membros das “Amigas do Trade” estão relacionadas com a hotelaria. No entanto, existe a tentativa de  “despertar interesses” de outras áreas, explica Sofia de Almeida. “Hoje, temos aqui uma diretora financeira e uma pessoa responsável pelos Recursos Humanos”, explicita a investigadora, acrescentando que o grupo permite mostrar a hotelaria em “diferentes perspetivas” para “ ajudar o máximo de pessoas”.

“Este é um grupo de partilha de informação e de entreajuda”

Mas as “Amigas do Trade” vão mais longe e querem quebrar o estigma de que “as mulheres não se entreajudam, são muito competitivas e que não conseguem ter aspetos de companheirismo”. A “ideia pré-concebida” é totalmente desmontada quando os colegas do sexo masculino olham para o grupo com admiração e respeito: “Temos alguns que já quiserem ter saia porque sentem que nós nos ajudamos genuinamente e altruisticamente”, brinca Sofia Brandão. Questionadas sobre a possibilidade de abrirem o grupo a outros setores turísticos, Sofia Brandão explica que isso não faz sentido: “Este é um grupo de partilha de informação e de entreajuda”, sustenta a gestora, acrescentando que essa integração,  tendo em conta que a “missão e os objetivos” de cada empresa são diferentes, poderia “criar conflitos de interesse”.

Com o evoluir do mercado, rapidamente o grupo percebeu que os almoços bimestrais não eram suficientes. E, em 2017, as “Amigas” intensificaram a relação ao aderirem ao Whatsapp. “Percebemos que seria um ótimo grupo onde cada uma podia ajudar e ser ajudada de forma rápida e espontânea”, afirma Sofia Brandão, expressando que “na minha equipa, muitos ficam impressionados como é que consigo ter a ajuda no dia ou na coisa mais improvável do mundo”. Para a diretora de operações do AlmaLusa Hotels, é notória a troca de mensagens no Whatsapp e a “ajuda construtiva e completamente desinteressada” que existe entre todas. Se descrevesse esta ferramenta numa palavra, Sofia Brandão usaria “associativismo” no “sentido nórdico” da palavra: “É uma forma de sobrevivência. Todas ajudamos a tornar mais fáceis os nossos desafios com ajuda deste grupo”. Já Sofia de Almeida opta por “confiança”, afirmando que “a ajuda que existe é sincera e espontânea. Toda a gente sente isso e a prova está na abertura enorme de pedidos ao mesmo tempo que há de respostas”. Além disso, a investigadora da Universidade Europeia considera que o Whatsapp é de facto uma excelente ferramenta de ajuda e de tomada de decisão para, por exemplo, “encontrar um fornecedor, uma estratégia ou um determinado recurso humano. Há sempre uma consulta ao grupo”.

Já os almoços, integram sempre “temas quentes” e que merecem ser “alvo de discussão”, afirma Sofia Brandão. A espontaneidade que existe no grupo é motivo para que não exista um tema pré-almoço. “São almoços de trabalho”, diz Sofia de Almeida, acrescentado que os assuntos abordados são aqueles que mais preocupam: “Há uma pessoa que fala e o restante opina. Fazemos o mesmo que fazemos no Whatsapp mas ‘cara-a-cara’”. Sofia Brandão complementa, afirmando que estes almoços permitem “dar cara às pessoas, senão o grupo torna-se fantasma”. No fim de cada almoço, há sempre algo que fica. Para Sofia de Almeida, é uma fotografia: “Queremos gravar o momento e a fotografia acaba por eternizar a nossa experiência”. Já Sofia Brandão, diz que o almoço a faz ter um “sentimento de pertença”.

Para o futuro, são vários os desejos para o grupo. De acordo com Sofia Brandão, a indústria hoteleira é “bastante desigualitária” e, quando a mulher chega a cargos de direção ou administração, há pouca representação. Além disso, “uma diretora de hotel, face a um diretor tem quase 30 a 40% menos de salário”, sublinha. Assim, o objetivo é de que o grupo sirva para “mostrar que as mulheres se conseguem ajudar e podem fazer uma carreira em hotelaria”, servindo, também “de inspiração para todas as mulheres que comecem a trabalhar nesta indústria”. Para além disso, Sofia Brandão expressa o desejo de que as “Amigas do Trade” mostre a todas as mulheres que podem “fazer grupos de pertença e fazer uma carreira na hotelaria de sucesso”. Por seu turno, Sofia de Almeida deseja que a rede sirva de inspiração para futuros profissionais, acreditando que foi através da “resiliência” e da “vontade de estar” e de “vingar” que fez com que a rede tivesse evoluído desta forma. A investigadora realça que as “Amigas do Trade” são o “casamento” e a “aproximação” entre “aquilo que o mercado necessita e aquilo que nós podemos responder”, referindo que a rede “tem vindo ao encontro dessas necessidades”, o que é “maravilhoso”.

“Amigas do Trade” – Um estudo de caso

No grupo desde o início, Sofia de Almeida sempre olhou para o crescimento das “Amigas do Trade” com grande satisfação. No entanto, decidiu dar “ouvidos” ao seu “olhar crítico”. Em diversas revisões de literatura e de artigos, descobriu a existência de “Community of Practice” e, desde então, “agarrou” a rede para a identificar como um estudo de caso justamente nessa vertente. Após recorrer a várias metodologias, o estudo está criado e pronto a ser apresentado: “Em termos científicos, os resultados são mesmo interessantes e mostra que a rede está num bom caminho”. Além disso, as “Amigas do Trade” pode mesmo ser um caso de estudo a nível internacional: “Esperemos que seja lido por pessoas que trabalham e investigam lá fora, pois iriam ficar com uma ´inveja boa´ do trabalho maravilhoso que está aqui”. Sofia de Almeida diz mesmo que as conclusões são “fabulosas” e que se podem estender a outras “redes informais”, como associações hoteleiras, a utilizarem os resultados e a  “extrapolar para outras realidades”.

 

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Conheça as Unidades Hoteleiras que fazem parte das “Amigas do Trade”:

  • Valverde Hotel
  • AOR+
  • Bessa Hotel
  • Heritage Hotels
  • Inspira Hotels
  • Pestana
  • AHP
  • Memmo Hotels
  • PortoBay
  • DHM
  • Hotel Santa Justa
  • Neya
  • Montebelo Hotels
  • Universidade Europeia
  • AlmaLusa
  • Farol Design Hotel
  • Sofitel
  • Baixa Houses
  • Bensaude
  • Fonte Cruz
  • Hôtel Ocidental