A Ambitur.pt esteve à conversa com Miguel Quintas, Presidente da ANAV – Associação Nacional de Agências de Viagens, no âmbito da sua primeira participação na BTL (Better Tourism Lisbon Travel Market), e colocou em cima da mesa as questões políticas e económicas que podem influenciar o setor turístico e da distribuição ainda este ano.
A importância é única e de maior escala. É a verdadeira feira do turismo, onde se encontram todos os fornecedores, onde se encontra todo o canal de distribuição e comunga naturalmente dos mesmos interesses, que é vender com melhor qualidade o melhor produto para o cliente final, que acaba por aparecer em maior afluência no final de sexta-feira, no sábado e no domingo. Portanto, é um momento sem paralelo no ano.
Nós temos três grandes objetivos e eles representam o interesse de estarmos presentes na feira. Em primeiro lugar, o facto de ser precisamente a BTL, a Feira do Turismo Nacional, e como tal, a ANAV, representando as agências de viagens, tem de estar presente num evento assim, não pode jamais não estar. E faremos todos os esforços para estar presentes todos os anos, cada vez com maior presença.
Segundo, é uma feira internacional e temos contacto com vários players internacionais, e queremos trazê-los aqui ao nosso stand para permitir aos nossos associados falarem com eles, e, portanto, gerar negócio nessa perspetiva. E, em terceiro lugar, porque o turismo é um segmento de negócio de pessoas para pessoas – a ANAV quer ter um espaço de confraternização, um espaço de encontro para conversar, para colocar ideias, mas acima de tudo para saudar aquilo que é a grande alegria e a atividade do setor turístico.
Temos tido um crescimento de associados e isso é a parte mais interessante de tudo isto, porque, pouco a pouco, estamos a passar a mensagem que queremos da ANAV, que é uma associação cognitiva, que defende os interesses dos agentes de viagens, que sabe que em primeiro lugar, para além dos interesses dos agentes de viagens, está também o interesse dos clientes finais. A ANAV tem trabalhado nisso, como é o caso da ação que estamos a colocar à Ryanair para garantir que as agências consigam ter acesso ao seu conteúdo e consigam vender de forma mais independente. É também o caso da ideia que lançámos do Dia do Agente de Viagens, muito bem acolhida, e isso é ótimo porque nós queremos, efetivamente, implementar este dia em Portugal.
É ainda o caso dos programas de formação que temos implementado junto das agências de viagens, e igualmente, este ano, tentar garantir que o Provedor do Cliente venha a ser uma realidade dentro da nossa associação ou, como bem disse o Secretário de Estado do Turismo, Pedro Machado, um Provedor para todas as associações de viagens em Portugal. Qualquer uma das ideias é boa para nós.
Tenho a dizer que enquanto ANAV já atravessámos dois Secretários de Estado do Turismo e já caíram dois Governos, e nós temos pouco mais de dois anos. Não é fácil, porque vamos começar novamente este processo. O atual Secretário de Estado de Turismo, quer o anterior, tem, no fundo, promovido um excelente diálogo com a ANAV. E digo que isto não se esgota apenas na ANAV porque o Pedro Machado, que já está há muitos anos no setor, tem um profundo conhecimento do mesmo e este conhecimento, esta relação existente, este know-how, esta vontade de fazer coisas é muito relevante, especialmente quando entendemos que a tutela tem um pé assente na terra do Turismo.
Temos assistido, é uma verdade, que este diálogo existe com a tutela e continuará a existir. Temos muitos pedidos junto dela e existe sensibilidade e interesse para resolvê-los. E, por isso, quero acreditar que qualquer decisão que venha do povo português nestas eleições legislativas, o Governo em questão escolherá um bom Secretário de Estado do Turismo.
Não tenho dúvidas que ambos os temas terão impacto, por razões distintas. Penso que existe um interesse por parte do regime em privatizar a TAP – iríamos saber durante este mês de março, já não sei se será possível. Aparentemente, há interessados e há pelo menos um interessado que veio falar conosco em privado e mostrou o seu interesse nesta compra. É bom quando há vários interessados a comprar uma companhia e o histórico tem mostrado que é bom a TAP ser privatizada, porque traz maior autonomia para as decisões e a TAP é efetivamente uma empresa muito politizada. Naturalmente, se uma empresa é politizada, quando temos uma queda de Governo, qualquer decisão vai ser recriada, porque vai com certeza custar votos.
Em relação ao aeroporto, sou muito mais pessimista. Dadas às condições atuais, não acredito que venhamos a ter um aeroporto dentro de 10 anos, tal como está previsto, nem sei se custará o valor que está também orçamentado. Estou verdadeiramente preocupado se, por acaso, andar para a frente a estrutura de financiamento apresentada, mas a verdade é que também a tutela tem ouvido os stakeholders e isso é bom. Mais uma vez, cá estaremos para defender os interesses das agências de viagem e dos clientes finais.
Para 2025, quais são os desafios para o mercado de outgoing?
Os principais desafios vão ser, claramente, a instabilidade internacional, que ao dia de hoje é uma interrogação muito grande, por conta da rápida alteração de status quo na perspectiva económica e de paz mundial, e o facto de termos uma queda de Governo também pode ter impacto mais para o final do ano, não agora, na venda de produtos de outgoing.
Mas quando chegar a hora serão os operadores turísticos a responder e, até agora, os operadores têm tido uma capacidade de resposta muito positiva, uma dinâmica brutal, uma capacidade de adaptação às alterações do mercado também muito grande, e, na minha perspectiva, diria que 2025 vai ser um ano de crescimento.
E no incoming, essa perspectiva é a mesma?
É igual. Tenho a certeza que no incoming vamos continuar a crescer enquanto país de destino de turistas, mais até do que no outgoing. O nosso mercado trabalha muito bem o turismo internacional, e quando digo o mercado não falo apenas das agências de incoming, falo do restaurante, fala do hotel, fala das regiões de turismo, fala da própria tutela na promoção internacional. Existe uma combinação de fatores muito grande, uma comunhão de interesses muito grande, entre todos, que permite que o nosso mercado seja possível para os turistas.
Por Diana Fonseca