André Jordan: Portugal “não pode continuar” com o turismo massificado porque “não é sustentável, não é rentável”

“Lisboa é uma cidade que faz lembrar uma mulher que não é muito bonita, mas é muito charmosa. Com o boom do turismo de massificação passou-se para a ilusão, esse bluff da gastronomia dos chefs… passámos para uma coisa que não é sustentável”. Em entrevista ao Sol, André Jordan, o fundador da Quinta do Lago, considera que Portugal não pode continuar com o turismo massificado e porquê? “Não pode continuar porque não é sustentável, não é rentável. Veja o seguinte: as pessoas, e conheço algumas que compraram casas e palácios antigos para converter em alojamento local, agora não têm ocupação, estão a vender para habitação normal… Também há hotéis que vão ser convertidos em apartamentos. As pessoas vinham aqui porque a razão preço qualidade era excecional”.

Na opinião do responsável, um dos caminhos de futuro passa pela “junção do turismo com o imobiliário. Transformar os turistas em turistas permanentes. Passar a fazer de Portugal a sua base ou pelo menos o seu refúgio. E isso é que é o nosso nicho de mercado. E nós temos agora de, com grande capacidade técnica, descobrir onde é que estão esses nichos, onde é que estão os nossos clientes e fazer promoções para atingi-los. E claro vão ser muito menos turistas. Vai haver menos aviões, tudo isso é uma contradição”. André Jordan relembra também outra vertente: “queremos acabar com o aquecimento global mas termos cada vez mais aviões, cada vez mais aeroportos, não é compatível. Temos que ter um turismo de qualidade que não é só para milionários”. Para o responsável: “É melhor ter uma hotelaria e um turista de qualidade que paga melhor e que também pode pagar melhor às pessoas que trabalham”.

André Jordan coloca ainda outra questão, a dos prémios com que o país tem sido agraciado nos últimos anos: “Aquilo do turismo, prémios mundiais a que é preciso candidatar-se, paga-se uma entrada e depois escolhe-se o prémio que se quer”. Questionado sobre se acha que o Governo português tem comprado prémios de turismo, o responsável responde que: “Não adianta nada. Isso é uma fantasia e só faz bem ao ego dos funcionários públicos e dos porteiros dos hotéis. Quando um prémio é autêntico vale, mas quando são essas coisas compradas não interessa nada. Está na net. A pessoa inscreve-se e paga 500 libras para ser nomeado. E depois mandam o diploma. Nem vem emoldurado. Dão a entender que se se subir para outra categoria, há uma tabela. Não é segredo. Mas por outro lado, há prémios internacionais de turismo que são verdadeiros”.