Aniversário Ambitur: “A resiliência do setor do turismo”

O 31º aniversário da Ambitur serviu de mote para sabermos qual a visão dos Conselheiros Ambitur sobre o futuro do turismo nacional, neste momento que muitos consideram ser de viragem da confiança do consumidor. Para se ter uma perspetiva ainda mais abrangente do que se pode passar nos próximos temos no negócio turístico nacional, acrescentámos ainda a posição institucional da secretaria de Estado do Turismo e do Turismo de Portugal, assim como a análise da nova equipa de gestão da TAP. Fica aqui o testemunho de Miguel Quintas, CEO do Consolidador.com.

Aparentemente estamos na reta final do período mais negro da história mundial recente. Digo “aparentemente” porque ainda não sabemos o que nos espera neste inverno que se aproxima. O nível de incerteza no que toca à reação dos governos e do mundo sobre um recrudescimento de incidência da COVID19 ainda é desconhecido. Ninguém se atreve a fazer previsões, pese embora o otimismo comece a regressar. Andamos todos debaixo de uma dúvida enorme, mas em particular em Portugal. O nosso governo foi dos mais estritos e dos que mais se apoiou no setor económico do turismo ajudar a combater um problema sanitário de difícil resolução. Seguramente todos nos lembramos que a hotelaria foi obrigada a exigir e a fazer testes antigénio aos seus clientes (coisa que não me lembro de ter visto em mais parte nenhuma no mundo) e no setor da restauração, os testes não eram exigidos durante a semana, mas sim ao fim-de-semana (coisa que também não vi em mais lado nenhum do mundo!). Duros golpes num momento económico já por si muito difícil. A verdade é que o governo português se apoiou fortemente no setor do turismo para alavancar as suas políticas de gestão sanitária. E até podemos aceitar tais decisões se o objetivo final for ajudar todo um país a combater a pandemia das nossas vidas. O que falta agora é… devolver a este mesmo setor os fundos e os meios económicos que lhes foram retirados em prol da saúde toda uma sociedade. Até hoje, a devolução é residual e o apoio previsto é ínfimo face às perdas de todos os empresários e empregados deste setor.

Posto isto o que resta ao setor do turismo? O mesmo de sempre… defender-se, lutar, empreender, reinventar-se e gerir ainda melhor que no passado, se possível. É claro que sabemos que o espírito empreendedor do empresário Português vai prevalecer e setor voltará a crescer, embora não se saiba ainda quanto e quando. Mas faria falta que alguém olhasse para um setor que vale 15% do PIB nacional com mais cuidado, caso queiramos reativar a nossa economia como um todo harmonioso. A verdade é que a recuperação económica pós-COVID será tão mais lenta quanto menor a capacidade financeira do tecido empresarial de um país. Em pleno século XXI já se sabe que o motor das economias são as empresas e não as mega obras públicas dos estados. Esta receita está mais que estudada e os “novos planos Marshall” não funcionam.

No que toca a um plano mais micro, onde as empresas podem atuar no curto prazo, vejo três grandes temas a serem resolvidos pelos empresários do turismo.

Em primeiro lugar os empresários precisam de ser libertados do estrangulamento financeiro que a pandemia causou. Num futuro de curto prazo, acredito que as bases/alavancas para ajudar a aliviar a pressão passará por uma estratégia muito focada na receita imediata e portanto, em estratégias de distribuição online diretas. Embora seja uma solução rápida de aumento de margens, a mesma acarreta riscos de ordem comercial, nomeadamente pela necessidade de cortar o “homem do meio” nos canais de distribuição.

Em segundo lugar acredito que para além da incapacidade financeira de reinvestir, a rotação de recursos humanos tornou-se um problema a ter em consideração. A pandemia gerou necessidades pessoais de mudanças. E as pessoas mudam de realidades hoje com mais facilidade que no passado. Formar recursos é uma atividade que toma tempo (e dinheiro) e as empresas terão necessidade de o fazer já no curto prazo.

Finalmente, o terceiro grande tema premente será a gestão do “homeoffice” e os mecanismos que se terão que montar para garantir a gestão, a qualidade de serviço e a motivação dos recursos humanos que trabalham remotamente e pontualmente privados de interagirem socialmente com tanta regularidade. Neste sentido, os departamentos de recursos humanos terão um papel essencial no equilíbrio económico das nossas empresas.