O 31º aniversário da Ambitur serviu de mote para sabermos qual a visão dos Conselheiros Ambitur sobre o futuro do turismo nacional, neste momento que muitos consideram ser de viragem da confiança do consumidor. Para se ter uma perspetiva ainda mais abrangente do que se pode passar nos próximos temos no negócio turístico nacional, acrescentámos ainda a posição institucional da secretaria de Estado do Turismo e do Turismo de Portugal, assim como a análise da nova equipa de gestão da TAP. Fica aqui o testemunho de Bernardo Trindade, administrador do Grupo PortoBay.
A recuperação do negócio turístico nacional tem-se processado a várias velocidades, muito relacionada com as diferentes abordagens à pandemia. É possível dizer hoje, com razoável segurança, que as regiões autónomas da Madeira e dos Açores, em virtude de não terem sofrido uma II e III vagas, puderam recuperar mais rapidamente. Os números alcançados durante este verão foram melhores nestes territórios.
Em geral, a recuperação turística está a acontecer. Com maior ou menor dificuldade, mas em função de variáveis que não controlamos: a evolução da situação pandémica, bem como a recuperação do setor aeronáutico.
Estabilizadas estas variáveis, retomada a confiança de quem nos visita, julgo que teremos condições para voltar a sorrir…
O ponto de partida é onde ficamos depois da pandemia, isto é, na redução muito significativa do negócio turístico que aconteceu em resultado de uma obstrução completa à mobilidade de pessoas. No caso português, uma vez que a acessibilidade ao nosso país se faz em mais de 90% por via aérea, foi contar fundamentalmente com o turismo nacional. É importante que se diga, o mercado nacional, os portugueses, portou-se/portaram-se lindamente. O Algarve, as regiões autónomas, o Porto e Norte, o Centro e o Alentejo foram os principais beneficiários desse comportamento.
Mas não vamos reinventar a roda. Todo o país, respeitando a sua diversidade, empreendeu um caminho muito bonito nos últimos anos. Vai reerguer-se. A conversa do combate à monocultura do turismo é uma conversa ignorante. A experiência de consumo de um turista em Portugal faz ganhar outros setores. O turista em Portugal alimenta-se de produtos nacionais, do têxtil português, da cutelaria portuguesa, da cerâmica portuguesa…
Claramente teremos novos desafios pela frente e, o maior de todos será, sem dúvida, a manutenção da força de trabalho. Reconheço, e já o afirmei muitas vezes, o papel fundamental da segurança social durante a crise. Não fora o lay-off simplificado e o apoio à retoma e o setor do turismo teria enfrentado dificuldades gigantescas.
Agora, estamos numa nova fase, e a segurança social, leia-se o subsídio de desemprego, não pode ser o principal concorrente à contratação. Temos assistido na cadeia de valor do turismo, e noutras atividades, a uma dificuldade imensa na contratação. E uma das razões tem que ver com a facilidade com que se recusam ofertas de emprego. É urgente tomar medidas que assegurem uma maior fiscalização. Os subsídios de desemprego são recursos públicos que devem ser bem aplicados, pois, sem dúvida, em momentos de dificuldade são um instrumento muito importante de equidade.
Numa outra área, nota para o acompanhamento a dar às empresas em resultado do fim das moratórias. É fundamental acompanhar a evolução dos balanços pois está também aí a sustentabilidade financeira futura das empresas.