O 31º aniversário da Ambitur serviu de mote para sabermos qual a visão dos Conselheiros Ambitur sobre o futuro do turismo nacional, neste momento que muitos consideram ser de viragem da confiança do consumidor. Para se ter uma perspetiva ainda mais abrangente do que se pode passar nos próximos temos no negócio turístico nacional, acrescentámos ainda a posição institucional da secretaria de Estado do Turismo e do Turismo de Portugal, assim como a análise da nova equipa de gestão da TAP. Fica aqui o testemunho de Jorge Rebelo de Almeida, presidente da Vila Galé.
Antes de mais, queria começar por felicitar a Ambitur pelo seu 31º aniversário. Muitos parabéns pela longevidade, o que é também é uma evidência da qualidade do jornalismo que praticam. E, paralelamente, agradecer o vosso empenho e dedicação ao turismo em Portugal, cuja história também têm ajudado a escrever e a contar. De facto, este último ano e meio não tem sido fácil para o sector, que teve as maiores quebras de sempre. Contudo, e agora que a pandemia parece estar mais controlada graças às vacinas e ao enormíssimo contributo de toda a comunidade médica e científica mundial, é tempo de olhar para a frente, de voltar à vida com ânimo, de trabalhar ainda mais para recuperar. É certo que a crise está longe de estar vencida, mas acredito que já estamos a sair do túnel.
Para tal, é essencial pôr em marcha uma grande campanha de promoção juntos dos principais mercados emissores, para capitalizar o facto de Portugal ter sido um dos países mais rápidos a vacinar a maioria da sua população e o segundo país mais vacinado do mundo, enfatizando o sucesso de todo o processo de vacinação. Isso será muito importante para mudar alguma má imagem que possa ter afetado a reputação nacional durante as piores vagas da pandemia e também contribuirá para passar muita confiança e segurança a quem nos visita. Sendo que, evidentemente, é necessário conjugar tudo isto com a manutenção do controlo sanitário e a continuidade de todos os cuidados de proteção.
Também será importante intervir ao nível das acessibilidades, sobretudo aéreas, tentando captar e restabelecer mais rotas. Neste ponto, é urgente e essencial proceder a uma avaliação rigorosa da viabilidade da TAP. Será bom para Portugal manter a TAP. Todavia, se esta se revelar inviável, temos de correr atrás de alternativas para garantir as ligações aéreas a Portugal, com ênfase para o Brasil, EUA e Canadá, sob pena de criarmos um vazio na procura do destino Portugal. Mas também devemos olhar com atenção para outras formas de mobilidade. Por exemplo, a ferrovia, idealmente eletrificada, poderá vir a ser um meio de transporte preferencial para turistas portugueses e internacionais, dependendo das distâncias. Aliás, essa será também uma estratégia adequada para garantir a sustentabilidade e a preservação ambiental, que deve ser um desígnio do turismo português e um ponto forte para se conseguir recuperar. Se Portugal se assumir como um ‘destino verde’, consegue diferenciar-se.
E há ainda que aproveitar muito bem os recursos da ‘bazuca’, que é a derradeira oportunidade para fazer as reformas de que andamos a falar há anos, sem que se concretizem. Aqui, teremos de olhar para problemas antigos, que continuam sem solução e a atrapalhar a vida dos investidores e empresários: reforçar o serviço nacional de saúde, ter apoios financeiros a fundo perdido para capitalizar as empresas, incentivar fortemente a formação profissional, reformar a administração pública, reduzir a burocracia e agilizar os licenciamentos, garantir a estabilidade fiscal, jurídica e laboral, reformular o modo como se olha para o território e estimular o desenvolvimento do interior, que está cheio de oportunidades.
Apesar da pandemia, a verdade é que temos cá tudo. E, ao contrário do que teria sucedido se tivéssemos passado por uma guerra ou uma grande catástrofe natural, está tudo pronto para voltar a receber turistas. Na anterior crise, foi o turismo que puxou pela economia e que ajudou a equilibrar as contas. Agora, a recuperação pode ser um pouco mais lenta, mas vai acontecer e continuará a existir margem para crescer. Se houver flexibilidade, muito trabalho, abertura para correr alguns riscos e capacidade de resistência, o turismo voltará a ser um motor da retoma.”