Quem também se juntou ao painel debate sobre “As mudanças previsíveis na cadeia de valor na era pós-covid” – durante a GEA Web Conference 2020 – foi António Loureiro, diretor regional da Travelport para Portugal, Espanha, Angola, Moçambique e Cabo Verde.
António Loureiro começou por frisar que “o GDS depende necessariamente das agências de viagens e da capacidade que tem de angariar conteúdos para distribuir”. De acordo com um survey recente da Travelport, feito a nível global e com o contributo de vários intervenientes da cadeia de valor, 29% dos consumidores entre os 18 e os 34 anos “que normalmente já não olhavam para um agência de viagens de ‘rua’, respondeu que na retoma vai com certeza apostar no serviços das agências de viagens”, avança. No geral, mais de 60% dos entrevistados adianta recorrer aos serviços das agências “porque lhes oferece maior confiança” e apenas 5% “valoriza a interação humana com o agente de viagens”.
O diretor regional da Travelport conclui que a geração mais jovem “vem na nossa direção e temos de estar preparados para interagir com ela” sendo “obrigados a acelerar um bocadinho e a mudar o nosso comportamento relativamente à criação de valor e à forma como comunicamos”. “Vamos ter necessidade de sustentar toda esta nova possibilidade de negócio que vai aparecer”, acrescenta. Será necessário um “esforço adicional” em formação para “lidar com todos estes mecanismos de digitalização e conhecimento do destino de forma remota”.
Os clientes vão no futuro próximo procurar “maior flexibilidade” até porque “temos regras muito rígidas”, comenta o responsável que confia também que “vamos aumentar os níveis de eficiência e a necessidade de digitalização”. Para António Loureiro, “está na altura de deixarmos de falar sobre o que o GDS pode fazer por vós e dizerem-nos o que querem que o GDS faça por vocês”.
“As agências de viagens têm informação privilegiada porque conhecem os clientes”
O profissional acrescenta que “o consumidor vai exigir de nós a especialização” pelo que teremos de “provar que somos capazes”. António Loureiro prevê que haverá uma “corrida brutal de destinos a tentar captar a nossa atenção, enquanto viajantes, e aí as agências de viagens podem também ter um papel relevante” com o surgir de “modelos de negócio muito interessantes” e veiculados através da Travelport.
A grande mais valia das agências é a “informação privilegiada” que têm sobre “o conhecimento dos clientes atuais e a forma como eles reagem e respondem” e que “é crítica em qualquer tomada de decisão para os fornecedores”. E vai mais longe: “Não é segredo para ninguém de que durante toda esta crise os fornecedores andaram atrás das agências de viagens a perguntar qual é o forecast que elas têm sobre as vendas. Nós não conseguimos chegar ao consumidor, logo temos de confiar em vocês para nos dizerem o que é que vocês acham do mercado.” António Loureiro defende que “isso eu não negociaria com ninguém”.
“As companhias de bandeira vão ter necessidade de se aproximar do modelo de negócio das low cost”
Por fim, o orador não tem dúvidas de que “os modelos de negócio vão mudar” e a começar logo nos próprios aeroportos e aéreas. Dá conta de que “estamos a assistir a um aproximar do modelo de negócio [por companhias de bandeira] a que convencionalmente chamamos as low cost na ânsia de captar tráfego de lazer e escapadas”, por “não estarem dependentes de acordos de empresa e de um conjunto de regras que normalmente não se aplicam às budget airlines“.