Asua experiênciapolítica e associativalevaram-no a afirmar que lhe retiraramuma visão tão«egoísta» do negócio quehabitualmente tem um empresário. Oturismoprecisavade mais empresários aparticiparemassociativamente? Tive o privilégio na minha vida de terpassado porvárias experiências. Aqui tenho que fazer uma primeira declaraçãode interesses.Tenho da política uma visão nobre. A experiência política comarepresentatividade partidária pode não ser a perfeita, mas é a menosimperfeita,por isso é aquela em que aposto. As minhas experiências políticas,quer no foroparlamentar nacional, regional e municipal, permitiram-me umavisão dehelicóptero à escala nacional e regional, que não teria se a minhavida setivesse confinado a uma experiência empresarial. Numa outra área quetambém deimuito a nível pessoal foi às estruturas associativas, aquisabendodistinguirmuito bem o que é uma experiência mais colectiva no foroparlamentarouautárquico do associativo. A estrutura associativa é umpoucodiferente,porqueé a junção de n instituições e de n pessoasque se queremjuntarpara atingir determinados objectivos. Só que oobjectivode cada um é aonívelda sua estrutura empresarial concorrentedoseuparceiro. Por isso aexperiênciaassociativa ainda se torna maisinteressante,mais exigente, porqueeu naassociação tenho de saber o queaproxima osdiferentes intervenientes e oque ossepara. A realidadeassociativa é algoque tem de superar a área derelacionamentointerempresarial e se colocar ameio caminho com o sectorpúblico.
Isso está a serconseguido… Há alguns tabus que têm se serultrapassados. Temhavido aqui um mal-entendido numa lógica de abordagemturística nacional entre oque é o turismo nacional sem se separar do que é onegócio turístico da ofertaturística nacional. É muito difícil para umagentede viagens que não estejaligado ao receptivo ter uma perfeita noçãode quaissão os verdadeiros problemasda oferta turística, a sua área denegócio égerarnegócios em Portugal paraPortugal e para o exterior, énecessariamenteemrelação à nossa oferta umagente de procura e não daoferta. Se o agentedeviagens, fruto das suasrepresentações e ligaçõescomo exterior, não temconhecimento dos problemas quese passam com aofertaturística, corre o riscode estar desfasado dosverdadeirosproblemas. É porisso que muitas vezes,quando falamos comestruturasassociativas, ditasrepresentativas da ofertaturística, encontramosalgumas situações que nãoficam totalmenteesclarecidas.Vou-lhe darpequenosexemplos: para um agentede viagens outransportador aunidadequeconta é ocliente, para a ofertaturística é adormida. Isto querdizer quepara osprimeiros transportarem10 clientes, quefiquem um ou 10dias, oganho está nocliente, se eu tiverum que fica 10diasou umanacionalidade que me gere 10dias é muitodiferente. Este tipodeabordagemtemque ser necessariamente, queremtermos empresariais querassociativos,liderada por quem tem o conhecimento esente na pele o que sãoestesproblemas.
Há aqui alguns tabus que têm de ser necessariamenteultrapassados. Por exemplo, a guerra das low cost, das point to point, que sãoos maus da fita. Mas o que normalmente geram as point to point são estadiasmaislongas no destino, porque os voos, nomeadamente, as companhias queutilizam hubsnos principais aeroportos, e falo aqui de Lisboa e Porto,tendencialmente ocontributo que trazem para as dormidas no destino é forte,mas se formosanalisar o contributo em termos de dormida, ocupação hoteleira,ocontributo éem termos numéricos menor, evidentemente. O repensar, orediscutir, oposicionamento que cada um dos agentes possa ter na sua relaçãocom o mercado,obriga-nos aqui a partir muita pedra.
Aí o desafio tem de ser colocar às própriasestruturasassociativas, nomeadamente a AHP e a APAVT, no que podemos conjugarcomo umoutro entendimento, inclusivamente tirando aqui alguns tabus que secolocamuitas vezes nesta relação de amor-ódio que existe entre a nossatransportadoranacional e a oferta turísticaportuguesa.
Quais os outrostabus? Um outro tabu que existe é contra as OTAs(agênciasde viagens on-line), nomeadamente contra a Booking, que énormalmenteeleitacomo a principal. E isto, quanto a mim, é das maioresinjustiças que sepodemcolocar relativamente a um parceiro de negócios, eainda há muito poucotempoouvi essas referências, o que me leva a perguntar“Qual é o canal dedistribuição que eu consigo obter sem ser estes,quemetraduz em 18 línguas aminha estrutura hoteleira? Qual é ainstituiçãoque mepermite levar à escalamundial aquilo que euefectivamente nuncaconseguiriaatravés dos parceirosnormais da operaçãoturística? Outracrítica que sefazéque levam comissõeselevadas. Oraesta comissão é tãoalta quanto ohoteleiroqueira, mas ohoteleiro narealidade quer acomissão mais baixa,coma presençamais do queprioritária. Só que todosquerem a mesma presençaprioritária. Masas regrasdejogo, e isto é o queeu acho particularmenteinteligente no modelodabooking.com, é que quemescolhe tudo é o prestadordeserviços,nomeadamente,umfactor que éimportante quando se compara umabooking comumoperadorturísticotradicional estrangeiro é que o operadorestrangeironormalmente fazoditomarkup muito superior aos 20% dacomissão. Depois,este dinheiro nãochega a entrarem Portugal porque ficadesde logo na origemonde foigerado. Onegócio, aocontrário da booking,emque o cliente paga aohoteleiro e ohoteleiro é quecomissiona. Todoestecircuito de cash flowécompletamentediferente, mas édeixada aohoteleiro,toda a estratégia,servindo a companhia– e isto aplica-seàexpedia quesegue o mesmocaminho–julgo que o tabu quese levantou emtermosnacionaisdeveobrigar àsprópriasinstituiçõesassociativas, anum determinadomomento,virempublicamente dizerque nãoconsideramestes operadores comomalesnonegócio e são efectivamentequem nosaproxima melhor e maisrapidamentedasdiferentes origens.
Já falou muito em transporte aéreo e emacessibilidade. Já falou na privatização da ANA, temos a privatização da TAP. Ese juntarmos então estes últimos às mudanças da promoção externa, o nossoturismo vai entrar num novo paradigma? Outro tabu que se tem discutido muito é odinheiroque se dá às low costs. Se nós percorrermos o que o país gasta para acomercialização nas outras áreas de exportação, é manifestamente superior aoquese gasta por euro arrecadado em relação ao turismo, com o acréscimodaquiloquetem vindo a ser referido, no turismo nós exportamos cá dentro,nóstrazemosgente a vir consumir cá dentro, o que tem efeitos evidentementebenéficos noprodutor, no distribuidor, no retalhos e no estado. Nós, aoexportarmos, somosoúnico sector onde trazemos gente cá dentro, gastem cádentro, e nomeadamentepaguem IVA, paguem mais gente para estar nadistribuição, mais gente para estarno retalho, que é uma mais valia queefectivamente os outros sectoresexportadores não têm. Mas, quando se está afalar do contributo para ostransportes temos de ver primeiro o que o mercadoda concorrência está a fazer,e eles estão a fazer isto e muito mais. Mas,emrelação a outros sectores deactividade, o produtor, o vendedor, quantasvezesse associa com o compradorou& a procura, numa lógica de poderpartilharorisco donegócio. Istoquer dizer que a& grande fábricacoloca, mandaàconsignação para a&distribuição os vinhos, as roupase, seeventualmentenão vender, nósretomamos, portanto partilhamefectivamente. Oquetemacontecido em relação aPortugal, e sobretudorelativamente adestinos quetenham um risco acrescentadona própriaprocura e isto só háumaforma deultrapassar: a oferta se colocaraoladodo transporte ou aolado dooperador elhe dizer “vocês têm umdeterminadorisco previsto, oranós vamoscobrir partedesse risco e seeventualmenteisto não acontecer nósnão pagamostal”. Estaperspectivadepartilha derisco deve ser comungadapor quem operaparaPortugal,independentementeda cor e do nome que tenhanas asas doavião. Eparamim,quem transportadeve ser beneficiado comesseambiente departilhaderiscoeeste seria,quanto a mim, um grandecontributo paraultrapassaro&tabucom anossa companhia de bandeira,que seconsiderasempreultrapassada, nestalogica de atribuição debenefíciosàs companhiaspointtopoint, àscompanhiaslow cost, emdetrimentodela. Agora,evidentemente, quetemdese meter numbolo globaloquesão oscontributos aquem transporta. Eevidentemente que hábenefíciosque umaoutra companhiarecebe que não énecessariamente só ocontributoporlugar no voo. Tem de seconsiderar a umaescala global e aTAPtemdeter,nesta altura, o direito ea humildade deperceber tambémque temdesecolocar como uma outra companhiaem relaçãoàofertaturística.ATAPnestecaso tem outras responsabilidadeseobjectivos,mastambémtemdeperceberquepor parte do sector turístico oque se quer équecheguegente e quetenham omaior número de dormidaspossíveis nos seuspróprioshotéis.
Vamos entrar aqui num novo paradigmaturístico? O que é particularmente importante é adefiniçãoclara de regras de jogo, em relação a cada um dos parceiros. Julgoque depois umaeroporto, uma transportadora, um hotel, um DMC, são todosagentes para acaptação de determinado mercado e isto tem de ser feito de umaformarelativamente pragmática onde previamente foram definidas estas regras.Naprivatização dos aeroportos, que regras de jogo é que se tiveram paragarantir acompetitividade, para que os destinos possam ser eventualmente maissalvaguardados do que uma mera utilização de hubs. Tenho de considerar queparao destino Portugal, é mais importante ter um cliente que, passando peloaeroporto de Porto ou Lisboa – infelizmente Faro e Funchal não estãocontemplados nesta área – ou Ponta Delgada – porque é dos aeroportos de segundalinha, onde há mais rotação para os Estados Unidos.A politica de bonificaçãodosaeroportos em função de quem fica efectivamente no destino devia serescalpelizada e devia ser inclusivamente majorada. Agora, por outro ladotambém,a política promocional tendo como parceiros os transportadores e osaeroportostem cada um um papel a desempenhar nesta área, percebamos quaissãoosobjectivos de uns e dos outros. Isto é como as estruturasassociativas,pensar avenda de Portugal tem de ser numa lógicasuficientementecompreensiva,mas quetenha um objectivo comum, que é pôrturistas a dormiremPortugal.
Por PedroChenrim