APAVT 2023: “Precisamos de consolidar uma estrutura que torne a TAP estruturalmente rentável e sustentável para sempre”

Luís Rodrigues, CEO da TAP desde março deste ano, esteve à conversa com Pedro Costa Ferreira, presidente da APAVT, no 48º Congresso da Associação Portuguesa das Agências de Viagens e Turismo, que se realizou entre 30 de novembro e 2 de dezembro, no Porto. O gestor explicou o que tem feito neste período e os resultados que já são visíveis, lembrando que, quando entrou na companhia aérea, a primeira prioridade foi obter um diagnóstico.

Luís Rodrigues afirma ter-se deparado com “uma operação desorganizada”, com um conjunto de cinco a seis aviões contratados fora e outros tantos “no chão” sem ser utilizados

E esse diagnóstico levou ao reconhecimento de quatro questões que teriam de ser abordadas. Em primeiro lugar, Luís Rodrigues afirma ter-se deparado com “uma operação desorganizada”, com um conjunto de cinco a seis aviões contratados fora e outros tantos “no chão” sem ser utilizados. Um tema que teve de ficar em suspenso até novembro, altura em que mudou o horário de inverno IATA, permitindo já corrigir múltiplas coisas. O que leva o orador a acreditar que “a operação vai melhorar ainda mais a partir de agora”.

Por outro lado, recorda o clima sócio-laboral “muito crispado”, algo que garante estar já “estabilizado” com a celebração dos acordos de empresa.

o novo CEO da transportadora portuguesa foi surpreendido pela “falta de conhecimento” da indústria e da operação pois, recorda, entre 2020 e 2021, foram mais de três mil os colaboradores que saíram da TAP, “pessoas que levaram o conhecimento com elas e que suportavam a organização”

Em terceiro lugar, o novo CEO da transportadora portuguesa foi surpreendido pela “falta de conhecimento” da indústria e da operação pois, recorda, entre 2020 e 2021, foram mais de três mil os colaboradores que saíram da TAP, “pessoas que levaram o conhecimento com elas e que suportavam a organização”. O problema, explica, é que “esta é uma indústria muito exigente, a indústria mais complexa do mundo, a única que nunca conseguiu pagar o custo de capital e que demora muito tempo a aprender”, e todo o conhecimento que havia “ficou perdido”.

atraso tecnológico significativo pois, nos últimos seis a sete anos, o ambiente na TAP “não foi propício a investimentos e atualização tecnológica”

Por fim, Luís Rodrigues aponta o atraso tecnológico significativo pois, nos últimos seis a sete anos, o ambiente na TAP “não foi propício a investimentos e atualização tecnológica”, sendo necessário fazer atualmente o upskilling dos colaboradores.

Hoje, o gestor garante: “Olho para a frente de uma forma extremamente positiva”.

“O tempo dos cavaleiros solitários da gestão não existe”

Quanto aos resultados da companhia este ano, o CEO da TAP lembra que se devem, em primeiro lugar, aos clientes (agentes de viagens e clientes diretos). Por outro lado, devem-se aos trabalhadores da TAP mas também ao acionista “que suportou a empresa e está cá para fazer acontecer”. E, claro, acrescenta, devem-se aos contribuintes “que aceitaram contribuir para que a TAP continuasse a existir e tivesse cada vez melhores resultados”.

“o tempo dos heróis e dos cavaleiros solitários da gestão não existe, isto é um trabalho de equipa e de muita gente, ao longo de muito tempo”

Mas, fundamentalmente, Luís Rodrigues lembra que “o tempo dos heróis e dos cavaleiros solitários da gestão não existe, isto é um trabalho de equipa e de muita gente, ao longo de muito tempo”.

“estamos mal habituados a crescimentos pós-Covid de 20% e 30%, e isso é impensável em qualquer indústria, a prazo”

Relativamente aos números, o gestor indica que “estamos mal habituados a crescimentos pós-Covid de 20% e 30%, e isso é impensável em qualquer indústria, a prazo”, pelo que o que se verifica agora é “um alisamento do crescimento”, algo que considera natural. Significa isto que um crescimento entre 3% e 5% “é bom”.

Neste momento, a TAP está a fechar o orçamento de 2024 e, segundo avançou, está a olhar para crescimentos entre 6% e 7%, o que é “perfeitamente saudável”. E acrescenta: “Mais do que isso nem sequer é desejável pois precisamos de consolidar uma estrutura, aquela que estamos a montar, que torne a empresa estruturalmente rentável sustentável para sempre, ou pelo período mais longo possível”.

a companhia aérea tem um condicionamento que leva a que, até final de 2025, no âmbito do plano da reestruturação, não possa aumentar a sua frota

Além disso, Luís Rodrigues recorda que a companhia aérea tem um condicionamento que leva a que, até final de 2025, no âmbito do plano da reestruturação, não possa aumentar a sua frota. Ou seja, o seu crescimento será via troca de aeronaves, substituindo aviões mais pequenos por maiores, com maior capacidade; e por aumentos de preços, o que levará, confirma, a crescimentos na ordem dos 6% a 7% nos próximos dois anos.

Privatização: sim ou não?

O CEO da TAP foi ainda questionado sobre o tema da privatização e assumiu: “Pragmaticamente, é impensável ter uma empresa de aviação a atuar no mercado competitivo global e a ser condicionada por um acionista, neste caso, o Estado”. Por isso, defende, “a forma mais óbvia e historicamente fácil é privatizá-la e o Estado, dada a importância estratégica que tem para o país, continuar a acompanhá-la”.

Se a privatização não for possível, Luís Rodrigues defende então que se criem regras que permitam que a empresa seja gerida “livre dos entraves administrativos a que está sujeita no atual quadro”

Se a privatização não for possível, Luís Rodrigues defende então que se criem regras que permitam que a empresa seja gerida “livre dos entraves administrativos a que está sujeita no atual quadro”. E um desses entraves, revela, é o facto de ter de submeter ao Tribunal de Contas toda a despesa superior a cinco milhões de euros, por exemplo. “Ou seja, para comprar combustível, tenho de ir ao Tribunal de Contas”, diz.

Entre outras questões que poderiam ser alteradas, o gestor refere porém que “não está a criticar o sistema” mas defende que se crie uma opção para que as empresas que operem num mercado internacional competitivo, como é o caso do transporte aéreo, tenham maior liberdade.

Por Inês Gromicho