Apecate: “É importante que as etapas do desconfinamento sejam comunicadas com clareza e limites temporais, permitindo que empresas e clientes possam definir estratégias”

Perceber de que forma as associações do setor do turismo percecionam o atual momento de uma retoma e que dificuldades se adivinham às empresas que trabalham esta atividade tem sido o objetivo da Ambitur.pt. António Marques Vidal, presidente da Direção da Apecate – Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos, começa por dividir a atuação do Governo no que diz respeito ao acompanhamento das empresas que fazem parte da atividade turística nacional em três etapas. No primeiro confinamento, reconhece que o Executivo foi “rápido” e criou respostas para as empresas, apesar de alguns problemas na sua aplicação às diferentes realidades. Distingue aqui a linha de apoio do Turismo de Portugal como a melhor medida desta primeira fase, uma linha que “foi melhorando ao longo deste período com o alargamento a pequenas empresas e o aumento do período de moratória e a introdução de prémio”, aponta.

Passando para a segunda fase, o responsável associativo não hesita em criticar: “O Governo foi desorganizado, atrasou a abertura do setor dos eventos, prejudicou muitas empresas marítimo-turísticas que operavam nas praias por legislação mal feita, o que só corrigiu muito mais tarde”. A Apecate admite não entender que as medidas não tenham como linha de orientação situações semelhantes, havendo uma “falta de consistência” que provocou “grandes dificuldades e problemas na interpretação por parte de empresários e autoridades”. E lança o apelo: “esperamos que esta desorganização não ocorra na próxima reabertura”. Recorda ainda que foi nesta altura que começaram os problemas por escassez de apoios, e os que havia eram “desajustados” e “esgotavam muito rápido”.

No novo confinamento, António Marques Vidal afirma que as medidas anunciadas esgotaram-se rápido: “A medida Apoiar acabou logo que tinha começado, ou o caso do apoio às rendas que tem uma limitação muito conservadora, o que impede de abranger mais de 70% da realidade atual das nossas empresas, nomeadamente as que utilizam centros de escritórios, ou as marinhas, para dar exemplos concretos (se estamos numa linha de sustentabilidade e as empresas evoluem)”. E vai mais longe, dizendo que, no que toca a fundos estruturais, estes não incluem o setor dos eventos e da animação turística, como muitas das linhas abertas pelas CCDR e CIMs. “No geral, apesar dos esforços do setor da economia, existe todo o restante Governo que não percebe a especificidade deste setor e a necessidade de apoio”, lamenta.

Medidas específicas para o setor
Perante este cenário, o presidente da Apecate esclarece à Ambitur.pt que, de uma forma geral, as empresas associadas “estão já ou no limite ou próximo dele”. E explica que a incerteza da reabertura e o cenário cada vez mais real de segundos adiamentos de iniciativas calendarizadas em março de 2020 para 2021, e que neste momento começam a ser adiadas para 2022, “agudiza ainda mais as questões financeiras”.

António Marques Vidal reconhece que “as empresas estão muito descapitalizadas” e espera que o Governo crie uma linha específica para a realidade das empresas do setor para apoio à retoma, “eficaz e simples”, se possível, diz, promovida pelo Turismo de Portugal, “que já provou que tem competência para o fazer rápida e eficazmente”. Além dos apoios diretos às empresas, para que possam manter as suas obrigações e conservar os recursos humanos, a Apecate espera ainda “uma definição clara de quais serão os fundos de apoio a eventos nacionais e internacionais, contemplando a versão híbrida (a qual nos irá acompanhar durante algum tempo), assim como será uma arma poderosa no posicionamento do destino Portugal, e na eliminação da concorrência direta de outros destinos”. E acrescenta: “estes apoios têm de contemplar apoios a fundo perdido”.

Neste momento, o presidente da associação de empresas de congressos, animação turística e eventos tem esperança que este desconfinamento “corra melhor que o primeiro”, defendendo que o Governo deve dialogar com as associações e criar “regras claras e equitativas”, baseando-se numa “verdadeira análise de risco” e não em “achismos ou medos”. António Marques Vidal lembra que tanto o setor do eventos como o da animação turística têm regras e procedimentos que os tornam um setor controlado e, por isso, mais seguro. É assim importante que as etapas do desconfinamento sejam comunicadas com clareza e com limites temporais, permitindo que empresas e clientes possam definir estratégias, em vez de continuarem a «navegar à vista» como até aqui”.

O responsável acredita que a retoma do turismo a nível europeu vai acontecer nos próximos meses, “mais «violenta» no início”, diz, já que muitos vão querer viajar, e depois com uma normalização após os dois primeiros meses. “Importa neste campo perceber qual será a posição da União Europeia relativamente ao passaporte Covid, o qual não poderá deixar de fora a população não prioritária que será mais tarde vacinada, ou os provenientes de destinos em que o processo de vacinação não está tão organizado, mas que são alguns dos nossos destinos de proveniência”, recorda