APENO quer afirmar o enoturismo enquanto setor de relevo na economia portuguesa

Em Portugal, o enoturismo assume-se como uma atividade com cada vez maior relevância. Dos pequenos aos grandes produtores, o vinho é cada vez mais um motivo para quem quer visitar o país. Há contudo uma lacuna nesta atividade: “É um setor que oficialmente ainda não existe.”

É precisamente para responder a este desafio que surge a APENO (Associação Portuguesa de Enoturismo). No lançamento oficial da associação, que decorreu esta quinta-feira, Maria João de Almeida, presidente da APENO, destaca a falta de “regulamentação” no enoturismo, sendo “fundamental para ajudar os produtores a guiarem-se”. Além dos desafios imensos que existem para afirmar o enoturismo como setor, a responsável alerta para a necessidade da “criação de uma CAE (Classificação Portuguesa de Atividades Económicas)” para o setor, onde atividades como as provas de vinho possam ser “legisladas”, por exemplo.

Até ao final do ano são várias as atividades da APENO. Maria João de Almeida começa por destacar a apresentação de dois estudos de enoturismo: O primeiro que demonstra a “realidade” da atividade em Portugal; e o segundo que centrará no Covid-19, onde, através de um inquérito, será possível detetar quais as “necessidades reais dos produtores nas adegas ou aqueles que se dedicam à atividade”. Um “Manual de Boas Práticas” que continue a promover as “visitas às adegas”, também fará parte da panóplia das atividades desta associação.

Também a “criação de uma bolsa de emprego” que promova cada vez mais a “qualificação” é algo que a APENO não descurará, até porque, a grande ambição desta associação é “criar o primeiro curso de enoturismo” no país, avança a responsável. Para tal, a “aposta na formação” é uma das prioridades, diz, anunciando que serão realizados “workshops de três dias” com profissionais da área. Dentro da APENO, há também um “gabinete de serviços” que trabalha em várias áreas: “Pessoas multidisciplinares vão ajudar a orientar” o produtor, os restaurantes, ou o proprietário do hotel, a garantir que atividade funcione em pleno. As “Wine Talks” – que tiveram o seu boom no confinamento – é uma área que a APENO vai querer inovar, apostando cada vez mais no digital: “Até ao fim do ano temos três agendadas”, afirma Maria João de Almeida.

“Enoturismo: Relevante, importante e estratégico”

Nuno Russo, secretário de Estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural, que também marcou presença na sessão do lançamento oficial da APENO, realçou a clareza do quão importante é o setor do vinho para a economia portuguesa, com um “contributo significativo para as exportações nacionais” e para o “equilíbrio da balança comercial”. Em 2019, Portugal ocupava o 9.º lugar do ranking de “maiores exportadores mundiais de vinho”, afirma o dirigente, realçando que “temos crescido a um ritmo de mais de 20 milhões de euros ao ano”.

A pandemia Covid-19 não pode ser motivo de desânimo: “A agricultura não parou, a produção não parou e o setor do vinho também não.” O responsável sublinha que o grande objetivo – após esta crise – passa por “voltar aos níveis de crescimento e aos níveis de exportação”. Para tal, Nuno Russo considera que é crucial “trabalhar” para mitigar os efeitos e lançar medidas que permita “continuar a garantir o crescimento económico”, designadamente, através da “criação de valor acrescentado” e do “valor da produção nacional”.

O secretário de estado da Agricultura e do Desenvolvimento Rural olha para o enoturismo como uma “área fundamental” para a “promoção dos vinhos portugueses” e para um “turismo mais sustentável e diversificado”. Além de “promover os produtos endógenos” ou “experiências gastronómicas realizadas nas diferentes regiões vitivinícolas” o enoturismo deixa “marcas na memória de quem nos visita e de quem quer conhecer Portugal”, afirma o dirigente, considerando ser “relevante, importante e estratégico” para o desenvolvimento do setor vitivinícola, mas também, associado ao “turismo ao nível nacional”. 

“Tem a capacidade de acrescentar valor ao vinho e ao turismo”

Também Lídia Monteiro, diretora coordenadora do Turismo de Portugal, não tem dúvidas de que o turismo português pode dar uma força ao enoturismo: “Tem sido um produto de referência para o Turismo de Portugal.” Ao juntar o “melhor destino turístico de mundo com os melhores vinhos do mundo”, a responsável acredita que, rapidamente, vamos “tornar-nos numa referência no enoturismo”.

Por parte do Turismo de Portugal, Lídia Monteiro sublinha que o trabalho tem sido feito: “Na BTL 2019 lançamos um plano estratégico para o enoturismo.” Plano esse que se enquadra na Estratégia 2027 de Turismo de Portugal e que tem como foco “criar novos pólos de interesse, melhor coesão territorial e um turismo ao longo de todo o ano”, refere a responsável, sublinhando que o enoturismo tem tido um papel fundamental neste objetivo. Além disso, este plano é um “ponto de partida” para a “construção partilhada de uma plataforma de trabalho” entre o setor “público e privado e o associativismo”, desenvolvendo um “turismo mais sustentável”, afirma. Assente em quatro eixos o plano foca-se na “valorização dos territórios vinhateiros” na “qualificação da oferta de produtos e serviços”, na “capacitação e formação” do lado do enoturismo e do turismo, e na promoção, “aumentando cada vez mais a notoriedade dos destinos”. 

A criação da APENO é motivo de grande satisfação para o Turismo de Portugal que acredita nas valências do enoturismo: “É um setor disponível para aprender, fazer melhor e tem a capacidade de acrescentar valor ao vinho e ao turismo.”

“Setor complementar e com relação direta com o turismo”

A criação de uma associação que represente o Enoturismo em Portugal é igualmente motivo de felicitação para Bernardo Gouvêa, presidente do Instituto Vinho e da Vinha (IVV) que acredita que “pode ser uma entidade de grande importância para nos ajudar a desenvolver um setor que é complementar e com uma relação direta com o turismo”. Além disso, a APENO pode potenciar a “induzir boas práticas nos agentes do turismo e do enoturismo”, na “estruturação e valorização dos destinos e das rotas do enoturismo” ou mesmo “identificar e operacionalizar projetos”, diz o responsável, acreditando que Portugal, enquanto “país pequeno” tem uma “grande diversidade” e “vantagens” a nível mundial.

Para Bernardo Gouvêa é importante que os “operadores de enoturismo e produtores” encarem este setor de uma “forma profissionalizada” e que invistam cada vez mais nesse sentido: “É fundamental ter adegas com requisitos mínimos que levem a criar experiência com nível de qualidade.” Também a aposta na comunicação é crucial, sobretudo nestes tempos, onde a “digitalização e a formação” ganham cada vez mais força, destaca o presidente do IVV. “Criar mais sinergia com a nossa riqueza turísticas”, indo ao “encontro das tendências turísticas a nível mundial” é um caminho que tem de ser feito para que Portugal seja uma “referência mundial” no enoturismo, diz.

A experiência da ViniPortugal é de que “quem nos visita fica surpreendido com os nossos vinhos que quando regressam aos países de origem procuram pelas nossas marcas”, afirma Frederico Falcão, presidente desta associação. As valias do enoturismo vão mais longe: “Quer sejam turistas, quer sejam portugueses o enoturismo cria fortes relações emocionais”, diz o responsável, sublinhando que a ViniPortugal tem reforçada cada vez mais as visitas inversas, trazendo cada vez mais “pessoas de relevo” do setor, acreditando que “quando saem daqui, saem apaixonadas”.