“As empresas turísticas precisam de tempo para se reequilibrar, reestruturar e readaptar às novas tendências”

Esta foi uma das conclusões retiradas do primeiro webinar promovido pelo 4ª Fórum de Turismo Visit Braga, dedicado ao Turismo Interno, realizado na passada sexta-feira, dia 9 de abril. Rodrigo Pinto Barros, presidente da APHORT – Associação Portuguesa de Hotelaria, Restauração e Turismo, foi um dos três oradores desta iniciativa e fez questão de sublinhar que, neste momento, a principal preocupação dos empresários é com o amanhã e na sobrevivência das suas empresas já no amanhã, pois só assim o turismo sobreviverá. O dirigente associativo considera pois que as empresas turísticas, e aqui sobretudo a hotelaria, “precisam de tempo para se reequilibrar, reestruturar e readaptar às novas tendências que já se desenham no setor”.

A mesma opinião tem Gonçalo Regalado, diretor coordenador de Marketing do Millennium bcp para as áreas de Corporate e PME’s. O orador frisou que “não é esta pandemia que nos fará esquecer a década de ouro que o turismo deu a Portugal” e que o sistema financeiro, nomeadamente a instituição bancária que representa, “olha para o turismo como uma oportunidade”. Para o responsável, o turismo precisa de tempo, de tesouraria, de cash-flow imediato, de liquidez. “É tempo de o país dar ao turismo”, defende, acrescentando que o setor deve “estar na agenda do programa de investimento do país com o peso que tinha em 2019”. E vai mais longe: “O turismo não pode ser o parente pobre do Portugal 2030, como o foi do Portugal 2020”.

Referindo-se concretamente às moratórias, que para as empresas terminam no mês de setembro, Gonçalo Regalado explica que a grande maioria das empresas que recorreu a este apoio o fez por uma questão preventiva e de gestão, e não por problemas de cash-flow imediato. Mas defende que é fundamental conceder mais moratórias e mais prorrogações das mesmas, e que os bancos possam “acomodar com tempo estes procedimentos”. O responsável do Millenium bcp frisa que “cada empresa deve poder sair (das moratórias) no seu tempo, em função do seu cash-flow”.

O presidente da APHORT reconhece o apoio da parte financeira mas lamenta que a linha de exportação às empresas exportadoras não tenha chegado efetivamente ao turismo. “Já pedimos o reforço e o Estado está a estudar”, explica. Além disso, ponta o dedo à lentidão dos processos e burocracia no que diz respeito à chegada dos apoios aos empresários. Quanto às moratórias, Rodrigo Pinto Barros é perentório: “o setor precisa de moratórias a dois ou três anos”, e o Governo, diz, tem de olhar “para o setor de forma diferenciada, criando apoios exclusivos e específicos”.

O terceiro participante deste webinar foi Luís Pedro Martins, presidente do Turismo do Porto e Norte de Portugal, que nesta matéria lembrou que a linha de apoio à tesouraria do Turismo de Portugal teve um “enorme sucesso”. Já do lado da banca, o orador defende que “muitas vezes, os tempos não são compatíveis com as exigências das empresas”. E sublinha que “o Governo tem que ter uma atenção muito especial para com o setor do turismo”, lembrando que os empresários têm mostrado resiliência e mantido postos de trabalho mas com “muitas dificuldades”. Não compreende por isso o facto de o PRR não contemplar este setor, quando, por exemplo, em Espanha, os apoios atingem os 10 mil milhões de euros e em Itália os oito mil milhões de euros, só para o turismo.

Já o representante do Millennium bcp recorda que Portugal vai receber, em 10 anos, 61 mil milhões de euros de incentivos para a retoma económica, que obrigam a 100 mil milhões de euros de investimento, porque a taxa de incentivo média dos fundos europeus ronda os 60%. “Estamos a falar de 50% do PIB em 10 anos, vamos ter que investir 10 mil milhões de euros por ano, um valor absolutamente incomparável com o que já tivemos”. Portanto, defende, “temos que ser muito rigorosos, muito criteriosos e muito justos na aplicação destes fundos”, e explica que se formos “céleres e ágeis e muito justos na atribuição dos fundos, e se dermos aos bancos a oportunidade e a possibilidade de acelerar estes projetos com liquidez, teremos uma boa solução para sairmos rapidamente desta crise”.

Algo com que Luís Pedro Martins concorda em absoluto mas não deixa de questionar: “será fundamental saber quem vai fazer a gestão, por exemplo, do PRR”. E explicita: “Se for uma gestão centralizada, vai correr de uma forma; se for uma gestão regionalizada poderá correr, na minha opinião, melhor”.