Burel Mountain Hotels: hotéis de destino 100% portugueses
Promover o turismo no interior do país, dando visibilidade à região da Serra da Estrela e ao seu legado histórico, comunitário, cultural e natural é a grande missão do grupo Burel Mountain Hotels. Fundado há mais de uma década por Isabel Costa e João Tomás, o grupo conta com projetos que estão intrinsecamente ligados à vida da Serra da Estrela, nomeadamente a montanha e as suas comunidades; a natureza intocável, que é hoje Património Classificado pela UNESCO; e o burel, tecido histórico de lã que representa a cultura mais ancestral da região e que está bem presente nos seus hotéis, através da decoração e arquitetura.
Tudo começou em 2006, com a Casa das Penhas Douradas, um hotel de 4 estrelas situado a 1500 metros de altitude, na estância de montanha das Penhas Douradas, que foi recuperada a partir de um antigo sanatório. Em 2018, juntou-se à “família” a Casa de São Lourenço, uma unidade de 5 estrelas localizada a 1250 metros de altitude, também requalificada, e que foi antes uma das primeiras e mais emblemáticas Pousadas de Portugal. Desde 2012 surge a Burel Factory, uma fábrica de lanifícios com máquinas e conhecimentos ancestrais que foi restaurada e que hoje assegura que “o conhecimento da lã e da arte de uma indústria feita à mão permaneça na nossa comunidade e se transmita às novas gerações”, explica o empresário. Na prática, houve a recuperação de uma empresa local insolvente, o grupo reempregou os seus trabalhadores e duplicou-os, e garantiu que não morresse o conhecimento ancestral dos lanifícios na vila.
A Burel Factory confere ao todo, com a endogenia do burel e a sua relação centenária com a lã, uma coerência e uma diferenciação que garantem um caracter absolutamente inovador aos projetos, valorizando uma tradição genuína no interior do país, contribuindo com muita originalidade e beleza para a coerência e autenticidade dos projetos, transposta para a decoração dos interiores dos hotéis. “E é este o fio que cose e unifica os nossos projetos”, remata.
Os projetos Burel Mountain Hotels têm pois como ambição incentivar a descoberta de uma região no interior do país através da dinamização de atividades de natureza
Os projetos Burel Mountain Hotels têm pois como ambição incentivar a descoberta de uma região no interior do país através da dinamização de atividades de natureza, além de dar a conhecer as endemias, mistérios e lugares remotos que a Serra da Estrela tem e sempre terá, e divulgar as artesanias, a história, as comunidades e as tradições locais, a pastorícia e todas as atividades conexas (o pastoreio, a transumância, a tosquia, o queijo da Serra…), o burel e os tecelões. No fundo, resume João Tomás, “dando voz e visibilidade ao seu estilo de vida e artes ancestrais, permitindo que os hóspedes com eles interajam e enriqueçam, conhecendo a sua mestria, as suas artes e ofícios”.
O Turismo aqui desenvolvido, que é de Montanha e Industrial, é um instrumento que anima e dá uma grande coerência aos projetos hoteleiro e industrial.
“hoje o turista tradicional, apressado e «short breaker», começa a dar lugar ao turista «viajante», «peregrino», que viaja sem pressas, que procura ver e conhecer melhor a singularidades de todas estas novas realidades, raras e, por isso, valiosas, procurando em cada viagem caminhos de paz, de conhecimento e aperfeiçoamento pessoal”
O fundador dos Burel Mountain Hotels lembra que “hoje o turista tradicional, apressado e «short breaker», começa a dar lugar ao turista «viajante», «peregrino», que viaja sem pressas, que procura ver e conhecer melhor a singularidades de todas estas novas realidades, raras e, por isso, valiosas, procurando em cada viagem caminhos de paz, de conhecimento e aperfeiçoamento pessoal”. Sem dúvida, diz, que esta “é uma tendência futura do turismo”.
E é precisamente esta tendência que os Burel Mountain Hotels procuram dar resposta, através de uma oferta diferenciadora no país. Inseridos no panorama natural da montanha, o produto mais endógeno da Serra da Estrela, as unidades incentivam a valorização e descoberta do Parque Natural da Serra da Estrela e do Geoparque Mundial da UNESCO, em parceria com a equipa do Geopark na realização de atividades.
O interior consagra a lã e o burel, a cultura e a arte num conceito “100% português”, um dos motivos que diferenciam os hotéis e lhes garantem um carácter inovador
A arquitetura homenageia a paisagem, com edifícios voltados para a beleza da montanha. O interior consagra a lã e o burel, a cultura e a arte num conceito “100% português”, um dos motivos que diferenciam os hotéis e lhes garantem um carácter inovador pela audácia de reavivar e dar mais valor a uma tradição tão genuinamente intrínseca da montanha mais icónica do país.
Investir no interior do país
Mas a verdade é que investir em Portugal não é fácil, e mais difícil ainda se torna investir no interior. Isso mesmo admite o fundador dos Burel Mountain Hotels que recorda que não é a distância ou o facto de serem locais remotos que fazem parte do problema, sendo aliás “uma oportunidade e uma tendência de um turismo que valoriza a natureza, a montanha e a singularidade das paisagens e das comunidades”. Mas, acrescenta, “o custo do acesso é um problema: portagens elevadas, pouca qualidade dos comboios que ainda não são alternativa, inexistência de uma rede de transportes públicos na região”.
“a principal dificuldade que sentimos está na enorme concentração do turismo nas grandes cidades e no litoral, em estadias mais curtas, estando a presença dos turistas estrangeiros no interior limitada a 5% do universo desses turistas. É um grande problema”
Não esquecer o custo do desconhecimento do interior: “a principal dificuldade que sentimos está na enorme concentração do turismo nas grandes cidades e no litoral, em estadias mais curtas, estando a presença dos turistas estrangeiros no interior limitada a 5% do universo desses turistas. É um grande problema”, afiança o empresário.
Por outro lado, o acesso a mão-de-obra mais qualificada é muito mais difícil do que no litoral ou nas grandes cidades, reconhece João Tomás. E “o valor dos salários sobe no interior para vencer a resistência da mudança, apesar dos hotéis terem metade das taxas de ocupação das grandes cidades”, lamenta. Outro custo é a habitação, suportado pelo grupo com arrendamento de casas para os colaboradores, para que a sua vinda para o interior seja mais atrativa. E as dificuldades continuam, diz, chamando a atenção para a escassez dos transportes públicos que dificultam a mobilidade das pessoas dentro da Região ou a falta de creches e de apoios pré-escolares que dificultam o emprego dos pais com filhos menores ou bebés.
“O interior tem enormes fragilidades e necessita de políticas claramente discriminatórias, o que não acontecido com a intensidade desejável.
“O interior tem enormes fragilidades e necessita de políticas claramente discriminatórias, o que não acontecido com a intensidade desejável. O peso da carga fiscal, para empresas e trabalhadores, é insuportável, sobretudo no interior, que sofre os efeitos da «baixa densidade» e suporta os enormes «custos de contexto»” referidos. A igualdade (entre empresas do litoral e do interior) é uma grande injustiça”, alerta João Tomás.
“Temos todas as condições naturais, mas ainda não encontrámos um modelo de gestão para resolver este tema”
Mais concretamente, a região da Serra da Estrela continua a ser uma região não integrada economicamente, repartida por pequenos municípios, o que não facilita a apresentação de uma oferta integrada e estruturada de um Turismo de Natureza e de Montanha, critica o empresário. “Temos todas as condições naturais, mas ainda não encontrámos um modelo de gestão para resolver este tema”, admite o empresário, adiantando que embora, seja verdade que o mercado nacional redescobriu a Serra da Estrela, na sequência da pandemia, também é verdade que o mercado português “é infelizmente escasso e a abertura aos novos mercados é absolutamente determinante”. Especialmente mercados com maior poder de compra e que valorizem Portugal, a sua autenticidade, diversidade e hospitalidade. “Os turistas procuram paragens que os surpreendam e nós temos essas características e representamos uma irresistível novidade para muitos mercados. E é nestes mercados que temos de apostar e estamos a apostar. América do Norte, Canadá, Brasil, Reino Unido, Centro e Norte da Europa, Israel, Oriente e Japão”, sublinha.
João Tomás apela a um acompanhamento “imprescindível” pelas entidades públicas nesta aposta, “revertendo uma estratégia de décadas de subordinação ao mercado ibérico, que é importante mas redundante por ser um mercado que nos conhece bem, sendo necessário realocar mais fundos a uma estratégia mais ousada e portadora de maior valor para o Turismo”
João Tomás apela a um acompanhamento “imprescindível” pelas entidades públicas nesta aposta, “revertendo uma estratégia de décadas de subordinação ao mercado ibérico, que é importante mas redundante por ser um mercado que nos conhece bem, sendo necessário realocar mais fundos a uma estratégia mais ousada e portadora de maior valor para o Turismo”. Esta “nova estratégia” iria, na opinião do fundador dos Burel Mountain Hotels, permitir um ajustamento do preço à qualidade oferecida e, consequentemente, uma maior robustez das unidades, bem como a realização de investimentos mais valorizadores e o pagamento de salários mais interessantes. “O país tem uma oferta muito qualificada. É importante agora qualificar a procura”, defende.
Mas o facto é que a Burel Mountain Hotels não desiste pois acredita ter uma missão: dar palco ao melhor da Serra da Estrela, dar voz às suas comunidades e posicioná-la em segmentos que elevem a região para a fazer progredir.
João Tomás lembra que o grupo emprega muitas pessoas com formação superior em diversas áreas, não apenas no Turismo, tornando deste modo mais rica e interessante a sua relação com a empresa e com os hóspedes, em hotéis em que a interação com os hóspedes é mais intensa e mais valorizada. Além disso, tem contribuído decisivamente para o regresso de jovens locais, para a fixação de casais novos em Manteigas, para a constituição de famílias e nascimento de bebés, um indicador muito importante de vitalidade de uma comunidade, sobretudo em comunidades de baixa densidade e envelhecidas. “No interior desfavorecido, levamos muito a sério o tema da responsabilidade social”, resume.
“Acreditamos que algo irá mudar”, afirma o empresário. E é com esta visão que João Tomás garante que o seu grupo vai continuar a inovar, como é o caso do novo projeto, nas Penhas Douradas, que surge da reabilitação da Casa Jones, no âmbito do Revive Natureza, numa parceria pioneira com o Geopark Estrela com vista a desenvolver o Turismo do Conhecimento da Serra da Estrela. “Temos plena consciência da constante necessidade de nos reinventarmos com olhos postos nas tendências do mercado, mantendo-nos, todavia, fiéis àquilo a que nos desafiámos desde o início – a valorização da região, da Serra da Estrela, das endogenias, do que temos diferente, das tradições e das comunidades que a habitam. Há sempre coisas novas para ver, lugares para descobrir, e pessoas especiais para conhecer”, conclui João Tomás.
Por Inês Gromicho. Publicado na edição 345 da Ambitur.