Captação de eventos exige “necessidades de mudança” com a “janela de oportunidade” do Digital

A “Captação de Eventos” foi outro dos temas debatidos no XVI Congresso da ADHP – Associação dos Diretores de Hotéis de Portugal, na semana passada, em Évora. O painel dedicado ao assunto contou com a “visão” do Turismo de Portugal, APECATE, APEFE – Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos e ABVP – Associação de Bloggers de Viagem Portugueses. Todos concordam que os eventos e congressos precisam de uma “mudança” onde o digital fará toda a diferença. 

Turismo de Portugal: “Tínhamos 100 eventos alocados para Portugal”

É certo que “a capacidade hoteleira existe e os Centros de Congresso mantêm-se”, como nota Joaquim Pires, head of M&I do Turismo de Portugal, “só temos de tentar perceber os sinais que vêm do exterior para que melhor nos possamos adaptar”. Um dos trabalhos do Turismo de Portugal consistiu em “tentar percecionar quais os valores diferenciadores de Portugal enquanto destino para a realização de eventos” e depois criar um “programa de apoio à captação de eventos e congressos internacionais” que, entretanto, ficou desatualizado e que Joaquim Pires avança estar a ser alvo de “reformulações” no sentido de “monitorizar as novas exigências e desafios do presente tempo e dos futuros”.

O Turismo de Portugal criou também um website dedicado aos eventos – Meetings in Portugal – que funciona como um “agregador da oferta turística nacional” e que, em tempos de pandemia, “ajuda a agilizar este distanciamento” necessário. O site conta já com 600 registos de empresas associadas que ali divulgam os seus eventos.

Joaquim Pires revela que “tínhamos alocados 100 eventos para Portugal” este ano, num investimento de um milhão de euros, cujos organizadores “tentaram adiar e não cancelar”, pelo que grande parte deles passou para a agenda de 2021. Assim, o Turismo de Portugal irá adiantar 980 mil euros de apoio para esses eventos.

APECATE: “Através do digital alcançamos o Mundo”

A APECATE – Associação Portuguesa de Empresas de Congressos, Animação Turística e Eventos já sentia que existiam “necessidades de mudança” no setor dos eventos e a pandemia é uma “prova dura” disso mesmo, frisa António Marques Vidal. Para a APECATE é uma “preocupação” o clima de pânico em que vivemos, que o presidente considera ser “uma mensagem irracional” que não devia ser transmitida, além de “regras que mudam a cada 15 dias não por serem rigorosamente validades mas por «achismos»”, critica.

António Marques Vidal adianta que já existia uma “mudança de tendência da necessidade de conteúdos” por parte dos clientes da organização de eventos que obriga as organizações a “ser cada vez mais transversais e incluir nos eventos e congressos mais áreas de saber e atividades económicas”, com maior grau de especialização, pelo que importa oferecer “conteúdos que sejam efetivamente procurados e válidos”. Atualmente “através do digital alcançamos o mundo”, adianta. Anteriormente, “era difícil receber em Portugal congressos para 20 mil pessoas e agora podemos atingir mais de 100 mil”. Este é o novo paradigma do setor.

Além disso, o presidente da APECATE nota ainda que “é importante que os territórios pensem nos seus eventos” e que não os repliquem apenas, pensando-se em “modelos associados a uma tipologia de território”. Uma outra necessidade é “mudar os critérios de apoios” das room nights para a avaliação do conteúdo dos eventos e outros que privilegiem as cadeias de valor desta atividade. Tudo para que “Portugal continue a ser a vanguarda” no setor dos eventos e congressos.

APEFE: “Os eventos registam uma quebra na ordem dos 65%”

Já a APEFE – Associação de Promotores de Espetáculos, Festivais e Eventos, com apenas três anos de existência, “nunca imaginaria que poderíamos estar a viver um período como este, desafiador e de grande instabilidade”, conta o presidente Jorge Lopes. Apesar de recente, a Associação conta já com cerca de 53 promotores privados de eventos de grande dimensão (ex. NOS Alive e Rock in Rio) que, em 2019, foram responsáveis por mais de 50% dos bilhetes vendidos em Portugal.

Jorge Lopes partilha que os eventos registam já uma quebra na ordem dos 65% e que as receitas médias na maior parte dos eventos ainda realizados está “muito longe dos 80%”, face ao ano anterior. Não esquecer também que muitos dos recintos têm agora uma “lotação máxima de 50% ou menos”, o que influencia muito os resultados.

O responsável considera, ainda, que o digital “não é uma coisa do futuro mas do presente” embora com um “caminho longo” a percorrer e para o qual “não estávamos preparados”. Apesar de constituir uma “janela de oportunidade incrível” pode “deixar de o ser quando é desvalorizado e usado de forma não atrativa”, alerta. Na perspetiva do presidente da APEFE, a retoma do setor deve ser “muito mais pensada e avaliada”. Querem retomar para quem, o quê e como?

ABVP: “A importância dos bloggers de viagem no turismo”

Catarina Leonardo decidiu despedir-se, há cerca de quatro anos, e tornar-se blogger de viagens em família (“Wandering Life“). Aquelas que faz com o seu marido e a filha de apenas cinco anos. Fundou no ano passado a ABVP – Associação de Bloggers de Viagem Portugueses, que conta já com 73 bloggers, depois de refletir que “”fazia sentido haver uma comunidade forte onde nos conseguíssemos entreajudar e valorizar o nosso trabalho” além de “mostrar a importância que os bloggers de viagem têm no turismo”.

A blogger comenta que “ser blogger hoje em dia já começa a ser entendido em Portugal, porque lá fora já é mais do que compreendido enquanto profissão”. Depois, há quem coloque “no mesmo saco” bloggers, influenciadores e instagrammers, o que para si não faz sentido. E por isso, na ABVP, “queremos valorizar o trabalho e criar uma ética” assim como atribuir um “cunho de qualidade” para que “o mercado mais facilmente possa diferenciar o trabalho de cada um destes profissionais”.

Mas a pergunta que, muitas vezes, se coloca é se alguém ainda lê blogs: para a profissional, basta “googlar” qualquer destino turístico para se perceber que as primeiras páginas que surgem na pesquisa, com locais a visitar nesse destino, são artigos de blogs. Por vezes, até primeiro do que o site institucional. A resposta é então “sim, os blogs são muito conhecidos e cada vez mais”, afirma Catarina Leonardo. Além disso, através das redes sociais, sobretudo do Facebook que é a rede mais utilizada pelos portugueses e mundo, “criámos uma comunidade que nos segue” e uma “proximidade muito grande com as pessoas”.

Os blogs têm assim “impacto nas opções de viagens”, nomeadamente, nos portugueses que “acabam por ir muito aos mesmos locais”, pelo que “se há alguém a desbravar caminho e a mostrar que existem outras possibilidades interessantes, às vezes muito perto dos sítios onde vivemos” melhor ainda, assegura a blogger. Este ano a ABVP realizou a iniciativa “Eu Fico em Portugal” com a partilha de destinos nacionais por todos os bloggers da Associação, com o objetivo de ajudar o turismo interno.