Carlos Moedas desafia hotelaria: “Estamos numa posição, como nenhum outro país, de liderar”

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa (CML), Carlos Moedas, foi convidado pela Associação da Hotelaria de Portugal (AHP), para um almoço com os seus associados, e desde o início que deixou bem claro “que a relação entre a CML e os hoteleiros é importantíssima para o país e para Lisboa”. Mas foi mais longe, desafiou os hoteleiros da região a acelerarem o seu posicionamento contra as alterações climáticas, acompanhando o esforço que a capital do país fará até 2026, num investimento a rondar os 500 milhões de euros.

[blockquote style=”1″]“Lisboa tem uma oportunidade única de se posicionar naquilo que é um destino na nossa luta contra as alterações climáticas. Lisboa tem que ser essa Capital Europeia e a hotelaria tem de ser um nosso parceiro nessa luta pela sustentabilidade”[/blockquote]

A visão de Carlos Moedas sobre a hotelaria, o turismo e a cidade, é baseada em três conceitos: sustentabilidade, diversidade e estabilidade. “Se os tivermos alinhados temos um verdadeiro futuro”, acredita o responsável. Para o presidente da edilidade, “Lisboa tem uma oportunidade única de se posicionar naquilo que é um destino na nossa luta contra as alterações climáticas. Lisboa tem que ser essa Capital Europeia e a hotelaria tem de ser um nosso parceiro nessa luta pela sustentabilidade”. Concretizando, Carlos Moedas relembra que “temos agora uma responsabilidade enorme porque Lisboa foi escolhida pela Comissão Europeia para ser uma das 100 cidades que vai fazer essa transformação até 2030. O que aqui quero dar é o paralelo entre o que nós estamos a fazer e o que a hotelaria pode fazer. Em Lisboa, até 2026, temos 36% do nosso orçamento para a área da ação climática, quase 500 milhões de euros. Começámos pelos transportes públicos gratuitos para os mais novos e mais velhos, a iluminação das ruas, onde poderemos ter uma eficiência de 80% de poupança e a rega dos jardins que hoje é feita com água potável. Vamos fazer a nossa parte, para ter mais ambição na cidade. Mas esta tem de ser acompanhada pelo vosso setor. Pois muitas vezes as pessoas não percebem o que estamos a fazer nesta área”.

[blockquote style=”1″]“do meu lado aquilo que eu quero é premiar aqueles que são mais verdes e que estão a promover a utilização dessas energias limpas e que ajudem a implementar este novo plano para a cidade. Os destinos turísticos futuros mais competitivos serão os mais ecológicos. Estamos numa posição, como nenhum outro país, de liderar.[/blockquote]

O responsável foi mesmo mais longe, exemplificando onde os empresários devem apostar. “Para a hotelaria posso dar exemplos concretos do que podem fazer, por exemplo, eliminar os plásticos, utilização de detergentes recicláveis, gestão do desperdício alimentar e utilização de produtos locais, em detrimento dos internacionais”, acrescentou o responsável. Para o autarca, “do meu lado aquilo que eu quero é premiar aqueles que são mais verdes e que estão a promover a utilização dessas energias limpas e que ajudem a implementar este novo plano para a cidade. Os destinos turísticos futuros mais competitivos serão os mais ecológicos. Estamos numa posição, como nenhum outro país, de liderar. Esta pode ser feita pelo vosso setor. Conto com isso, pois este é o pilar da minha visão para o turismo”.

Continuando, o presidente da Câmara Municipal de Lisboa considera que o segundo pilar da sua visão é a diversidade, “que para mim é a grande receita para a inovação”. Ou seja, “a diversidade na hotelaria é a criação de novas marcas, produtos, diversificação da oferta, mas também a diversificação dos conteúdos. Aqui agradeço, pois visitei o Museu do Tesouro Real, pago pelo Fundo de Turismo e pela Associação de Turismo de Lisboa. Vamos ter um dos museus mais extraordinários da Europa nesta cidade, único na Europa, que vai mostrar o tesouro real português, que ninguém na minha geração alguma vez viu, porque o turismo assim o permitiu, com a taxa turística. Os conteúdos culturais vêm do vosso esforço”.

Carlos Moedas acrescenta que “a diversidade passa pela criatividade em saber o que vão ser os hotéis do futuro. Qual a experiência que as pessoas querem viver? O que querem as novas gerações? Temos tido na Câmara Municipal de Lisboa nos últimos meses muitos exemplos inovadores, pessoas que querem fazer restaurantes em elétricos, táxis náuticos, todos os investimentos e projetos da vossa área são bem-vindos. O vosso setor é o da inovação. Agora, a evolução da hotelaria vai ser dada pela inovação e tecnologia, juntando a vossa capacidade e tradição. Vamos continuar a ajudar na Startup Lisboa, agora com uma nova liderança, a investir num programa específico para a hotelaria e turismo, para a inovação, vamos ajudar muito mais empresas nos próximos meses”.

Por fim, indica que “para mim um dos princípios mais importantes para o país e para o turismo é o da estabilidade política e do país. Mas não posso fazê-lo sozinho, quando tenho na própria Câmara Municipal vereadores a proibir de um dia para o outro o Alojamento Local. Não posso ter a oposição a não deixar avançar um projeto de um hotel, no Convento das Mónicas, quando o promotor cumpriu todas as regras. Na semana passada, aconteceu esta medida de certa forma ideológica, não fundamentada, relativamente à Avenida da Liberdade, sem ninguém ser ouvido, nem hoteleiros, nem lojistas. Não há sustentação do impacto económico, nem financeiro. Não vou implementar esta medida enquanto não tiver a prova de que é uma medida boa para a cidade e que não tem um efeito económico negativo, sobretudo num tempo de recuperação económica. Se fecharmos a Avenida da Liberdade aos fins-de-semana e feriados, abrangemos 66 dias por ano em que o negócio, as lojas e restaurantes terão uma limitação ao contratar as pessoas e menos capacidade para se pagar salários”.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa destacou ainda, durante a sua intervenção, que no que “diz respeito à capacidade da Câmara Municipal de Lisboa tomar decisões racionais e rápidas relativamente aos licenciamentos, temos um plano relativamente a esta matéria. Mas peço alguma paciência para a resolução de casos passados. No entanto, temos de ter uma celeridade nos projetos urbanísticos”. Informa o orador que “conseguimos fazer e estamos a criar um Centro de Formação para todos aqueles que precisem na preparação dos dossiers de licenciamento, pois 70% dos processos que chegam à Câmara Municipal de Lisboa estão mal instruídos e isso leva a que estes parem oito a 10 semanas. Com este Centro de Formação a que chamamos a Academia do Urbanismo de Lisboa vamos poder ter presencialmente (os promotores), num primeiro passo, que é antes de enviarem o processo instruí-lo connosco, pretende-se desta forma um acelerar dos mesmos”. Acrescenta Carlos Moedas que depois “lançámos pela primeira vez a «celeridade das decisões na Câmara» em que criámos uma Comissão de Concertação sobre os projetos, evitando que os projetos vão de departamento em departamento, mas que os departamentos se sentem à volta dos projetos. Isto é uma mudança que pretende uma celeridade muito grande nos projetos. E, por fim, a digitalização dos projetos. Sei que as queixas relativamente ao urbanismo, na Câmara, são muitas e bem fundamentadas”.

Em jeito de mensagem final, considera o responsável que “a Câmara Municipal não pode ser gerida por se gostar mais de um ou outro projeto. Respeitamos leis, mas estas têm de ser claras para todos. Vão ter que me dar tempo. Estamos a fazer um caminho sem precedentes”.