Centro de Portugal: 72 horas de sensações aventureiras

Antunes abriu a janela do escritório e deixou entrar a brisa morna do Verão. “Estás a deixar sair o ar-condicionado”, alguém disse num dos cubículos ao seu lado. Antunes ignorou a advertência do colega. Estava farto do quotidiano rotineiro, de estar fechado em quatro paredes, a inspirar e expirar as mesmas tarefas, os mesmos gestos, a mesma aragem artificial. Precisava de viver novas experiências e a chegada desta estação era o estímulo perfeito. Tirou três dias de folga e planificou toda a viagem na véspera. Queria sentir-se espontâneo. Queria sentir-se aventureiro. Espalhou o mapa no chão da sua sala e rapidamente decidiu que ia explorar a Reserva Natural da Serra da Malcata, uma densa mancha verde entre os concelhos de Penamacor e Sabugal. Este território é já certificado com a Carta Europeia de Turismo Sustentável (CETS) “Gata-Malcata/Terras do Lince”, nomeadamente, os concelhos de Almeida – Sabugal – Penamacor, uma evidência das suas boas práticas e contributo para um turismo sustentável.

Imaginava-se uma espécie de arqueólogo aventureiro a percorrer território inexplorado, recheado por uma floresta mediterrânica e pela lenda do lince ibérico. A reserva natural foi criada em 1981 para proteção desta espécie em vias de extinção. Nos anos 90 haviam cerca de mil linces-ibéricos na Península Ibérica, distribuídos na cordilheira Meseta, a mais antiga cadeia montanhosa da península que no território nacional se estende pela Serra da Malcata. Hoje, a presença deste felino selvagem por estes lados é mais rara. A espécie está a ser reintroduzida na zona do Vale do Guadiana e prevê-se que esta região seja alvo do mesmo processo em 2022.

No entanto, a acentuada ligação do animal a este território é suficiente para revestir o seu plano de simbolismo aventureiro. Meteu a máquina fotográfica e a teleobjetiva na mochila, juntamente com uma bússola, binóculos e um caderno de apontamentos. Ia ser uma espécie de safari fotográfico e se não capturasse o lince nas suas objetivas, tinha outros alvos interessantes: a raposa-vermelha, o javali, a lontra, o corço, o gato-bravo, a gineta, o esquilo-vermelho, a cobra-rateira, o cágado, o lagarto-de-água, a cegonha preta, o açor, o grifo e muitas outras espécies selvagens que circulam livremente nos 16 mil hectares da reserva natural.

No entanto, antes de se aventurar nos trilhos dessa mata mediterrânica repleta de medronheiros, carvalhos, azinheiras e pinheiros-bravos, Antunes ia fazer um pequeno desvio. Ia rumar ao Sul, cerca de 50 quilómetros, em direção a uma aldeia alojada na encosta de uma montanha, a 480 metros de altitude. Lá, em Penha Garcia (Idanha-a-Nova), esperava-o a Rota dos Fósseis.

A Rota dos Fósseis – que faz parte do Geoparque Naturtejo, o primeiro geoparque português a integrar a rede UNESCO – tem início no castelo medieval que se ergue no topo de uma montanha escarpada e estende-se por todo o vale, rodeado por imponentes arribas cheias de vestígios que Antunes está ansioso por investigar. Acordou ao amanhecer, meteu a mochila no carro, o chapéu na cabeça, sorriu a si próprio no espelho retrovisor e arrancou.