Centro de Portugal: As 5 cidades que fazem parte da Rede de Cidades Criativas da UNESCO

Caldas da Rainha, Covilhã, Idanha-a-Nova, Leiria e Óbidos integram a Rede de Cidades Criativas criada em 2004.

Na Região Centro de Portugal há cinco destinos que fazem parte da Rede de Cidades Criativas da UNESCO, uma iniciativa que nasceu em 2004 e que hoje é composta por 246 cidades em oito áreas criativas – artesanato, arte folclórica, design, cinema, gastronomia, literatura, media e música. Em comum, estas cidades têm, como objetivo, a utilização da cultura e da criatividade como instrumentos que as transformam em locais seguros, inclusivos, sustentáveis e preparados para o futuro. E assumem o compromisso de partilhar experiências, conhecimentos e boas práticas criativas, bem como desenvolver parcerias envolvendo os setores público e privado, associações, comunidade civil, organizações e instituições culturais.

No Centro de Portugal são cinco as cidades que integram este projeto. Na Região do Oeste, Caldas da Rainha foi distinguida na categoria de Artesanato e das Artes Populares, e a Vila de Óbidos na categoria de Literatura. Na Serra da Estrela, a Covilhã integra a categoria do Design. Na Beira Baixa e na Região de Leiria, as cidades de Idanha-a-Nova e Leiria, respetivamente, são ambas Cidades Criativas da Música.

Caldas da Rainha, Cidade Criativa do Artesanato e Artes Populares

Desde 2019 que Caldas da Rainha integra a Rede de Cidades Criativas da UNESCO. Conhecida pelos seus produtos cerâmicos centenários, é também aqui que surgem nomes de artistas como Rafael Bordalo Pinheiro, já no século XIX, que se tornou famoso pelas suas ilustrações, caricaturas, esculturas e cerâmica. Um século depois, a inovação chega às Caldas com a criação da SECLA e o conjunto de ceramistas que ali desenvolveram o seu trabalho, colocando a cidade no mapa da cerâmica contemporânea, tais como Hansi Staël, Thomaz de Mello (Tom), Júlio Pomar, Alice Jorge, Ferreira da Silva, Ian Hird ou Herculano Elias, entre muitos outros. Nos dias de hoje, memória e inovação andam de mãos dadas, com o design contemporâneo a abraçar os motivos naturalistas, figurativos e satíricos, sentindo-se a presença da cerâmica por toda a cidade, nos edifícios, lojas e museus.

Conhecer a cidade na sua vertente criativa, convida à descoberta do património termal, através de um percurso pela mão de Rafael Bordalo Pinheiro, através das suas obras que se vão encontrando pelas ruas da cidade, num percurso que se faz de arte e património, pelos lugares mais emblemáticos. A não perder também alguns museus de variados estilos artísticos, como o Museu da Cerâmica, o Museu Malhoa e o Centro de Artes. E os turistas podem ainda participar em workshops e dias abertos promovidos por ceramistas locais, para assim aprenderem esta arte local.

Covilhã, Cidade Criativa do Design

A Covilhã é a primeira cidade em Portugal a integrar a categoria Cidade Criativa do Design na Rede UNESCO, em 2021. O destino convida a percorrer as rotas de Arte Urbana e Arte Nova, a descobrir Judiarias, a conhecer o Património Industrial e a Rota da Lã. Mas é em espaços como o New Hand Lab e no Museu Nacional dos Lanifícios da Universidade da Beira Interior que se promove a criatividade, a inovação e o empreendedorismo assente no respeito pela história e pela identidade cultural do seu povo.

A integração da Covilhã nesta Rede explica-se pela história local e o orgulho coletivo de um passado indissociável do vanguardismo da indústria têxtil e dos lanifícios. Sem descurar o seu passado como centro industrial, soube adaptar o património fabril a novas funções e inovar em processos e produtos, mantendo sempre uma identidade associada ao que de melhor se produz no âmbito da indústria têxtil e dos lanifícios. O Festival WOOL presta homenagem ao passado industrial da Covilhã e cria um autêntico “museu a céu aberto”, com obras de artistas como Vhils, Bordalo II, Pantónio, Mistaker Maker, Bosoletti, entre muitos outros.

É também cidade-berço de navegadores e cosmógrafos como Pêro da Covilhã, os irmãos Francisco e Ruy Faleiro, e o Mestre José Vizinho, entre outras figuras relevantes dos séculos XV a XVII. Os espaços culturais, maioritariamente gratuitos, divulgam esse passado através do recurso a tecnologias e formas de expor inovadoras e contemporâneas. Exemplos disso são o Museu da Covilhã, o Centro de Inovação Empresarial da Covilhã e o NEST – Centro de Inovação do Turismo, entre outros espaços onde se promove a criatividade e a inovação.

Idanha-a-Nova, Cidade Criativa da Música

A primeira Cidade Criativa da Música em Portugal foi Idanha-a-Nova, que em 2015 integrou a Rede da UNESCO, tendo no Adufe, símbolo da riqueza e tradição musical do concelho, o “porta-voz” do projeto. Com uma identidade intimamente ligada à música, este destino aposta em infraestruturas culturais, desenvolve o ensino da música e o fabrico e restauração de instrumentos musicais, e acolhe ainda vários grupos tradicionais, promovendo, ao longo do ano, muitos eventos ligados à música, desde a eletrónica mais moderna aos sons tradicionais, passando pelo registo erudito. O Boom Festival, o Fora do Lugar – Festival Internacional de Músicas Antigas e o Eco Festival Salva a Terra são alguns dos mais representativos.

Quando estiver na cidade, não pode perder o Centro Cultural Raiano, o “centro estratégico” de toda a programação cultural, e o Centro de Artes Tradicionais, onde poderá viver a experiência de construção de Adufes.

Leiria, Cidade Criativa da Música (na foto principal)

Foi em Leiria que, no século XIII, o rei trovador, D. Dinis, compôs as cantigas de amigo que marcaram o cancioneiro galaico-português. Do Teatro D. Maria Pia, desde os finais do séc. XIX, ao atual Orfeão de Leiria, por aqui passaram os grandes concertos das principais salas europeias e os melhores intérpretes nacionais e internacionais, da música e do bailado. Esta presença constante da música na vida dos leirienses é em grande parte responsável pela sensibilidade artística, pela capacidade criativa e predisposição para consumir cultura que os caracteriza. Aqui têm nascido e crescido músicos, bailarinos, escritores e artistas de várias áreas, bem como projetos musicais inovadores e emblemáticos, como o projeto Ópera na Prisão ou os Concertos para Bebés.

A criatividade na utilização do espaço público é um dos grandes trunfos desta cidade criativa da música, tornando a vivência de cada espetáculo ainda mais única e irrepetível. As praças, os jardins, o Rio Lis, as ruas e as salas de espetáculos são lugares vivos e dinâmicos, de encontro de pessoas, onde se vive cultura através de eventos como o Festival A Porta, o Entremuralhas ou a Música em Leiria, ou pelas bandas pop e rock, as bandas filarmónicas centenárias, os coros e os grupos folclórico.

Não admira pois que, em 2019, Leiria tenha integrado a Rede de Cidades Criativas da UNESCO, na área da música.

Óbidos, Cidade Criativa da Literatura

A vila de Óbidos integra a Rede de Cidades Criativas da UNESCO desde 2015, na categoria de Cidade Criativa da Literatura. Entre os vários projetos culturais que contribuíram para esta classificação, destaca-se o “Óbidos Vila Literária” evento cultural que nasceu, em 2011, no pressuposto de criar uma Rede de Livrarias dotadas de espaços específicos para organização de exposições de artes, concertos, conferências e performances.

O projeto Óbidos Vila Literária abriu caminho à regeneração do centro histórico e a vila afirmou-se, com a sua coleção de eventos – dos mais populares, como o mercado medieval aos mais eruditos, como a ópera – como um gigante mediático com uma capacidade estonteante de mobilização.
Com a integração na Rede de Cidades Criativas, velhos espaços, abandonados, encontraram uma nova função, e daí resultou a abertura de várias livrarias temáticas. Em 2012, foi a vez da maior livraria portuguesa dentro e uma igreja abrir portas, numa clara aposta do município de olhar para os livros e a literatura como uma das principais forças de desenvolvimento económico do território.